Em 22 de Fevereiro de 1987, a Airbus realizava o primeiro voo do seu novo avião, o A320. A data foi marcante não apenas pela nova aeronave, mas também por ser um avião com novas tecnologias do nariz à cauda, e por entrar na briga de mercado contra o clássico Boeing 737.
Desde então a aeronave foi sempre um centro de discussões, tanto entre público especializado quanto comum, devido a sua marcante filosofia de automatização. Hoje a família A320, composta pelo A318, A319, A320 e A321, é um sucesso e lidera o mercado dos aviões de corredor único em número de encomendas e entregas.
Tudo começou em 1977, após tentativas frustadas de diversas empresas aeronáuticas europeias se juntarem para lançar um concorrente do Boeing 737. Naquele ano, as empresas controladas pela Airbus junto com a British Aerospace (BAe) criaram o programa JET – Joint European Transport, no português Transporte Europeu Unido.

O conceito era fazer o design de uma família de aeronaves entre 136 e 163 assentos, com uma fuselagem mais larga que os Boeings 727 e 737, e equipada com motores CFM-56. O então chamado JET1, de 136 assentos, foi cancelado após consulta a companhias aéreas, que deram preferência ao projeto JET2, com capacidade para 163 passageiros.
Em 1978 o projeto JET2 foi formalizado, e os britânicos, que haviam se afastado da Airbus pouco depois da criação da JET, decidiram voltar para o consórcio. Todos os projetistas do JET2 foram alocados em Toulouse, de onde o avião viria a surgir anos depois.
A tecnologia Fly-By-Wire

O A320 não fez sua marca na história apenas por ser um concorrente à altura do Boeing 737, mas por estar recheado de novas tecnologias e conceitos.
A principal mudança em relação aos aviões de sua época, e também a mais polêmica de todas, foi a introdução do Fly-By-Wire (FBW). Ao invés das superfícies de comando de voo serem controlados por polias e cabos diretamente ligados ao manche e pedais, o A320 usa um sistema de fios e atuadores para controlar o avião através de um computador de voo.
Foi introduzido juntamente o sidestick, ao estilo dos aviões de caça, que era um “simples” bastão no lugar do manche para controlar a aeronave. Basicamente o FBW funciona com o piloto dando comandos pelo sidestick, que são interpretados por um computador e transmitidos eletronicamente para os atuadores nas superfícies de comando.
O FBW ainda incluía a proteção de “envelope de voo”. O envelope é um gráfico mostrando em quais limites de atitude, velocidade e altitude o avião pode voar com total segurança. No Airbus A320 o computador de voo impede que o avião saia deste envelope, com avisos quando a aeronave estiver próxima de algum limite, e toma o controle da aeronave quando ela chega neste limite.
Um exemplo clássico é o caso de excesso de velocidade, onde o avião automaticamente levanta o nariz para perder velocidade, independente da atuação dos pilotos.
Apesar de sermos muito ousados, não tínhamos chance. Ou seríamos os primeiros a ter esta nova tecnologia, ou não entraríamos no mercado.
Roger Béteille – antigo Presidente da Airbus.
A discussão sempre girou em torno da autoridade do computador sobre o piloto em comando, sendo até hoje motivo de críticas apesar da sua comprovada eficiência e de nenhum acidente do A320 ter sido causado por alguma falha com o FBW. Este sistema é usado amplamente na aviação militar, inclusive no F-22 Raptor, considerado o melhor avião de caça do mundo.
Dez anos após o primeiro voo, e com sucesso comprovado, o então presidente da Airbus, Roger Béteille, admitiu que a decisão de usar o FBW foi a mais difícil que ele fez. “Ou seríamos os primeiros a ter esta nova tecnologia ou não entraríamos no mercado” declarou o antigo presidente.
Mais de 7 mil entregas e 13 mil encomendas
A família A320 é hoje, sem sombra de dúvidas, um sucesso, e faz alguns anos que domina o mercado à frente da Boeing. No final de 2016 a Airbus contava com 7.422 aeronaves da família A320 entregues, além de 13.066 pedidos.
O A320 foi o carro chefe, estreando com a Air France em 1988 na variante A320-100. Anos depois a Airbus anunciou que seria lançada uma versão de 185 assentos, que viria a ser o A321, sendo a primeira unidade entregue para a Lufthansa em 1994. Dois anos depois estreou o Airbus A319 pela Swissair, com 4 metros a menos que o A320. Finalmente, em 2003 a Frontier Airlines recebeu o A318, apelidado de “BabyBus”, por ser o menor avião da família A320.
No Brasil

