Associação da aviação geral rebate as críticas às operações no aeroporto de Congonhas

Diante da ocorrência com o jato executivo Learjet 75 no último domingo, 9 de outubro, no Aeroporto de Congonhas e das consequentes críticas levantadas contra operações da aviação geral no terminal aeroportuário paulista, a ABAG (Associação Brasileira de Aviação Geral) também emitiu o seu parecer sobre a questão.

Veja a seguir, na íntegra, o comunicado emitido pela Associação.

“Na tarde deste último domingo, 9 de outubro, um incidente envolvendo uma aeronave da aviação de negócios, que teve os pneus estourados no procedimento de pouso, acabou por deixar o Aeroporto de Congonhas impraticável por cerca de 9 horas, gerando enorme inconveniente para milhares de passageiros que, sem poder voar, lotaram, compreensivelmente irritados, os saguões do aeroporto.

Representantes de companhias aéreas e da ABEAR, a associação que representa parte do setor da aviação regular, não tardaram em apontar o vilão da história: a aviação de negócios que opera em Congonhas. Será mesmo?

Um aeroporto pode ficar impraticável por diversos motivos além de um avião com pneu estourado, como problemas meteorológicos, drones sobrevoando a área, balões de ar quente no cone de aproximação, equipamentos de navegação em pane, ameaças terroristas e muito mais.

Por este motivo, as empresas aéreas precisam ter planos de contingência para lidar com a situação da melhor maneira possível, sempre privilegiando a segurança e, na medida em que este objetivo for atingido, zelando pelo conforto dos passageiros.

Algum tempo após o início da interrupção dos voos em Congonhas neste domingo, estava evidente tratar-se de um evento que geraria atrasos significativos em toda a malha aérea; e, sendo este um aeroporto com restrições de horário de funcionamento, que boa parte dos passageiros não embarcaria naquele dia.

Por que, então, estes passageiros não foram avisados e mandados para casa (ou para o hotel), ou então realocados em voos partindo de Guarulhos e Viracopos? Das duas, uma: ou houve incompetência na gestão da crise, ou as empresas decidiram nada fazer para economizar alguns trocados no pagamento de despesas de táxi e hotel.

Mas é muito mais fácil culpar a aviação de negócios, como se os aviões de linha aérea também não produzissem problemas como este. Há diversos exemplos de eventos com aeronaves de grande porte gerando impraticabilidade prolongada em aeroportos com uma única pista.

Em 2012, um Boeing 777 da Latam que fazia a rota Guarulhos – Londres teve que realizar um pouso de emergência no Aeroporto de Confins, estourando 8 dos 12 pneus, deixando-o impraticável por 21 horas e cancelando 143 voos.

No mesmo ano, um avião MD-11 da Centurion Cargo acidentou-se sobre a pista, fechando Viracopos por 45 horas, cancelando 495 voos. Talvez fosse o caso de perguntar à ABEAR se a associação pensou em sugerir o banimento dos Boeing 777 de Confins ou dos grandes cargueiros de Viracopos.

O ponto que a ABAG entende ser necessário se discutir melhor é se existe sentido concentrar tantos voos em um aeroporto de tamanha importância com uma única pista apta a receber operações de linha aérea, como é o caso de Congonhas. Hoje é um avião de pequeno porte que estoura os pneus, mas amanhã pode ser algum outro motivo que torne a pista do aeroporto impraticável, e toda a malha aérea do país volte a ser prejudicada.

Se Congonhas fosse vocacionado para a aviação regional e para a aviação de negócios – como, aliás, foi durante muito tempo –, este risco seria bastante mitigado. Não faz sentido fazer de Congonhas um hub vital para a malha aérea nacional, aumentando slots e planejando ampliações faraônicas, sendo que jamais será possível manter operações de linha aérea em mais de uma pista.

Na verdade, faz muito mais sentido deixar Congonhas para os aviões menores do que enxotá-los de lá. A verdadeira vocação de Congonhas não é para grandes jatos com muitos passageiros, há outros aeroportos no entorno de São Paulo, como Guarulhos e Viracopos, verdadeiramente vocacionados para servirem melhor às linhas aéreas e seus usuários.

A ABAG repudia qualquer tentativa de prejudicar as importantes operações da aviação geral em qualquer aeroporto no Brasil.”

Informações da ABAG

Murilo Basseto
Murilo Bassetohttp://aeroin.net
Formado em Engenharia Mecânica e com Pós-Graduação em Engenharia de Manutenção Aeronáutica, possui mais de 6 anos de experiência na área controle técnico de manutenção aeronáutica.

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