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A década atual e o renascimento dos voos supersônicos de passageiros

Imagem: Boom Technology

Recentemente, a notícia de que a United Airlines encomendou 50 aeronaves Boom Supersonic Overture animou os entusiastas e saudosistas dos voos que ultrapassam a barreira do som, mas será que a nova investida dos supersônicos de passageiros pode acertar onde o Concorde falhou?

O primeiro voo supersônico foi realizado em 1947 pela aeronave militar Bell Aircraft XS-1, comandada pelo lendário major Chuck Yeager, piloto de testes da recém-criada Força Aérea dos Unidos (USAF). Em pouco tempo, a tecnologia para quebrar a barreira do som já estava sob domínio de fabricantes comerciais que entraram em uma corrida para oferecer ao passageiro comum a oportunidade de voar em altíssima velocidade.

Concorde operado pela British Airways. Imagem: Eduard Marmet / CC BY-SA 3.0 GFDL 1.2, via Wikimedia Commons

O franco-britânico Concorde e o soviético Tupolev Tu-144 foram os mais importantes modelos colocados à disposição das empresas aéreas. O primeiro era uma parceria das britânicas British Aircraft Company (BAC) e Rolls Royce, e das francesas Aérospatiale e a Société Nationale d’Étude et de Construction de Moteurs d’Aviation (SNECMA). Já o russo era uma criação 100% coordenada pela fabricante com sede em Moscou.

Ambos começaram a voar no final da década de 1960. No entanto, altos custos operacionais com combustível e manutenção (que refletiam nos altos preços das passagens), aliados a fortes limitações de conforto e serviços aos passageiros e a “explosão supersônica” que podia até danificar estruturas em solo, reduziram drasticamente sua popularização. Já fadados à aposentadoria, os voos foram definitivamente encerrados no começo deste século após um trágico acidente em Paris.   

Tupolev Tu-144, o concorrente russo

Boom Supersonic Overture

Após anos sem se falar em voos supersônicos de passageiros, nos últimos tempos começaram a aparecer novas empresas com esse objetivo. A Boom Supersonic é uma delas e quer ser a primeira empresa privada a construir de forma totalmente independente um avião supersônico voltado para passageiros.

Em junho passado, ela apresentou o protótipo XB-1, cuja tecnologia será base para o Boom Supersonic Overture, aeronave que deve estar no ar até o fim desta década. A fabricante promete eliminar os problemas que afligiam os operadores do Concorde.

Boom Supersonic

O primeiro problema a ser superado é reduzir o consumo de combustível, intenso nas aeronaves anteriores, além de serem muito poluentes. De acordo com Beth Daley, jornalista da área de Meio ambiente e diretora do portal colaborativo australiano The Conversation, o Overture também deve ser o primeiro grande avião comercial a ter emissões de carbono neutras, com combustível de aviação 100% sustentável (SAF) e econômico.

A fabricante quer adaptar os motores para receber bio-querosene de Aviação, produzido a partir de compostos renováveis em substituição ao petróleo. Para reduzir ainda mais os gastos com combustível, a nova aeronave deve adotar motores turbojato ou turbofan.

Outro grande problema que deve ser superado pelo novo Overture é o da chamada explosão supersônica. Ao superar a barreira do som, um imenso estrondo é causado pelo deslocamento de ar o que pode causar danos em estruturas em solo. Por esse motivo, tanto o Concorde, quanto o Tu-144 não podiam chegar à sua velocidade máxima sobre o continente, o que diminuía substancialmente seus benefícios frente aos custos operacionais.

O Boom Supersonic Overture quer vencer esse desafio por meio um design arrojado. Com fuselagem estreita e desenho de flecha, o barulho de explosão deverá ser anulado. Em contrapartida, haverá menos espaço para passageiros: apenas 55 por voo, enquanto os antecessores chegavam a levar até 120 pessoas. Por ora, também não será possível o transporte de grande quantidade de carga, mas a velocidade máxima pode chegar 1.800 km/h (o dobro da velocidade dos aviões comerciais mais rápidos de hoje), com autonomia transoceânica de 8.334 km.

Nova era?

Apesar da limitação de transporte por voo, todas essas alterações tecnológicas tornam o Overture atraente para o mercado. Além das 50 encomendas para a United, a Boom também têm pré-reservas de dez unidades o grupo Virgin, do bilionário britânico Richard Branson, outras 20 unidades foram pedidas pela Japan Airlines e por outros três potenciais clientes ainda não identificados. O governo dos Estados Unidos também teria pedido um estudo para um Air Force One supersônico.

A Boom Supersonic quer que as passagens em seu avião custem apenas um pouco a mais do que o preço praticado em aeronaves tradicionais, pela comodidade da maior velocidade, sem impactar economicamente seus operadores.

IMAGEM: Divulgação United.

A United informa que planeja receber o primeiro modelo em 2025, voar em 2026 e transportar passageiros até 2029. A companhia norte-americana é ambiciosa com as possibilidades da nova era supersônica e almeja conectar mais de 500 destinos em todo mundo na metade do tempo atual.

Entre as muitas futuras rotas potenciais para a United estão a tradicional ligação entre Nova Iorque e Londres em apenas três horas e meia, Newark para Frankfurt em quatro horas, e São Francisco para Tóquio em apenas seis horas. As aeronaves serão projetadas para receber recursos como telas de entretenimento nos assentos, amplo espaço pessoal e tecnologia sem contato.

A movimentação do mercado já anima outros investidores mundo afora. Empresas dos Estados Unidos, a NASA e diversas startups trabalham em diferentes protótipos supersônicos. Rússia, Japão e empresários europeus também trabalham para oferecer experiências além do som. Não há prazos claros sobre todos esses projetos, mas o certo é que  uma nova era da aviação pode estar por vir.

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