Ano novo, vida velha: primeiro voo do ano com brasileiros expulsos dos EUA é amanhã

Está programada para o dia 7 de janeiro de 2022, sexta-feira, a chegada do primeiro voo do ano ligando os EUA ao Brasil com brasileiros retidos na fronteira e expulsos pelo “Tio Sam”. A programação, como das vezes anteriores, prevê a partida do aeroporto de Alexandria, na Louisiana, e destino final Belo Horizonte.

Para o serviço, o governo americano contratou um Boeing 737-800 da Swift Air (iAero), com capacidade para 189 passageiros, embora saiba-se que a aeronave não decola em sua capacidade total por motivos de segurança. O pouso na Região Metropolitana de Belo Horizonte acontece às 16h do dia 7, a decolagem da aeronave, vazia, tem previsão para 8h do dia seguinte.

A tática

As operações de deportação aérea para países de origem distantes são uma tática que se mostrou altamente eficaz em dissuadir a migração ilegal. Elas já levaram de volta para casa um número significativo de migrantes ilegais, na casa das dezenas de milhares (alguns calculam em 60 mil pessoas nesse ano), como aponta uma análise do Centro de Estudos de Imigração (CIS).

Enquanto uma grande parcela da sociedade americana apoia a iniciativa, sobretudo em tempos de Covid, outra se coloca contrária (ou parcialmente contrária). A Anistia Internacional faz um comentário sobre as operações, especialmente pelo fato de o Governo Biden manter os voos, após ter se posicionado contrário a eles durante o governo de seu antecessor, especialmente no que tange às expulsões de povos mais vulneráveis como haitianos, hondurenhos e guatemaltecos.

A crítica

No documento conjunto, divulgado recentemente, as organizações signatárias alegam que os EUA estão desrespeitando aspectos dos direitos humanos e da crise humanitária em locais como o Haiti, “ao não analisar adequadamente ou recusar o asilo e permitir que os indivíduos sejam devolvidos à perseguição ou tortura” em seus países.

Além disso, a Anistia Internacional cita que muitos haitianos expulsos desembarcaram em voos de deportação doentes, algemados, famintos, traumatizados e desorientados apenas para se encontrarem em um “pesadelo humanitário”, incluindo violência generalizada de gangues, uma crise política em curso após o assassinato do presidente do Haiti, Jovenel Moïse, insegurança alimentar, sistema de saúde “à beira do colapso”, devastação após um recente terremoto e risco para a Covid-19 em um país onde as taxas de vacinação estão em torno de 0,4%.

Sob o pretexto de saúde pública, por causa da Covid, os EUA têm feito uso de uma disposição legal para conduzir expulsões em massa e impedir que haitianos e outros procurem asilo. Essa prática tem sido amplamente criticada pelas Nações Unidas, especialistas em saúde, organizações de direitos humanos por causa do aumentou no risco de contrair a Covid-19 e contribuir para o racismo, a xenofobia e a discriminação nas políticas de fronteira dos EUA. 

Desta feita, a Anistia Internacional levantou um pedido para que o governo dos EUA pare com as deportações de vulneráveis. O certo é que esse tema ainda deve perdurar, pois o número de voos de deportação foram grandemente aumentados durante a pandemia.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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