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Apenas duas mulheres pilotaram o Concorde e uma delas foi cabeleireira no passado

Barbara Harmer – Foto: BA

No começo da década de 1960, Grã-Bretanha e a França deram início a uma parceria para desenvolver o primeiro avião supersônico destinado ao transporte de passageiros (SST, na sigla em inglês). Assim nasceu o Concorde, que viria a fazer sua primeira travessia transatlântica em 26 de setembro de 1973 e, três anos depois, inauguraria o primeiro serviço supersônico regular de passageiros do mundo.

A British Airways iniciou voos de Londres para Bahrein em janeiro de 1976 e a Air France de Paris para o Rio de Janeiro. O mês de maio de 1976 marcou as adições de serviços regulares para Washington nas duas companhias aéreas, seguido por Nova Iorque em novembro de 1977.

Apesar de algumas rotas terem sido operadas de forma sazonal, ao longo dos anos, o ruído e as despesas operacionais limitaram a oferta de serviços do Concorde. Devido às grandes perdas financeiras, ambas as companhias decidiram cortar todas as rotas, com exceção de Nova Iorque.

Em 2003, a Air France e a British Airways encerraram as operações do Concorde. Em todo o mundo, apenas 14 aeronaves entraram em serviço. Mas o Concorde entrou para os anais da história como a primeira aeronave comercial supersônica para transporte de passageiros.

Béatrice Vialle – Foto de Arquivo Pessoal

As mulheres na cabine

Em toda a história do Concorde, apenas duas mulheres ocuparam assentos na cabine de pilotagem, uma britânica e uma francesa. Barbara Harmer, do Reino Unido, foi a primeira das duas pilotas e escreveu uma bonita página na história da aviação, sendo certamente um modelo inspirador para as mulheres que um dia querem se tornar aviadoras.

Talvez uma das grandes curiosidades da carreira de Harmer seja o início de sua vida profissional, quando trabalhou como cabeleireira, mas deixou a atividade aos 15 anos para se tornar controladora de tráfego aéreo em Londres, dando os primeiros passos naquela que seria sua paixão.

Mais adiante, ela tomou um empréstimo bancário e obteve a Licença de Piloto Comercial em 1982, sendo então contratada pela Genair, uma companhia aérea regional que fecharia as portas meses depois. Após a empresa falir, ela voltou a buscar emprego e entrou para a British Caledonian, em que voou no jato BAC 1-11, uma aeronave de fabricação britânica destinada a voos regionais. Em 1989, foi transferida para o McDonnell Douglas DC-10, voando para longas distâncias.

Quatro anos depois, a British Airways assumiu a British Caledonian e ela foi escolhida para um curso de treinamento de seis meses para receber seu certificado de tipo de jato supersônico. Em 25 de março de 1993, ela se tornou a primeira-oficial de um voo do Concorde da aérea britânica.

Outra mulher que fez história foi a francesa Béatrice Vialle, que também voou o Concorde. Filha de um oficial do Exército e de uma dona de casa, cresceu em Paris, no Djibuti e, posteriormente, em Soissons, onde obteve seu bacharelado científico. Em seguida, voltou a Paris para estudar matemática no Lycée Fénelon. Depois, cursou a Escola Nacional de Aviação Civil, que abriu as portas para mulheres durante cinco anos, e foi a primeira mulher a pilotar um avião Embraer Bandeirante da Air Littoral (1984).

Em 1985, ingressou na Air France, onde voou como copiloto em Boeing 727, Airbus A320 e Boeing 747. Em 2000, se formou no Concorde, após 170 horas de voo no simulador. Para ser escolhida para pilotar o Concorde, ela recusou o cargo de comandante e acumulou antiguidades como copiloto.

Juntas, essas duas mulheres estabeleceram o clube exclusivo de pilotas do Concorde. Harmer descreveu o Concorde como o seu avião favorito. Infelizmente, o voo supersônico chegou ao fim em 10 de abril de 2003, mas ambas as pilotas continuaram a voar longas distâncias em outros equipamentos. Vialle tem hoje 61 anos e segue aviadora. Harmer morreu em 2011, de complicações de câncer, mas o seu legado de pioneira na aviação permanecerá.

Concorde Pouso Simultâneo Orlando Air France British

Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.