Airbus usa um A350 em voo com trajetória diferente para tentar gastar menos combustível

Na última semana, a Airbus usou o protótipo do A350-900 de matrícula F-WWCF (MSN 2) para realizar, junto com autoridades de controle de tráfego aéreo, um teste que visa reduzir o consumo de combustível através de um perfil de voo diferenciado.

Voando com 30% de combustível de aviação sustentável e 70% de combustível tradicional nos tanques, a aeronave decolou do Aeroporto de Toulouse-Blagnac na noite de 30 de novembro rumo a Munique fazendo um voo diferente do comum. Entretanto, além do combustível sustentável, a Airbus usou outras ferramentas para garantir um voo memorável em termos de emissões.

Ferramentas

Na partida, foi usado um equipamento de táxi elétrico para empurrar a aeronave para trás, depois foi realizado um procedimento de taxiamento monomotor (ao invés de usar os dois motores) e, após a decolagem, os pilotos coordenaram com os diferentes provedores de serviços de navegação aérea a fim de garantir uma subida suave e direta, conhecida como operações de subida contínua (CCO).

Os pilotos contaram com apoio dos controladores para ter um percurso o mais direto possível entre as duas cidades e, para a descida, foi coordenada a realização de um procedimento chamado de operação decente contínua (CDO), que busca ter uma descida direta e não em “forma de escada”, como acontece na grande maioria das vezes.

Essa técnica CDO – pela qual a aeronave desce de uma posição ideal com potência mínima do motor, evitando nivelamentos intermediários, garante menor consumo de combustível e, portanto, reduz as emissões. O infográfico abaixo ilustra esse procedimento.

Quando o avião pousou em seu destino, o poder da otimização do gerenciamento de tráfego aéreo (ATM) para reduzir a queima de combustível e as emissões de CO2 era aparente.

O rastreamento do voo, capturado pela plataforma Radarbox (imagem abaixo), mostra exatamente o padrão de voo da aeronave, com uma descida direta (ver abaixo da rota de voo o gráfico e a linha preta, que mostra a altitude).

Se hoje esse tipo de voo ainda está em testes, espera-se que esse paradigma geral mude com o tempo, à medida que a Europa adota o gerenciamento de trajetória 4D e o Satcom como instrumento para viabilizar essas operações. O conceito 4D conecta aeronaves e sistemas terrestres e usa a transmissão em tempo real de dados de trajetória quadridimensional (latitude, longitude, altitude, mais tempo ) para melhor coordenar a posição das aeronaves.

Essa tecnologia, diz a Airbus, “tem o incrível potencial de melhorar muito a previsão da trajetória de uma aeronave. Ao reduzir a imprecisão dos atuais modelos de previsão de gerenciamento de tráfego aéreo em aproximadamente 30-40%, o projeto de operações baseadas em trajetória em quatro dimensões está ajudando a pavimentar o caminho para um gerenciamento mais sustentável do tráfego aéreo de amanhã“.

A infraestrutura já está sendo montada e o tempo adiante ainda mostrará inúmeros avanços que contribuirão para reduzir as emissões e atingir as metas de sustentabilidade do setor aéreo.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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