A Airbus está desenvolvendo uma atualização para reduzir o risco de uma nova falha na lógica do sistema automático de controle de profundor do modelo A320, segundo reportou o FlightGlobal nesta terça-feira, 05 de novembro.
A medida vem como consequência do grave incidente ocorrido em fevereiro de 2018, quando um Airbus A320 sofreu sérios danos em um pouso de emergência.
O A320-200 da companhia aérea Smartlynx, de registro ES-SAN, realizando o voo de treinamento MYX9001 em Tallinn, na Estônia, com 7 tripulantes, estava fazendo toques e arremetidas na pista 08 do aeroporto, mas depois de um dos procedimentos, a aeronave não conseguiu ganhar altura, tocando de volta na posta com muita força.
Faíscas e chamas foram vistas até que a aeronave conseguisse levantar voo novamente, e o transponder (equipamento que recebe e transmite informações como altitude, velocidade e posição) falhou devido à força da pancada.
A tripulação declarou emergência, posicionou-se para a aterrissagem e pousou na pista 26, quando um estrondo foi ouvido e a aeronave desviou-se para fora da pista, perdendo algumas partes.
As investigações mostraram que a aeronave perdeu o controle do profundor (parte móvel horizontal da cauda) logo após o pouso daquele toque e arremetida, mas a tripulação descobriu a perda apenas quando acelerou novamente para a arremetida.
O A320 retornou ao ar antes do previsto como resultado da posição incorreta do estabilizador horizontal (parte horizontal completa da cauda), o que gerou o afundamento posterior com impacto na pista e, na sequência, uma subida acentuada com os motores danificados e o profundor inoperante.
Descobertas da investigação
A autoridade de investigação estoniana OJK descobriu que, durante cada uma das várias aterrissagens anteriores, o piloto instrutor estava segurando a roda de compensação (uma roda preta que fica na cabine para que o piloto possa fazer ajustes da posição do estabilizador) para impedir que o estabilizador retornasse ao ponto neutro, a fim de manter uma configuração de decolagem para as arremetidas.
Essa ação teria sido observada pelos computadores da aeronave como uma discrepância entre as posições real e comandada do estabilizador.
Para que essa situação não seja interpretada pelo sistema como uma fuga do padrão, há um mecanismo de segurança projetado para detectar a ação de controle manual e desengatar a roda de compensação, fazendo com que o computador atue no controle da aeronave, ao invés do piloto.
Mas a investigação constatou que um tipo errado de óleo – com o dobro da viscosidade do óleo necessário – foi usado no mecanismo de segurança, resultando na ativação incorreta do desengate da roda.
Também foi verificado que a documentação de manutenção da aeronave não requer nenhum teste do mecanismo durante verificações regulares, o que pode ter contribuído para que o uso do óleo errado não fosse percebido.
Bagunça nos computadores de voo
A OJK diz que a pressão manual do instrutor da roda de compensação do estabilizador não foi registrada corretamente pelo sistema, gerando um acionamento irregular e a perda do funcionamento dos dois computadores que controlam o profundor e os ailerons.
Quando o sistema do A320 identifica que não há computador de controle de profundor e ailerons disponível, a lógica do sistema muda para que o controle passe para o computador de profundor e spoilers. Então a aeronave deveria ter continuado com funcionamento normal do profundor.
Mas a OJK também descobriu que uma “falha de design” permitiu que, devido à pancada do pouso, uma discrepância lógica de consolidação entre os dois canais do computador de profundor e spoilers ocorresse, fazendo com que eles não se comunicasse e um computador se mantivesse na lei de voo e o outro computador na lei de solo. Ou seja, a aeronave não sabia se estava voando ou se estava em solo.
Isso resultou na perda de controle de ambos os profundores pelos computadores de profundor e spoiler e, posteriormente, no movimento e travamento dos profundores na posição neutra – configurando a falha quando o A320 acelerou para a decolagem.
Atualização e retrofif
Assim, a Airbus está desenvolvendo uma modificação de software para este computador, com o objetivo de “mitigar as consequências” de uma falha na detecção de controle manual do estabilizador horizontal através da roda de compensação. A certificação dessa atualização e o retrofit global estão planejados para meados de 2020.
Todos os sete ocupantes do A320, incluindo os quatro estudantes pilotos, sobreviveram depois que o instrutor e um piloto de segurança conseguiram usar apenas impulso dos motores danificados e o ajuste do estabilizador horizontal para retornar a Tallinn para um pouso de emergência. Ambos os motores falharam antes de a aeronave pousar e o jato foi posteriormente tirado de serviço.