2019: um ano intenso e emocionante para a aviação brasileira e mundial

Eis que chegamos ao fim de mais um ciclo. Havia bastante tempo que não víamos um ano tão agitado, com tantas mudanças e reviravoltas na aviação brasileira e mundial. Foi intenso, mas emocionante, e a você, que acompanhou tudo isso conosco, nosso muito obrigado.

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Foto de Wireman27 via Wikimedia Commons

Esperamos que os próximos parágrafos lhe ajudem a relembrar o que de mais importante aconteceu na aviação no ano de 2019.

Governo aprova venda da Embraer para a Boeing

Bem no início do ano em que a Embraer completou 50 anos, o governo de Jair Bolsonaro deu andamento ao processo iniciado no mandato de Michel Temer e aprovou a venda da divisão de jatos comerciais da Embraer para a Boeing por US$ 4,2 bilhões. Mais tarde, as empresas anunciaram que a Embraer passará a se chamar Boeing Brasil.

O acordo ainda depende de aprovação da União Europeia e espera-se que seja concluído no início de 2020.

Despedidas

O ano de 2019 também reservou algumas despedidas.

Começando pelo mais importante: as pessoas. Em janeiro nos deixou Herb Kelleher, fundador da Southwest e criador do conceito low-cost; também perdemos em maio Niki Lauda, exímio piloto automobilístico e empresário do setor aéreo; em junho, partiu Roger Béteille, um dos pais da Airbus. Em outubro, sentimos pesar pelo voo mais alto do argentino com sangue brasileiro Carlos Edo. Também perdemos colegas da aviação, anônimos mas igualmente importantes, aos quais desejamos que descansem em paz.

O adeus a Niki Lauda

Dentre as máquinas, em janeiro o mundo viu o último voo regular de passageiros operado por um Boeing 727, enquanto que, em maio, o Tupolev 134 fez seu último voo comercial. Ao longo de 2019, vimos a TAP Air Portugal aposentar o A340, a American se desfazer do MD-80 e a El Al dar adeus ao Boeing 747. Em dezembro, a Boeing produziu a última unidade do 737 NG e a entregou à KLM.

Dentre as empresas aéreas, 2019 testemunhou a quebra de algumas delas. Das mais conhecidas, citamos a Thomas Cook, que também era a mais antiga agência de viagens do mundo, além do fechamento da Aigle Azur, da eslovena Adria, e a islandesa WOW. A Avianca Brasil também deu adeus aos céus, falaremos dela adiante.

A340 da TAP

Regras do Setor Aéreo

Em abril, um marco para a aviação brasileira tomou forma com a aprovação pelo Congresso Nacional da permissão para que as empresas brasileiras possam ter até 100% do capital nas mãos de grupos estrangeiros. A bagagem gratuita voltou aos holofotes, mas a medida caiu e as companhias continuaram permitidas a cobrar taxas de despacho de bagagem.

Na esteira dessas novas regras de mercado, várias empresas low-cost sul-americanas se interessaram em iniciar voos ao Brasil, incluindo a Flybondi, Sky e JetSmart. Mas o que chamou a atenção mesmo foi a iniciativa da Globalia, dona da Air Europa, de registrar uma nova empresa aérea no Brasil para realizar voos domésticos, ainda que isso não tenha saído do papel até agora.

Como fomento à abertura de novas rotas, vários estados brasileitos reduziram substancialmente a alíquota de ICMS sobre o combustível de aviação. A medida surtiu efeito imediato com a criação de muitas novas rotas e o lançamento dos programas de stopover das três grandes empresas aéreas nacionais.

Em paralelo, o Ministério da Infraestrutura tem se esforçado para levar adiante seu plano de privatizar a maior parte dos grandes aeroportos brasileiros.

Avião Boeing 737-800 Gol

Voos regionais da GOL

Em uma estratégia agressiva, mas também se aproveitando das reduções de impostos, a GOL se aliou à Twoflex e Passaredo para criar uma enxurrada de voos regionais no Paraná, no Rio Grande do Sul e no Ceará.

