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Associações processam a Boeing por estar contratando engenheiros brasileiros

Em mais um movimento contra a expansão da Boeing Brasil no celeiro da Engenharia Aeroespacial brasileira, associações foram até a justiça para impedir novas contratações da gigante americana.

Divulgação – Boeing

Tudo começou em maio deste ano, quando a Boeing abriu dezenas de vagas para engenheiros no Brasil. Ao contrário das contratações esporádicas como no passado, esta visava formar uma equipe para abertura de um grande escritório de Engenharia em São José dos Campos. A cidade do Vale do Paraíba no interior de São Paulo é o berço da indústria aeronáutica brasileira, sede da Embraer e do ITA, o Instituto Tecnológico da Aeronáutica.

Em julho foram abertas novas vagas, e daí começou um atrito com as concorrentes. Pessoas da região já reportavam ao AEROIN que estava ocorrendo um êxodo de engenheiros para a Boeing, que não pensaram duas vezes ao ir para a empresa americana, por seus salários maiores, boa estrutura e projetos ambiciosos.

Pouco tempo depois, o CEO da Akaer Brasil, uma das empresas da área aeroespacial e de defesa instalada em São José dos Campos, foi a público falar do “estilo predador e assédio cruel” que a Boeing estaria fazendo à indústria de defesa brasileira, colocando em risco a soberania nacional.

A crítica veio com várias respostas contra, citando inclusive que no passado a Akaer e outras empresas foram as predadoras. Outras pessoas citaram o chamado “Acordo de Cavalheiros” feito entre as indústrias de São José, que tinham feito uma parceria informal de não contratar engenheiros uma das outras, desestimulando a concorrência.

A Lei e a Ordem

Agora, a disputa se acirrou e chegou na justiça. A Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (ABIMDE) e a Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB) são autoras de uma ação civil pública cujo objetivo é fazer com que a companhia americana interrompa o processo de “captura sistemática e contratação de engenheiros de empresas que fazem parte da Base Industrial de Defesa (BID) do país”.

Segundo as entidades, “a cooptação desses profissionais, que são altamente qualificados, coloca em risco a sobrevivência dessas empresas e, sobretudo, ameaça a soberania nacional, um dos fundamentos da Constituição Federal, previsto no seu artigo 1º, inciso I”.

Escritório da Boeing em São José dos Campos

“O impacto já é expressivo: dez das mais importantes empresas estratégicas do setor de defesa já tiveram engenheiros cooptados pela Boeing. Algumas perderam cerca de 70% da equipe de áreas específicas e essenciais para o negócio“, explica Roberto Gallo, presidente da Abimde.

A BID é formada por companhias estatais ou privadas, que têm como objetivo a constante atualização das tecnologias da Marinha, da Força Aérea e do Exército. Segundo as associações, “elas são a garantia de que a inovação e o desenvolvimento na área de defesa estejam sob domínio nacional, resguardando a autonomia das Forças Armadas e, portanto, do Estado brasileiro”.

Os profissionais que têm sido contratados pela Boeing são principalmente do segmento aeroespacial. Eles são engenheiros altamente qualificados, formados em instituições públicas (como ITA, UFMG e UFSCar) com mais de 10 anos de experiência no setor, tendo participado de projetos nas áreas de Defesa e Segurança, ou detinham conhecimento essencial à soberania nacional e tiveram acesso a informações qualificadas e dados classificados de projetos estratégicos para o Brasil.

As empresas que perderam engenheiros em massa seriam a Embraer, Akaer, Avibras, AEL Sistemas, Safran, Mac Jee e outras. Até o momento estas empresas não se posicionaram oficialmente. Procuramos a Boeing para comentar o assunto, e assim que a fabricante americana responder, iremos atualizar a reportagem. A empresa estrangeira, porém, segue contratando e está com 30 vagas abertas para o Brasil em seu site, confira clicando aqui.

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