A exibição de um episódio da famosa série animada Family Guy criou uma confusão numa companhia aérea chinesa com sede em Hong Kong.
A Cathay Pacific é a empresa de bandeira da antiga província independente da China, e tem cada vez mais adaptado sua operação às regulações de Pequim. Porém, por um “descuido”, ficou disponível no seu sistema de entretenimento a bordo o episódio em que Peter Griffin, personagem principal da série, fica ao lado de um chinês que está tentando parar um tanque.
Family Guy é uma animação voltada para o público adulto e, assim como Os Simpsons (que inclusive é da mesma distribuidora, a 20th Century Fox), utiliza de forte sátira da sociedade americana e de outros países, por vezes fazendo piadas consideradas “sujas” e citando eventos históricos.
Esta cena, vista logo abaixo, é uma referência direta ao Massacre da Praça da Paz Celestial, ocorrido em 4 de junho de 1989, quando ocorreu uma repressão violenta do governo chinês contra protestos pró-democracia liderados por estudantes na Praça Tiananmen, em Pequim.
Após semanas de manifestações pacíficas que pediam reformas políticas, liberdade de expressão e combate à corrupção, o governo declarou lei marcial e enviou tropas e tanques para dispersar os manifestantes.
O confronto resultou na morte de centenas, possivelmente milhares, de pessoas, com números exatos ainda desconhecidos devido à censura do regime. O episódio tornou-se um símbolo global da luta por liberdade e dos limites impostos por regimes autoritários.
A imagem mais simbólica do ocorrido foi de um estudante que fica parado em frente a um tanque Type 59 (versão chinesa do soviético T-54). Até hoje, o paradeiro do estudante é desconhecido, e números não oficiais apontam que 300 pessoas que protestavam foram mortas, mas o governo da República Popular da China nunca confirmou qualquer morte e sempre tentou esconder o caso, apesar da ampla cobertura in loco da imprensa internacional.
Segundo a CBS News reporta, o episódio foi encontrado por alguns passageiros, que compartilharam a descoberta nas redes sociais. A empresa ficou sabendo do caso e pediu desculpas dizendo que “nós enfatizamos que o conteúdo do programa não representa o posicionamento da Cathay Pacific e removemos de maneira imediata o programa”.
A contenção rápida da companhia aérea é para evitar alguma punição vinda de Pequim, que nos últimos anos tem procurado processar criminalmente qualquer dissidente vindo de Hong Kong. Não está claro se o episódio, que não é novo, entrou no conteúdo de bordo da Cathay nos últimos meses ou apenas estava “esquecido”.