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Agência promete voos que nunca existiram e gera confusão com torcedores flamenguistas

Uma confusão envolvendo voos de fretamento para torcedores do Flamengo irem à Final Libertadores está ganhando repercussão na mídia. No entanto, alguns dos voos citados pela agência de viagens nunca existiram.

Airbus A319 da LATAM Ecuador

Seguindo uma prática de alguns anos, a Conmebol decidiu que a final da Copa Libertadores da América de Futebol de 2022 seria realizada em Guayaquil no Equador. A cidade equatoriana é a maior do seu país, porém sem ligações aéreas com o Brasil e menos conectada de uma maneira geral do que Quito, a capital equatoriana. Isso obrigou os torcedores a buscarem por voos fretados.

Como o AEROIN tem noticiado em primeira mão e exclusividade desde o mês passado, estes voos fretados foram programados para ser realizados apenas com a Azul e a GOL. A LATAM, por sua vez, não teria aceitado fazer fretamentos, por motivos internos, e isso sempre foi conhecido de quem acompanha as matérias aqui publicadas. Além dessas, nenhuma outra empresa jamais teve agendado um voo fretado para levar torcedores.

Voos jamais aprovados

Dito isso, e com poucas opções, agências de viagem começaram a procurar por alternativas fora do país. Uma primeira opção foi a TAAG Angola Airlines, de Angola, que teve o voo negado pela ANAC, já que o acordo entre Brasil e Equador não permite voos entre si feitos por empresas de países terceiros, a chamada 5ª Liberdade do Ar.

Logo após o reporte exclusivo do AEROIN sobre a negativa para a TAAG, as agências procuraram uma outras empresas aéreas: a EuroAtlantic Airways e a Hi Fly, ambas de Portugal. Ambas são independentes, não têm nenhuma ligação com a Latam (como dizia o comunicado de uma agência de viagens) e são conhecidas por operarem fretamentos para outras companhias aéreas, inclusive brasileiras, oferecendo avião, tripulação e suporte técnico num só pacote.

No entanto, novamente, seguindo o acordo bilateral, a ANAC negou os pedidos da EuroAtlantic e da HiFly ainda no meio do mês de outubro, pelo menos dez dias antes da partida (as informações foram confirmadas pelo AEROIN). As agências não informaram isso aos passageiros, e a confusão começou a se formar.

Os torcedores foram informados semanas antes da viagem que iriam de LATAM, mas ao chegarem ontem no Galeão, não existia reserva na empresa latina, que negou ter qualquer fretamento para a Libertadores, e muito menos acordo com a agência envolvida, a Outsider Tours, que se diz ser a parceira oficial do Flamengo.

Segundo o jornal esportivo Lance, e várias outras mídias, a Outsider informou que a LATAM cancelou o voo por causa da erupção iminente do Vulcão Cotopaxi. Apesar deste vulcão ser próximo de Guayaquil e ter entrado em atividade, não afetou até agora nenhuma operação aérea, segundo dados da plataforma de rastreamento de voos FlightRadar24. A autoridade equatoriana também confirmou que não há nenhuma restrição imposta no momento.

A imagem mais recente do vulcão, feita ontem, mostra apenas uma pequena fumaça sendo expelida.

Os torcedores então começaram a cobrar a Outsider Tours pela venda de um serviço que não existia e acionaram o PROCON-RJ, que autuou a empresa, exigindo reacomodação.

Apenas no final da noite de ontem, a agência emitiu nota, admitindo que a confusão ocorreu não por causa de um fretamento da LATAM cancelado pelo vulcão, mas sim por um contrato fechado com a EuroAtlantic, que segundo eles “cancelou o voo mesmo após contrato firmado com a Outsider”, o que não procede, pois o voo jamais esteve autorizado.

Vários torcedores reclamaram da nota, já que admitiriam a mentira espalhada mais cedo pela própria agência a respeito do vulcão. Outros citaram o caso do ano passado, onde o Flamengo foi também finalista da Libertadores, disputada em Montevidéu, e apesar do transporte e hotelaria estarem dentro do combinado, os ingressos não foram entregues e eles foram forçados a gastar milhares de reais para comprar os bilhetes com cambistas na porta do estádio no Uruguai.

Um deles, inclusive, afirmou que foi até reembolsado do valor do bilhete comprado com terceiros, e que a empresa deixou um valor de crédito para este ano, que ele usou nesta viagem agora para o Equador, onde outra confusão ocorreu.

A Outsider conclui em sua nota que reacomodou os seus clientes, apesar de alguns afirmarem o contrário nos comentários, citando incerteza na execução do pacote que custou até R$15 mil reais por pessoa. Os torcedores estariam sendo acomodados em outros voos.

O que chama a atenção até o momento é o fato da empresa mudar a história do cancelamento várias vezes, mas principalmente ser uma agência de viagens que desconhece as “Liberdades do Ar” e as regras de fretamento, que são de conhecimento básico até de viajantes que não trabalham no setor de turismo e transporte.

Inclusive, estas regras ficaram bastante conhecidas do público brasileiro e latino, em decorrência da tragédia da Chapecoense, que foi disputar a final da Copa Sul-americana na Colômbia, e fretou uma empresa boliviana recomendada pela Conmebol, que teve o voo direto negado e seu dono violou regras de segurança, resultando em 71 mortos.

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