O gargalo aéreo de São Paulo já está logo ali. É o que revelou o Plano Aeroviário Nacional – PAN, apresentado pela Secretaria de Aviação Civil (SAC) do Governo Federal, e que dedicou um capítulo específico para os aeroportos que atendem a área terminal de São Paulo (TMA-SP).
No capítulo, a SAC apresentou a ‘problemática’ do aumento da demanda por transporte aéreo até 2038 nos gargalos existentes, mas não conseguiu apresentar com solidez soluções que estejam no escopo de investimentos das concessionárias.
Como parte fundamental do PAN, é apresentada uma estimativa de necessidade de investimentos em infraestrutura aeroportuária e aeronáutica civil na rede de aeroportos brasileira para os próximos 20 anos, com vista a atender os objetivos estratégicos do setor. O foco é principalmente quanto a segurança, qualidade e facilitação, acessibilidade, conectividade, eficiência e desenvolvimento do setor de transporte aéreo.
Os Aeroportos de Congonhas (CGH), Internacional de São Paulo/Guarulhos (GRU) e Internacional de Viracopos em Campinas (VCP) concentram atualmente 36% da demanda por transporte aéreo nacional e devem finalizar o ano de 2018 com mais de 72 milhões de passageiros (embarque e desembarque). GRU sozinho é responsável por 42 milhões deste total.
Os três aeroportos atendem a uma região formada por 291 municípios, e suas áreas de captação ultrapassam as divisas dos estados, ofertando os serviços aéreos a 17% da população brasileira localizada nessa área. As projeções realizadas no PAN indicam que a magnitude do transporte aéreo na região tende a crescer ainda mais nos próximos anos.
A demanda deve ultrapassar 180 milhões de passageiros ao ano em 2038. Ou seja, os aeroportos de São Paulo terão o equivalente ao número de passageiros processados nos aeroportos de todo Brasil no ano de 2011, ou ainda a 89% da demanda nacional observada em 2017.
A pesquisa ganha credibilidade na medida em que a indústria aeronáutica comercial, representada principalmente por Airbus e Boeing, prevê de forma parecida a demanda pela produção de aeronaves e formação de pilotos.
O documento, que mais parece um pedido de socorro, é assinado pelo então Ministro de Estado dos Transportes, Portos e Aviação Civil, e deve-se atentar ao fato de que o cenário preocupante ainda não considera o veto que o governador recém eleito de São Paulo tenta impor a uma importante escapatória, o Campo de Marte (SBMT), indicado para absorver quase completamente a demanda de aviação geral de Congonhas com devidos investimentos. Segundo o gestor público paulista e também proprietário de uma frota própria de aeronaves, o ‘ideal’ para aquela área seria a possível construção de um parque de lazer entregue à especulação imobiliária.
O que se pode observar é que no caso da transferência de voos para Viracopos, a capacidade dos três aeroportos somadas não seria suficiente para absorver a demanda já a partir de 2022, mesmo com a possível segunda pista em Viracopos a partir de 2027.
Em linhas gerais, os resultados demonstram que a demanda por transporte aéreo de todo o país crescerá na estimativa média de 4,6% ao ano nos próximos 20 anos, utilizando a expectativa otimista de crescimento econômico no Brasil, refletida no PIB.
Dentre as possíveis medidas para buscar adiar o esgotamento da capacidade da Terminal São Paulo estão:
- O DECEA e a concessionária do aeroporto de Guarulhos estão implantando o projeto “Agile GRU” para aumento da eficiência e aproveitamento do sistema de pistas – uma das metas do projeto é elevar a capacidade horária de 52 para 60 operações (risos);
- Incremento da capacidade operacional de Guarulhos, de 60 para 75 movimentos por hora (só esqueceram de falar como isso será possível);
- Além dos investimentos em pistas, há ainda a necessidade de expansão dos terminais de passageiros nos três aeroportos. A capacidade agregada de TPS dos três aeroportos não seria suficiente para atender a demanda já a partir do ano de 2024, quando a demanda projetada superaria os 92 milhões de passageiros. A área total dos TPS dos três aeroportos soma atualmente 450 mil m2, contra uma necessidade de 980 mil m2 para atendimento da demanda até 2038 sem perda nos níveis de serviço. Para tanto, serão necessários investimentos da ordem de R$ 3,8 bilhões (risos);
- No caso específico de Guarulhos, o único investimento não previsto no contrato e que se justifica é a ligação entre a estação de trem e os terminais de passageiros;
- A construção de um novo aeroporto na terminal São Paulo (risos);
- A terceira pista de Guarulhos, lenda imaginada desde o início do século vigente e jamais colocada em prática devido a entraves legais e operacionais;
- E ainda se fala que Viracopos seria capaz de absorver o excedente com a construção de mais 3 pistas, sendo duas para aviação geral.
No caso de Viracopos, o custo destas pistas adicionais é da ordem de R$ 750 milhões, fora do plano de investimento da ABV. E isso ainda estaria condicionado a opções de via terrestre que conectem as duas cidades de forma mais rápida, caso contrário o passageiro optaria pelo terrestre em viagens mais curtas.
Conclusão
Diante destes dados, abre-se o questionamento: seria essa a demonstração de que estamos com o olhar atento ao futuro, mas que sem investimentos de origem claramente definida, e que envolvam obras capazes de causar disrupções nas operações atuais, não teremos as mínimas condições de absorver o potencial de quase triplicar o modal aéreo no país?
Levando em conta todas as etapas de planejamento e construção, e a necessidade de solucionar questões como localização, licenciamento e financiamento, os quinze anos que temos até 2034 representam um prazo insuficiente para a aplicação de uma solução eficaz e eficiente. Especialmente diante do histórico que o país já apresenta em termos de obras em infraestrutura, espera-se que as soluções não venham a afetar a segurança e as operações em vigor.
A íntegra do documento e sua apresentação em pdf podem ser encontrados no site oficial do ministério.