
A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) emitiu uma notificação contra um mecânico da Voepass por supostas falhas na manutenção de uma aeronave da companhia. O caso ganhou relevância porque o avião PS-VPA, alvo da fiscalização, precisou realizar um pouso de emergência em Uberlândia (MG) em agosto de 2024 devido a problemas técnicos, conforme informou o AEROIN na época.
Embora a notificação tenha sido enviada recentemente, ela está relacionada a uma inspeção realizada pela manutenção em agosto de 2023, antes do incidente com a aeronave. Conforme documentos obtidos pelo g1, a ANAC responsabiliza um mecânico por supostamente ter inserido “anotações fraudulentas” no registro de manutenção, indicando a correção de um problema que, posteriormente, foi constatado como não solucionado.
Durante a inspeção, a agência identificou bolhas em lâminas protetoras das hélices, cuja função é minimizar danos causados por partículas como água e poeira. Apesar de o sistema de gestão da aeronave ter registrado a substituição das lâminas, a verificação posterior da Anac apontou que a troca não foi realizada.
No documento, a agência argumenta que essa conduta indica falta de idoneidade profissional, podendo resultar não apenas em multa, mas também na suspensão da licença do mecânico, medida que ainda será analisada pela instância competente.
As bolhas observadas nesses componentes sugerem deterioração do material protetor, o que pode acelerar o desgaste das pás das hélices e afetar o equilíbrio da aeronave em voo, segundo especialistas consultados pelo g1.
Outras irregularidades também foram apontadas durante a fiscalização da Anac:
– A tampa de acesso ao equipamento de localização da aeronave em situações de emergência estava solta e com danos nos limitadores;
– A “porca castelo”, peça essencial para a fixação do trem de pouso principal, apresentava sinais de oxidação e estava sem selante;
– Parafusos das carenagens ventrais não foram ajustados com torquímetro, ferramenta indicada no manual de manutenção. A falta de ajuste adequado pode levar ao desprendimento das peças ou a danos estruturais devido ao aperto excessivo.
A ANAC também identificou que a tampa de acesso ao equipamento de localização, que estava danificada, foi substituída por outra retirada de uma aeronave identificada como PR-PDZ. Essa prática de troca de componentes entre aeronaves da Voepass já havia sido mencionada anteriormente em reportagens do Fantástico.
Em resposta à agência, a Voepass afirmou que a substituição da tampa foi uma decisão deliberada dos mecânicos. Sobre o uso inadequado de ferramentas, a empresa declarou que instrui seus funcionários a seguirem rigorosamente os procedimentos do manual de manutenção.
O g1 questionou a ANAC se as irregularidades motivaram processos administrativos contra a Voepass, mas não obteve resposta.
Em nota, a agência esclareceu que o auto de infração tem caráter punitivo e que não há relação entre essa notificação e a suspensão das operações da companhia em março deste ano.
Ainda assim, a apuração do g1 revelou que o treinamento dos mecânicos foi um dos fatores apontados pela ANAC na decisão de suspender os voos da Voepass. Segundo a agência, os funcionários da empresa estavam tomando decisões por conta própria, sem seguir os manuais técnicos, mesmo após receberem treinamento interno.
Para especialistas consultados, as falhas identificadas na fiscalização de 2023 não representam riscos imediatos, mas evidenciam uma deficiência na manutenção da frota, o que pode comprometer a segurança operacional.
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