Com um jogo dialético muito cuidadoso para evitar o confronto com um governo nacional ao que apoiam abertamente, os principais sindicatos aeronáuticos da Argentina realizaram ontem, 12 de novembro, uma grande caravana do Aeroporto Internacional de Ezeiza à sede dos Ministérios do Trabalho e Transportes para reclamar contra o que eles chamaram de “passividade” e “insensibilidade” de ambas as pastas em relação a pontos específicos da política de aviação comercial, herdada do governo de Mauricio Macri.
Os sindicatos reclamam que a inação do governo eclodiu nos últimos meses, sendo o principal resultado disso o fechamento da LATAM Argentina e as quebras de Avianca, Flyest e Andes (ainda que a última esteja planejando retornar), bem como a falta de resposta à situação dos trabalhadores desamparados após a quebra das empresas.
A matéria é do nosso parceiro Aviacionline.
Estado Atual
A saída da subsidiária argentina da LATAM Airlines significou a perda de mais de 1.500 empregos e foi o clímax de um conflito que, embora suas raízes possam ser rastreadas de anos atrás, se agravou ainda mais durante a pandemia quando a empresa decidiu pagar 50% do salário para seus funcionários. Enquanto alguns aderiam à proposta de aposentadoria voluntária, outros continuam lutando pela continuidade do emprego.
Caravana de los trabajadores aeronáuticos – Autopista Riccheri #somosapla #sindicatosaeronauticosunidos #MeoniMoroniEstaEnSusManos pic.twitter.com/GzdVPKZDca
— APLA (@aplapilotos) November 11, 2020
No caso da Andes, seus funcionários sobrevivem com contribuições de um programa nacional que subsidia o pagamento de salários com teto de dois salários mínimos, mas carregam meses de atraso salarial em decorrência da crise desencadeada no início de 2019. Embora o empresa operaria novamente em dezembro, muitos se perguntam se isso vai mesmo ocorrer.
Os 200 funcionários da Avianca Argentina permanecem “suspensos” depois que a empresa parou de voar em junho do ano passado. Ele não os despediu, mas não lhes voltou a pagar o seu salário, deixando-os num limbo de trabalho, uma vez que não têm acesso a outros benefícios sociais.
Já a Flyest, uma companhia aérea que, como o Aviacionline antecipou na semana passada, pediu concordata no final de outubro, é o próximo caso que tem seus funcionários à beira do abismo.
Llegamos al @MinTrabajoAR !! La #caravanaaetonautica imparable!! Los derechos de las y los trabajadores no se negocian!!! #EANArecomposicionSalarialYA #ConvenioColectivoSectorialANAC #MeoniMoroniEstaEnSusManos #AeronauticxsConTrabajoDigno #SindicatosAeronauticosUnidos pic.twitter.com/xvudgFSvDu
— ATEPSA (@ATEPSA_Nacional) November 11, 2020
Por fim, também esteve presente o pleito dos trabalhadores da EANA e da ANAC Argentina para recomposição salarial e assinatura de acordos setoriais, bem como o pagamento de comissões de mora.
Declaração dos Sindicatos
Por meio de uma declaração conjunta, APTA, APA, UPSA, UALA, APLA e ATEPSA dirigiram suas críticas especificamente a Mario Meoni, Ministro dos Transportes, e Claudio Moron, Ministro do Trabalho.
“Os dois ministros que ele (o presidente) nomeou com toda a sua confiança estão falhando, estão falhando com os trabalhadores argentinos, não só os aeronáuticos. São ministros que estão apenas para a câmera, para a foto, para a inauguração das pontes e não para resolver a situação dos trabalhadores aeronáuticos”, disse Edgardo Llano, chefe da Associação do Pessoal da Aeronáutica, em discurso inflamado.
Los gremios unidos buscamos respuestas sensatas para las más de 2500 familias que ven en riesgo su trabajo y su fuente de sustento.#MeoniMoroniEstaEnSusManos #AeronauticxsConTrabajoDigno pic.twitter.com/SPn2YT8s3x
— APA (@APAERONAUTICOS) November 11, 2020
“Não somos nós que impomos funcionários a nenhum governo, muito menos a um governo que apoiamos. Mas houve alguém que disse que há funcionários que não trabalham. Senhor presidente, os Ministros do Trabalho e dos Transportes não estão trabalhando”, acrescentou, referindo-se ao que Cristina Fernandez disse em carta há algumas semanas.
Esse “desengajamento” de Meoni com o resto do setor aeronáutico próximo ao kirchnerismo teria ficado mais evidente no mês passado quando o ORSNA, por ele liderado, surpreendeu com uma nota de proibição de voos comerciais em El Palomar, poucos dias depois do ministro assegurar publicamente sua continuidade.
Embora seja compreensível a tentativa dos sindicatos aeronáuticos de não estarem na contramão de um governo muito mais próximo de suas intenções, resta saber por quanto tempo essa situação se sustentará, ainda mais quando o mercado de aviação comercial já iniciou o caminho de “novo normal”.
Por mais que haja afinidade entre as duas partes (sindicato e governo), a aeronáutica, quando teve que parar para defender seus interesses, parou, independentemente de Macri ou Cristina Fernández estar no governo. E Alberto Fernandez não será exceção.
A matéria é do nosso parceiro Aviacionline.