Acordos de Serviços Aéreos (ASA): Entenda como a diplomacia garante que existam voos internacionais

Por trás de cada reserva de voo internacional existe uma complexa burocracia diplomática. Ao comparar rotas de São Paulo a Londres e analisar opções oferecidas pela Latam e British Airways, por exemplo, os passageiros somente conseguem essas opções graças a negociações cuidadosas e direitos equilibrados.

Os Acordos de Serviços Aéreos (ASA) são fundamentais para moldar a aviação internacional, determinando quais companhias aéreas podem voar para onde.

Para os estrategistas de companhias aéreas, os ASA representam tanto oportunidades quanto limitações que moldam seus roteiros e modelos de negócios. Eles influenciam a capacidade de desenvolvimento de rede, planejamento de frota e estratégias de parceria. Para os passageiros, as complexidades diplomáticas afetam diretamente as opções de voos, rotas e preços.

A Estrutura das Liberdades do Ar

Central a essas negociações estão as “liberdades do ar” — nove direitos específicos que os países podem conceder às companhias aéreas uns dos outros. Essas liberdades formam a base dos serviços aéreos internacionais, definindo exatamente o que as companhias podem ou não fazer em suas operações.

Primeira Liberdade: O direito de sobrevoar o território de outro país sem pousar.

Segunda Liberdade: O direito de fazer uma parada técnica em outro país sem embarcar ou desembarcar passageiros.

Terceira Liberdade: O direito de transportar passageiros do país de origem da empresa aérea para outro.

Quarta Liberdade: O direito de voar de outro país de volta ao país de origem da empresa aérea.

Quinta Liberdade: O direito de transportar passageiros entre dois países estrangeiros em um voo que comece ou termine no país de origem da empresa aérea.

Sexta Liberdade: O direito de transportar passageiros entre dois países estrangeiros via o país de origem da empresa aérea.

Sétima Liberdade: O direito de operar voos diretos entre dois países estrangeiros sem conexão com o país de origem da empresa aérea.

Oitava Liberdade: O direito de transportar passageiros entre dois pontos em um país estrangeiro como parte de um serviço internacional.

Nona Liberdade: O direito de operar voos internos dentro de um país estrangeiro — direito raro e altamente protegido.

    A questão da nacionalidade

    Um aspecto crítico dos ASA que molda toda a indústria é sua natureza tipicamente binária. A maioria dos acordos permite que apenas companhias aéreas registradas nos dois países signatários operem os direitos da terceira, quarta e sexta liberdades.

    Essa restrição explica a complexidade nas estruturas corporativas de grupos aéreos internacionais, como o Latam, que opera como uma única empresa, mas mantêm certificados e registros separados para preservar o acesso aos acordos bilaterais de ambos os países.

    Os ASA modernos moldam todos os aspectos do transporte aéreo internacional através de parâmetros operacionais específicos, tais como:

    Limitações de Frequência e Capacidade: Determinam a quantidade de operações que as companhias podem realizar e o tamanho das aeronaves.

    Restrições de Pontos de Entrada: Definem quais cidades e aeroportos podem ser servidos, geralmente limitando as companhias estrangeiras a hubs principais.

    Regulamentações de Preços: Algumas acordos ainda exigem a aprovação governamental de tarifas ou mantêm faixas de preço mínimas.

    A jornada rumo à liberalização começou em 1993, quando os Estados Unidos e os Países Baixos assinaram o primeiro Acordo de Céus Abertos, eliminando a maioria das restrições de rotas, capacidade e preços.

    O conceito foi ampliado pela União Europeia, permitindo que qualquer companhia aérea da UE operasse em qualquer rota, incluindo voos domésticos dentro dos Estados membros.

    A Organização Internacional da Aviação Civil (ICAO) desempenha um papel crucial ao incentivar e ajudar os governos em suas negociações, oferecendo padronização e orientações, além de manter um banco de dados global de ASA. Isso ajuda os países a navegar nas complexidades dessas negociações e a implementar acordos eficazes.

    Na próxima vez que você reservar um voo internacional, lembre-se de que está participando de um sistema global moldado por décadas de negociações diplomáticas. É uma dança complexa, mas essencial, que conecta o mundo de maneiras que seriam inimagináveis há algumas gerações.

    Carlos Ferreira
    Carlos Ferreira
    Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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