Além desses, a empresa deu início à chamada “Ponte Barra”, uma alternativa à rota Rio-SP, partindo do aeroporto de Jacarepaguá, na região da Barra da Tijuca, com aeronaves turboélices para 9 passageiros.

A crise mais grave da história da Boeing

Todo esse drama do Boeing 737 MAX, cujo aterramento ocorreu em março, e culminou na demissão de vários executivos de alto escalão, inclusive seu CEO, mostram que a falta de ética nos negócios pode tirar vidas e destruir empresas. Em meio ao escândalo das novas mensagens internas entregues ao Congresso Americano, a fabricante também anunciou que estava paralisando a fabricação do modelo.

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Centenas de 737 MAX parados

Não bastasse o MAX, o revolucionário programa 777X também sofreu atrasos, com o primeiro voo postergado em mais de oito meses, para meados de 2020, e entregas a partir de 2021. Mas, ainda assim, o 777X permanece como uma das grandes apostas da fabricante americana para virar esse jogo e estancar esse doloroso sangramento. A aeronave traz novos conceitos, como as pontas das asas dobráveis.

Envolta em tantos problemas, a empresa comemorou de maneira discreta o aniversário de 50 anos do primeiro voo do Boeing 747. Assim como o lançamento do Boeing 737 MAX 10, quase passou quase desapercebido.

Adeus à Avianca Brasil

A crise da Ocean Air, conhecida como Avianca Brasil, sensibilizou o setor aeronáutico brasileiro entre o primeiro e o segundo trimestres do ano, resultando na suspensão total de suas operações, com funcionários deixados na mão e uma disputa vexaminosa pelos seus slots em Congonhas.

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Azul na Ponte e nascimento da VoePass

Com a saída da Avianca Brasil do mercado, a disputa pelo espaço que ela deixou em Congonhas ficou acirrada. No final, a ANAC decidiu distribuir os slots mais concorridos do país entre Azul, Passaredo e MAP Linhas Aéreas.

A Azul iniciou uma ferrenha campanha contra o que chamava de duopólio da Ponte Aérea, então totalmente dominada por Gol e Latam. Procurou engajar o público com a campanha “Azul na Ponte” e alfinetou as concorrentes para, enfim, iniciar voos na rota no final de agosto. De maneira histórica, a Ponte Aérea completou 60 anos em 2019.

Por sua vez, a Passaredo anunciou a aquisição da MAP Linhas Aéreas. Pelo acordo, seria criada a marca VoePass, mas a MAP continuaria mantendo sua identidade visual e rotas. No entanto, o que se viu foi esta última abandonando a maioria de seus voos no Norte para focar no Sudeste, o que lhe rendeu críticas por parte do governo amazonense. Mais tarde, a MAP anunciava seu retorno ao Norte, a partir de dezembro.

Novos voos internacionais

Após vários anos, o Brasil viu um aumento substancial na quantidade de rotas internacionais, com o retorno da Lufthansa na rota de Munique para São Paulo; a estreia do trecho Montreal-SP pela Air Canada; o aumento das frequências da Cabo Verde Airlines na Bahia e seu debut em Porto Alegre; a estreia da Air Europa em Fortaleza; e da Norwegian e Amas Bolívia no Rio de Janeiro – a Amas também iniciou Foz do Iguaçu.

Companhias aéreas nacionais também estrearam várias novas ligações na América do Sul e Central usando suas aeronaves ou parcerias regionais, mas o voo mais exótico dessa carteira foi inaugurado pela Latam, na rota de Sâo Paulo às Ilhas Falkland (Malvinas). A Azul inaugurou um voo ligando Campinas para a cidade do Porto, em Portugal.

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A330 neo da Azul

As low-cost também debutaram no país, com a Flybondi voando para o Rio e Florianópolis; a JetSmart ligando Santiago a Salvador; e a chilena Sky também ligando o Chile à capital baiana e a Floripa.