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VASP
Quebrando o domínio da Boeing, a TAM (hoje LATAM Brasil) foi a primeira operadora regular do Airbus A320. Mas a companhia do tapete vermelho não foi a primeira a experimentar o A320. Um fato pouco conhecido do público geral são os voos experimentais feitos pela VASP, num A320 protótipo cedido pela Airbus em 1994, conforme foto abaixo:

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TAM / LATAM Brasil

A TAM veio a receber o seu primeiro A319, de matrícula PT-MZA, em 1999. Um ano depois recebeu o primeiro A320, registrado como PT-MZG.
Anos mais tarde encomendou o Airbus A321, entregue à companhia em 2007, matriculado PT-MXA. Atualmente a companhia opera 124 aviões da família A320, e conta com mais 20 encomendas, tornando-a a 12ª maior operadora da família, e a maior na América Latina.
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Avianca Brasil
A recém-renomeada Avianca Brasil (antiga Oceanair) recebeu o seu primeiro A319 em 2010, seguido do BabyBus A318 e do A320 em 2011. Em 2016 recebeu o seu primeiro A320neo. Atualmente opera com com o A319ceo e A320ceo.
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WhiteJets Brasil
A WhiteJets Brasil, filial da companhia portuguesa de charter WhiteJets, operou um Airbus A320 de matrícula PR-WTB durante seu curto período de vida. A aeronave além de fazer voos fretados, chegou a cobrir alguns voos da Webjet, como a rota entre Ribeirão Preto e São Paulo (Guarulhos).
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Azul Linhas Aéreas
A Azul é a operadora mais recente da família Airbus A320, tendo recebido seu primeiro A320neo no final de 2016. No total serão 41 aviões da família Neo, sendo 31 A320neo e 10 A321neo.
As aeronaves A320neo no Brasil têm recebido elogios de seus três operadores devido a sua performance e economia significativa de combustível.
Futuro
Em 2012, a Airbus começou a primeira etapa de modernização da família A320, com a introdução dos sharklets – os winglets da Airbus – que reduzem o arrasto induzido de ponta de asa. Foi o primeiro passo para a família A320neo que, além dos novos sharklets, conta com nova motorização e melhorias aerodinâmicas no projeto, reduzindo em até 30% o consumo em relação à primeira geração.
Hoje o A320neo é operado no Brasil por LATAM, Avianca e Azul. Todas estas companhias também possuem encomendas para o A321neo, que ficou apelidado nos EUA como “757 killer” – ou matador de 757. Isso porque o modelo vem substituindo o clássico Boeing em diversas rotas domésticas de alta densidade, mesmo que não tenha exatamente a mesma capacidade do 757.
A Airbus conseguiu vencer a Boeing no mercado de corredor único por vários motivos. Entre eles estão: o maior conforto para o passageiro, proporcionado pela fuselagem mais larga do A320; a facilidade de transição de pilotos do A320 para o A330, A350 ou até o A380 (menos de 2 semanas são necessárias); e por oferecer o produto certo no tempo certo no caso do A320neo.
Após três décadas de existência, o A320 se provou para o mercado, colocando a indústria aeronáutica européia de volta ao jogo. Demonstrou ser uma aeronave com um índice de segurança invejável apesar das suas novas tecnologias, e confirmou que a ousadia feita pela Airbus foi não apenas necessária para o futuro da companhia, mas também para o futuro da aviação comercial.
Abaixo um vídeo divulgado pela Airbus em comemoração do aniversário do seu avião de maior sucesso.
Informações pelo autor e dados pelo site FlightGlobal.