Afinal, por que os caças Gripen vieram de navio para o Brasil e não voando?

Após a chegada, de navio, dos dois primeiros caças Gripen NG de série ao Brasil, muitas pessoas se perguntaram o porquê de eles não virem voando.

CCR

Os dois aviões que aportaram em Navegantes (SC) na semana passada foram fabricados na Suécia e são parte de uma encomenda de 36 unidades pelo governo do Brasil. Esses são os dois primeiros exemplares feitos em série, ressaltando que o outro que chegou ao Brasil em 2020 é tratado como um protótipo e apoia os testes da aeronave.

Enquanto isso, os dois novos já são caças que seguirão para sua indução na prontidão operacional em breve.

Como os aviões não vieram voando para o Brasil, mas sim de navio, perguntas floresceram. O meio de transporte gerou muitas dúvidas dos leitores, sobretudo porque o desembarque aconteceu em Santa Catarina, um dos estados brasileiros mais distantes da Suécia.

Dentre as perguntas feitas, elencamos abaixo as principais, que foram respondidas por pessoas ligadas à operação das aeronaves.

Por que não veio voando?

O Gripen E/F é um caça novo, baseado no antigo Gripen A/B/C/D, mas com muitas modificações, e ainda não foi homologado por nenhuma autoridade aeronáutica. Com isso, fica mais difícil de países aceitarem o sobrevoo, ainda mais se tratando de uma aeronave militar.

Outro tema seria a distância e a quantidade de países sobrevoados (8 espaços aéreos) num total de 10.000 quilômetros de distância.

Por sua vez, a distância máxima que o Gripen conseguiria voar sem ser reabastecido, na configuração de translado (sem armas) e com dois tanques auxiliares sob as asas, é de 4.000 km, sendo necessário ao menos duas paradas no trajeto. Toda essa operação seria extremamente custosa, já que além do preço do combustível em si (que tem subido).

O Gripen, como qualquer caça, moderno, é abastecido com JP-8, que é querosene de aviação militar, disponível apenas em bases aéreas, não em aeroportos civis.

Por que não veio sendo reabastecido?

Outra pergunta foi sobre a possibilidade de ele vir sendo reabastecido em voo, economizando ao menos uma escala e resolvendo em parte a questão do reabastecimento de JP-8.

No entanto, isso levanta novamente o problema de se requerer mais um avião (ao menos) na operação, encarecendo custos e necessitando de mais autorizações. Além disso, a própria FAB ainda não está acostumada com o reabastecimento em voo do Gripen usando o KC-390.

E um porta-aviões?

Um leitor perguntou se não era viável alugar um porta-aviões para transportar os caças, dado que a Marinha do Brasil não tem porta-aviões, sim porta-helicóptero.

O Gripen tem uma versão naval planejada, mas nada de concreto sobre seu desenvolvimento foi divulgado, já que nenhum de seus operadores tem planos firmes para comprar um porta-aviões. Logo, a versão atual teria que ser colocada por guindates no deck.

Tal meio de transporte foi usado pelos EUA com caças F-5, entregues em massa para o Vietnã do Sul, mas com uma quantidade maior e necessidade mais urgente. Além disso, a burocracia e os custos seriam enormes.

© USS Midway Research Library / Autor

Por que Navegantes e não Rio, Natal ou Santos?

Esta pergunta foi a mais recorrente. E a resposta pode parecer mais simples que pareça: apesar destas três cidades serem bem maiores do que Navegantes, os seus portos não são tão próximos dos aeroportos.

O Portonave, onde o Gripen NG desembarcou, está a menos de 3 quilômetros do Aeroporto Internacional de Navegantes, com um traçado favorável pelas ruas da cidade.

Todos os outros aeroportos brasileiros de onde Gripen poderia partir estão distantes de portos. A FAB e a SAAB tem se precavido, e quanto menos o Gripen andar nas ruas, pegar trânsito e ficar exposto, melhor.

Sendo assim, a opção mais barata e viável foi passar com o avião pelas ruas de Navegantes, o que deve ocorrer novamente com a chegada dos próximos produzidos no exterior.

CCR

Carlos Martins
Carlos Martins
Fascinado por aviões desde 1999, se formou em Aeronáutica estudando na Cal State Long Beach e Western Michigan University. #GoBroncos #GoBeach #2A

Veja outras histórias