Assista à cena e saiba por que os pilotos não recolhem o trem nessa arremetida em Campinas

Cena do vídeo apresentado abaixo – Imagem: canal Golf Oscar Romeo

Um vídeo gravado na última terça-feira, 29 de novembro, conforme apresentado no player abaixo, mostra uma situação que permite acompanhar um interessante procedimento padrão da aviação.

Conforme as imagens a seguir, captadas pela câmera ao vivo do canal “Golf Oscar Romeo” no YouTube, os pilotos do avião Embraer 195-E2 registrado sob a matrícula PS-AEA, da Azul Linhas Aéreas, realizavam a aproximação para pouso pela cabeceira 15 do Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas (SP), quando precisaram iniciar uma arremetida, mas que envolveu um procedimento específico.

Como visto nas cenas acima, restavam poucos segundos para chegar à pista quando foi iniciada a arremetida, e nesse procedimento, os pilotos não recolheram imediatamente o trem de pouso, como geralmente se nota na maioria das arremetidas.

O motivo dessa atitude é revelado pelo próprio áudio das comunicações entre os pilotos e o controlador de tráfego aéreo. Conforme informado, a arremetida foi iniciada por incidência de “windshear”.

De acordo com definição da REDEMET (Rede de Meteorologia do Comando da Aeronáutica do Brasil), o fenômeno windshear, também denominado cortante de vento, gradiente de vento ou cisalhamento do vento, pode ser definido como uma variação na direção e/ou na velocidade do vento.

Em aviação, o fenômeno pode ocorrer em todas as altitudes de voo, entretanto, é particularmente perigoso em baixa altura, nas fases de aproximação, pouso e subida inicial, em face da limitação de distância ao solo e de tempo para manobra das aeronaves.

Aeronaves que atravessam este fenômeno atmosférico são frequentemente submetidas a variações abruptas de altitude e velocidade, portanto, tentar alterar configurações de flaps, slats, trem de pouso, entre outras, pode não ter efeito nenhum ou até mesmo ter efeito contrário ao esperado, além de haver a possibilidade de tirar a atenção dos pilotos na atitude de voo, levando a um risco de colisão contra o solo.

Assim, se o fenômeno ocorrer durante a aproximação ou pouso, a recomendação é de que as seguintes ações devem ser tomadas:

– Selecionar o modo de decolagem/arremetida (TO/GA) e definir e manter a potência máxima de arremetida;

– Seguir o comando de pitch (elevação do nariz) do Flight Director (se o FD fornecer orientação de recuperação de windsehar) ou definir o alvo de atitude de pitch recomendado nos manuais;

– Se o Piloto Automático (AP) estiver ativado e se o FD fornecer orientação de recuperação de windshear, manter o AP ativado; caso contrário, desconectar o AP e definir e manter a atitude de pitch recomendada;

Não alterar a configuração do flap ou do trem de pouso até sair da windshear;

– Nivelar as asas para maximizar o gradiente de subida, a menos que uma curva seja necessária para eliminar obstáculos;

– Permitir que a velocidade diminua até o início do stick shaker (ativação intermitente do stick shaker) enquanto monitora a tendência da velocidade no ar;

– Monitorar de perto a velocidade no ar, a tendência da velocidade no ar e o ângulo da trajetória de voo (se o vetor da trajetória de voo estiver disponível e exibido para o PNF); e

– Quando estiver fora da windshear, retrair o trem de pouso, flaps e slats, e então aumentar a velocidade no ar quando uma subida positiva for confirmada, e estabelecer um perfil de subida normal.

Portanto, como visto acima, a atitude de não recolher o trem de pouso é uma das várias ações que os pilotos do jato da Azul tomaram para passar pela região de windshear.

Como também visto na sequência do vídeo, o fenômeno atmosférico é tão perigoso que os pilotos do próximo voo que decolaria mantiveram a aeronave por 10 minutos ao lado da pista, conforme o procedimento padrão de segurança para garantir que não haja mais a incidência de windshear em sua decolagem.

Por volta de 3 minutos e 50 segundos do vídeo, um farol de outro avião pode ser visto em meio ao tempo fechado, também arremetendo antes mesmo de entrar em contato com o controlador da torre de Viracopos, em função do risco de passar por windshear.

De maneira semelhante, pilotos de voos que estavam se aproximando para pouso também mantiveram suas aeronaves em trajetórias de espera em voo, até que se passassem os 10 minutos recomendados para maior segurança.

Por fim, após os 10 minutos, os dois primeiro aviões, incluindo um grande Airbus A330, são vistos entrando na pista e realizando suas decolagens.

Murilo Basseto
Murilo Bassetohttp://aeroin.net
Formado em Engenharia Mecânica e com Pós-Graduação em Engenharia de Manutenção Aeronáutica, possui mais de 6 anos de experiência na área controle técnico de manutenção aeronáutica.

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