Outros anúncios também foram feitos para o ano de 2020, com a Flybondi, JetSmart e Virgin Atlantic iniciando voos para São Paulo. Essa última promete bater de frente com British Airways e Latam na rota para Londres.

Azul estreia três novos modelos de avião no Brasil

Certamente foi um ano especial para a empresa aérea que estreou três modelos de avião no Brasil.

Em maio, a festa foi toda para a recepção do primeiro A330neo; em setembro foi a vez da Azul lançar mundialmente o E195-E2, maior avião comercial já produzido pela Embraer; e, por fim, novembro foi o mês em que chegou o primeiro Airbus A321neo.

Avião Embraer E195-E2 Azul
E195-E2 da Azul, lançamento mundial

Delta compra 20% da Latam

Em setembro, o mercado da aviação mundial chacoalhou com o anúncio da intenção de compra de 20% da Latam pela Delta Airlines, concluído em 30 de dezembro. Como que na velocidade de um raio, a empresa latina anunciou sua saída da aliança oneworld em 2020, novos acordos de codeshare com a Delta, a quebra do acordo com a American Airlines e a reestruturação do seu programa de milhagens. A Delta, igualmente rápida, anunciou a venda de sua participação na Gol Linhas Aéreas.

As primeiras empresas centenárias

Pela primeira vez na história da aviação, o mundo viu companhias aéreas tornarem-se centenárias. Primeiro foi a KLM, empresa aérea mais antiga do mundo, a completar 100 anos em setembro; depois foi a vez da Avianca Colombia chegar ao mesmo patamar em dezembro.

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KLM chega aos 100 anos

Embora não tenha chegado aos cem anos ainda, uma marca histórica não passou desapercebida, com a South African Airways completando 50 anos de voos ininterruptos ao Brasil.

Airbus nadou de braçada

O ano de ouro da fabricante europeia deveu-se ao seu próprio mérito, mas sua rival colaborou grandemente.

Com a crise da Boeing, a Airbus nadou de braçada em 2019, com o atingimento de várias marcas históricas, como o recorde de entregas num único ano, o milésimo Airbus A320neo, a produção do A320 de número 9.000 e o lançamento do sucesso meteórico de vendas A321XLR. Além disso, a família A320 tornou-se a mais vendida e também o mais voada do mundo, batendo uma marca que era dominada pelo 737 havia décadas.

A321 XLR

Por outro lado, a fabricante europeia decidiu encerrar a produção do Airbus A380 em 2021 devido à falta de novos pedidos. Em paralelo, algumas empresas aéreas como Singapore e Air France já começaram a aposentar o super-jumbo, sendo o começo do fim da icônica aeronave.

Os voos mais longos do mundo

A australiana Qantas fez bastante barulho com seus voos ultra-longos de mais de 19 horas, como parte do chamado Projeto Sunrise. Foram três voos ao todo, sendo dois de Nova Iorque e um de Londres, todos destinados a Sydney. Para tanto, alguns Boeing 787-9 foram usados como aviões-laboratório, testando as respostas do corpo humano a viagens com tamanha duração.

No começo de dezembro, a empresa decidiu que o projeto foi um sucesso e que a data para início desses voos ficou para 2023. Surpreendentemente, a empresa antecipou o anúncio da aeronave que usará para esses voos, tendo escolhido o A350-1000 com modificações nos tanques de combustível.

Avião Boeing 787 Qantas

Os heróis russos

Na manhã de 15 de agosto, acordamos aqui no Brasil com a notícia de mais um feito heroico, quando dois pilotos russos conseguiram planar seu Airbus A321, com 233 pessoas a bordo, por vários metros após terem perdido ambos os motores numa colisão com pássaros. Mais tarde, os comandantes foram condecorados como heróis em seu país.

Felizmente, o ano de 2019 teve pouquíssimos acidentes graves, sendo um dos anos mais seguros da história da aviação (essa estatística será divulgada no primeiro trimestre de 2020).

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Os heróis russos
Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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