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Após Alemanha boicotar o blindado brasileiro Guarani, a Embraer pode ser afetada?

O bloqueio da exportação do blindado Guarani pela Alemanha acendeu um alerta no setor e atraiu olhares para a Embraer, segundo um jornalista da rede CNN.

Imagem: Embraer

Desde o início da invasão russa na Ucrânia, o Brasil tem estado neutro, sem tomar posição forte para algum lado, embora sempre condenando a invasão de Moscou, que é um importante parceiro comercial para o agronegócio. Enquanto isso, os países-membros da OTAN têm cobrado um apoio mais contundente do lado brasileiro, que tem resistido.

A primeira solicitação por parte do bloco do Atlântico Norte teria sido para os 12 helicópteros Mi-35 Hind que a FAB decidiu aposentar pouco antes do início do conflito por motivos de manutenção. Hoje, estas aeronaves estão paradas e sem destino certo.

Depois, veio uma solicitação formal da Alemanha para compra de munições 35mm, que são fabricadas pela suíça Oerlikon. Estas munições são utilizadas nos canhões antiaéreos do blindado Guepard, feito na plataforma do tanque alemão Leopard 1, também utilizado pelo Brasil.

Como a Suíça se recusou a fornecer as munições, a Alemanha pediu ao Brasil, que também negou a venda. No final, os alemães entraram em acordo com a norueguesa Nammo para produção imediata da munição, de modo que a fabricante local Rheinmetall se comprometeu a iniciar uma linha de produção para a munição de 35mm.

Munição de 35mm sendo colocada na fita de alimentação do Gepard – Foto do Exército Brasileiro

Outro atrito veio após uma negativa para fornecimento dos tanques Leopard 1A5 do Brasil e também da sua munição 105mm, que não é usada mais pela Alemanha e OTAN, que em sua maioria está com tanques com canhão 120mm como o Abrams, Ariete, Challenger 2, Leclerc e Leopard 2.

Não por coincidência, ontem a Alemanha proibiu a exportação do blindado IVECO Guarani, fabricado em Minas Gerais, em parceria com o Exército Brasileiro, para as Filipinas, alegando que o país de destino está sob um regime ditatorial e com violações dos Direitos Humanos.

O Guarani possui uma transmissão ZF Ecomat 6HP602 feita na Alemanha. Sem a transmissão, o blindado não anda e, logo não pode ser vendido. Algumas unidades da encomenda já estariam prontas em Sete Lagoas (MG), mas agora esperam a decisão por parte da Iveco, Exército e Governo do Brasil.

A Alemanha já tinha aplicado uma sanção similar no passado, quando proibiu que o Super Tucano também fosse vendido para as Filipinas, e que a Heckler & Koch vendesse qualquer tipo de arma para o Brasil, alegando violações de Direitos Humanos pelo governo de Jair Bolsonaro. Na época, também foi citado o fato de que uma submetralhadora MP5 da HK foi utilizada para matar a Vereador Marielle Franco e seu motorista.

Enquanto a primeira sanção foi menor e contornada, já que civis brasileiros continuaram a comprar as armas da HK, mas vinda da subsidiária nos EUA, a HK USA, esta do Guarani aponta para outro sentido, já que é veto para exportação.

Pode respingar na Embraer?

Além do Guarani, vários outros projetos brasileiros têm componentes alemães. O jato comercial Embraer E2 tem trem de pouso, sistema de pressurização e pneumático com componentes da Liebherr, inclusive isso está destacado no site da empresa alemã.

Guarani e KC-390 | Divulgação – Exército Brasileiro

Mas o ponto principal é o cargueiro militar KC-390, que tem sistema de pressurização e ar-condicionado também da Liebherr, e os motores são da IAE, uma joint-venture da americana Pratt & Whitney com a MTU, que também é da Alemanha.

O jornalista Daniel Ritnner, da CNN Brasil, comentou ontem sobre a retaliação dos alemães, acrescentando que a Embraer tem como cliente do KC-390 (com contrato assinado, mas sem avião entregue ainda) a Hungria e esse acordo poderia ser impactado. Seu comentário seguiu ao questionamento do âncora Willian Waack, que citou o caso do Super Tucano nas Filipinas, que foi contornado pela Embraer (assista abaixo o trecho do programa).

Pesa para o lado da Embraer o fato de dois países da OTAN, Portugal e Holanda, já serem clientes do KC-390, ao contrário do Guarani, que tem patinado nas vendas e que até agora de fato só exportou para o Líbano.

O futuro deste imbróglio dependerá muito de como a situação na Ucrânia irá ficar, seja com o recuo dos russos, uma contraofensiva forte ou até um acordo de paz, que é hoje a situação menos improvável. Também pesará as atitudes do Brasil, seja como fornecedor de equipamentos ou moderador do conflito. Hoje ainda é remota a chance de um embargo ao KC-390, mas é algo a se ter no horizonte.

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