Acompanhe o escândalo dos ex-pilotos alemães que trabalham na China como instrutores

Desta vez trata-se de três pilotos alemães aposentados, que em sua época pilotaram o Panavia Tornado e o Eurofighter e que agora estariam treinando os aviadores chineses nas táticas utilizadas pelas Forças Aéreas da OTAN. O destaque sobre o assunto foi dado pela imprensa internacional na semana passada.

A China continua a recrutar talentos de ex-membros das forças militares ocidentais para ajudá-los a melhorar a prontidão de suas próprias Forças Armadas. A primeira voz de alarme na mídia foi dada pela BBC, que soube que até 30 ex-pilotos militares do Reino Unido foram treinar membros do Exército Popular de Libertação da China.

Em poucos dias, a pedido do FBI, um piloto aposentado do US Marine Corps (USMC) AV-8B Harrier foi preso na Austrália por ter fornecido treinamento para militares chineses. Os detalhes do mandado de prisão dos EUA e as acusações que ele enfrenta são confidenciais. A China aparentemente tem contratado um grande número de ex-pilotos militares ocidentais, tanto para caças quanto para helicópteros.

De acordo com uma pesquisa da ZDF Front e Spiegel, pelo menos um punhado de ex-oficiais da Força Aérea Alemã (Luftwaffe) são empregados como instrutores de pilotos de caça na China. Entre eles estão os ex-instrutores do Eurofighter Peter S. e Alexander H. e o piloto do Tornado Dirk J. Todos os três familiarizados com as técnicas e táticas usadas pelos pilotos da OTAN, tendo servido na Luftwaffe por anos.

Os três homens que a ZDF e Spiegel conseguiram rastrear fundaram empresas de consultoria nas Seychelles depois de deixarem o Bundeswehr (Forças Armadas Alemãs). A informação foi revelada graças à publicação dos famosos Panama Papers, em que o atualmente extinto escritório de advocacia panamenho Mossack Fonseca oferecia serviços que consistiam em fundar e estabelecer empresas registradas em paraísos fiscais de forma a ocultar a identidade dos proprietários.​

Aparentemente, salários generosos fluíam pelas consultorias dos pilotos no paraíso fiscal. Os pilotos de caça das Forças Armadas Alemãs normalmente terminam sua carreira em aeronaves aos 41 anos. Os reflexos enfraquecem e a visão desaparece. Os que se aposentam recebem cerca de 50% do último salário como pensão. Por isso, muitos ex-pilotos da Aeronáutica acabam trabalhando como instrutores em escolas particulares de aviação.

Embora ainda não esteja claro se os pilotos aposentados que atualmente trabalham como instrutores na China (atraídos por grandes recompensas financeiras) cometeram alguma violação de contratos de confidencialidade e acordos de não divulgação aos quais o pessoal da Defesa está normalmente sujeito, as autoridades políticas e militares da OTAN estão muito preocupadas.

Por um lado, é possível que os reformados partilhem dados sensíveis que trazem segredos de Estado, tornando muito difícil a sua prevenção ou verificação. Mas também é perigoso, para os comandantes da OTAN, que os militares chineses estejam obtendo conhecimento em primeira mão de táticas, técnicas e procedimentos ocidentais relevantes.

Num eventual confronto no Pacífico, a China poderia usar toda a experiência passada pelos instrutores europeus para contrariar a vantagem qualitativa de que historicamente gozavam os pilotos de caças dos EUA e da OTAN.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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