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Agência de rating Fitch revisa a probabilidade de inadimplência da Embraer para estável

A Fitch Ratings alocou os ratings globais de longo prazo em moeda estrangeira e local da Embraer em ‘BB+’ e ‘AAA(bra)’, na classificação nacional. A Fitch também determinou como ‘BB+’ as notas sem garantia da Embraer, Embraer Overseas Limited e Embraer Netherlands Finance BV. A Perspectiva do Rating para os IDRs e o Rating em Escala Nacional foi revisada de Negativa para Estável (melhorou).

A revisão da Perspectiva para Estável reflete a tendência esperada de desalavancagem da Embraer nos próximos 12 a 18 meses como resultado da recuperação contínua na carteira de pedidos e entregas da aviação comercial durante 2022 e 2023, e os esforços da fabricante para melhorar a estrutura de capital e a eficiência operacional. 

A Fitch prevê que a dívida líquida/EBITDA da Embraer atingirá 4x em 2021 e depois cairá para 3,1x em 2022 e 2,6x em 2023. O cenário base da Fitch incorpora USD 175 milhões de desembolso de caixa para sua nova subsidiária, Eve UAM, LLC.

O que foi considerado

Backlog e Recuperação de Entregas: A Fitch espera que as entregas de aeronaves comerciais para 2021 tenham ficado 46% abaixo dos níveis de 2019, e 21% e 13% para 2022 e 2023 (entregas de 48, 70 e 77 aeronaves por ano), respectivamente. Para entregas de jatos executivos, a recuperação deverá ser mais rápida, 15% menores em 2021, 8% em 2022 e um aumento de 8% em 2023 (entregas de 93, 100 e 118 aeronaves por ano, respectivamente).

A carteira de pedidos firmes da aviação comercial era de 313 aeronaves ao final do 3T21, ante 281 no 4T20, e aproximando-se de 338 em 2019 (pré-pandemia). 

Em termos de backlog financeiro, já atingiu níveis pré-pandemia de US$ 16,8 bilhões, mesmo nível de 2019, e melhora de US$ 14,4 bilhões no final de 2020. Na visão da Fitch, o backlog da Embraer suporta a produção para vários anos, mas sofre de concentração e qualidade. Espera-se que a Embraer continue enfrentando desafios para aumentar as encomendas de suas novas aeronaves 175-E2.

Forte Posição de Mercado: A forte posição de mercado da Embraer para jatos comerciais com menos de 150 assentos e jatos executivos globais são fatores-chave que suportam a recuperação esperada da carteira de pedidos da empresa no médio prazo. Espera-se que os produtores de jatos comerciais de médio porte tenham oportunidades com transportadoras que buscam dimensionar sua frota para ajustar a capacidade. 

A alta exposição da Embraer ao mercado regional/doméstico dos EUA, que está se recuperando em um ritmo melhor do que em alguns mercados, também é uma consideração importante do rating.

Risco Brasileiro Modesto: Aproximadamente 90% da receita da Embraer é gerada a partir de exportações ou de operações comerciais sediadas no exterior. No entanto, o ambiente econômico e político do Brasil é uma preocupação, pois a maior parte da base de ativos operacionais da Embraer é domiciliada localmente e o governo representa uma grande parte da carteira de pedidos do segmento de defesa. 

O Brasil está listado como parte relacionada nos registros da Embraer na SEC como resultado da “golden share” do Governo Brasileiro e uma participação acionária direta (aproximadamente 5% da Embraer) por meio de uma empresa controlada pelo governo. A recente renegociação de contratos da Embraer com o Governo Federal é um item a ser observado, mas a Fitch não espera grande impacto no fluxo de caixa.

Rating acima do teto-país: A Fitch não considera o risco-país do Brasil uma restrição de rating para a Embraer atualmente, dada a grande participação de caixa da empresa fora do Brasil, bem como seu forte foco em exportações e negócios crescentes fora do Brasil. Com base nesses fatores, segundo os critérios da Fitch, a Embraer poderia ser avaliada em até três graus acima do teto do Brasil.

Recuperação da Margem EBIT: O desempenho operacional da Embraer foi mais fraco do que o esperado durante o período pré-pandemia, pois a empresa estava enfrentando pressões ao navegar em vários novos programas de desenvolvimento. As menores entregas na aviação comercial e o mix menos favorável afetaram a diluição dos custos fixos da companhia. 

Durante 2021, a Fitch projeta que as margens EBIT da Embraer se recuperarão para cerca de 3,4% e continuarão a se expandir em 2022 e 2023 para cerca de 7%, com o provável aumento da carteira de pedidos.

Retorno do Capex à Pressão do FCF: O aumento da geração de fluxo de caixa operacional em 2021 e principalmente, uma importante entrada de capital de giro (gestão de estoques) deve levar o FCF para cerca de US$ 162 milhões, segundo estimativa da Fitch. Isso representa uma melhoria em relação à queima de US$ 1 bilhão em FCF em 2020. O Capex é estimado em cerca de US$ 280 milhões. 

Para 2022, espera-se que o FCF seja negativo em US$ 131 milhões, após um capex de US$ 330 milhões. Para 2023, espera-se que o FCF esteja entre neutro a US$ 60 milhões negativos. Para 2021-2023, o caso de rating da Fitch atualmente não pressupõe distribuições de dividendos. 

Para 2022, a Fitch incorporou em suas previsões US$ 170 milhões de venda de ativos que devem ser usados ​​para pré-pagar dívidas e US$ 175 milhões de saída de caixa para Eve.

Alavancagem em queda: A Fitch prevê que a Dívida Líquida/EBITDA da Embraer atinja 4,0x em 2021 e depois caia para 3,1x em 2022 e 2,6x em 2023. Isso se compara a 20,7x em 2020, 4,1x em 2019 e média de 1,0x durante o período 2015-2017. 

A estratégia da companhia de fortalecer sua estrutura de capital, principalmente após seus recentes investimentos nos modelos E-175 e E-195, é fundamental para potenciais ações de rating positivas no médio prazo.

Mais detalhes da análise podem ser verificados no site da agência de classificação de risco.

Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.
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