Início Aeroportos

Após ganhar leilão do aeroporto de Congonhas, ações de estatal espanhola caem

A vitória isolada no Leilão do Aeroporto de Congonhas (e mais dez terminais), conquistada pela estatal espanhola de capital aberto, AENA, não contou com o agrado imediato dos investidores, além de ter sido vista com ressalvas pelo mercado financeiro.

A empresa espanhola AENA tem uma estrutura societária em que 51% das ações estão nas mãos do Reino da Espanha, através da ENAIRE, uma entidade pública que é de total controle do Ministério do Desenvolvimento local. O restante das ações são negociados livremente na Bolsa de Madri. Este formato de empresa pública aberta é similar ao que se tem no Brasil com a Petrobrás, por exemplo.

No entanto, os investidores privados da empresa não reagiram bem ao resultado do leilão de quinta-feira, quando a AENA arrematou os aeroportos de Congonhas, Campo Grande (MS), Corumbá (MS), Ponta Porã (MS), Santarém (PA), Marabá (PA), Parauapebas (PA), Altamira (PA), Uberlândia (MG), Montes Claros (MG) e Uberaba (MG).

O Banco Renta 4, por exemplo, entende que “a falta de detalhes operacionais sobre os outros terminais (fora Congonhas) e o aparente preço elevado”, desagradou a bolsa de Madri, disse o periódico espanhol El Diario.

Para os analistas, existe a sensação de que o governo brasileiro queria resolver vários problemas numa só tacada e, isso, junto com a falta de outros competidores no leilão, contribuiu para que as ações da AENA tivessem uma queda de 2,14% nesta sexta, acumulando uma baixa de 9,19% no ano. A queda ficou acima da registrada no índice médio da Bolsa madrileña, de 1,08%.

Entenda

Este bloco de aeroportos era, provavelmente, o mais esperado desde que o Brasil começou a fazer concessões, pouco antes da Copa do Mundo de Futebol de 2014, quase 10 anos atrás. Após a concessão dos gigantes Guarulhos, Galeão e Campinas, os olhos do mercado se viraram para Congonhas e Santos Dumont, que são os aeroportos centrais das maiores cidades do país, São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente.

Enquanto a situação no Rio ainda é incerta, já que a concessionária do aeroporto Galeão devolveu o terminal, ensejando uma nova licitação, agora junto do Santos Dumont, em São Paulo era o oposto.

No entanto, algo havia de estranho no ar quando, dias antes do leilão, já circulava rumores na Faria Lima (centro financeiro de São Paulo) de que a AENA seria a única a cobiçar o bloco, o que acabou se confirmando mais tarde. A ausência da CCR, Inframerica, Vinci, Socicam, Fraport, Zurich Airports e outras gigantes que já administram grandes aeroportos no Brasil, chamou muito a atenção.

Para muitas pessoas, a exagerada diversidade do bloco, incluindo aeroportos do interior de três estados diferentes e distintos, sem muita relação com Congonhas, e claramente menos atrativos, afastou outros investidores em potencial.

Outro ponto foi a sobreposição, já que vários aeroportos do bloco estão muito próximos e competem entre si, como Uberlândia e Uberaba, no Triângulo Mineiro, e Parauapebas e Marabá, na região do Sul do Pará e Serra dos Carajás.

Mais um tema a ser considerado é a distância entre os aeroportos, que significa uma operação futura mais pulverizada: Marabá está a 500 quilômetros da costa, enquanto Ponta Porã faz fronteira com Paraguai e Corumbá com a Bolívia. O bloco anterior levado pela Aena, o do Nordeste, concentrava mais a operação da empresa em torno do hub do Recife e economizaria custos, já que incluiu Juazeiro do Norte (CE), João Pessoa (PB), Campina Grande (PB), Aracaju (SE) e Maceió (AL).

O leilão foi realizado nas dependências da B3, em São Paulo, e seguiu o modelo de melhor proposta, entregue em envelopes fechados. Apenas a AENA apresentou uma proposta pelo bloco, com um ágio de 231,02%, totalizando R$ 2,45 bilhões (o lance mínimo era de R$ 741 milhões).

Para muitos investidores a AENA poderia antecipar que seria a única ou uma das poucas interessadas e dar um lance mais baixo no envelope fechado, para então subir a aposta, não dando de cara 231% acima do valor mínimo.

Já o Bankinter aponta que a vitória no leilão é uma boa oportunidade para aumentar a presença da AENA no mercado internacional, mas o retorno do investimento precisa ser mais preciso e detalhado e, enquanto não houver mais informações, poderá ser visto um moderado impacto negativo nas ações da empresa.

Sair da versão mobile