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Ativistas cortam cerca e invadem aeroporto, pedindo proibição de jatos privados na França

Imagens: Attac France

Os aeroportos da capital da França, Paris, e seus arredores, têm ganhado cada vez mais destaque mundo afora nos últimos anos, mas não por seus grandes movimentos de aeronaves e passageiros, e sim por se tornarem palco de recorrentes invasões de grupos ativistas, que protestam contra os impactos da aviação no clima e meio-ambiente globais.

É claro que a situação não se restringe a Paris, já que atos semelhantes também são registrados em outros aeroportos, especialmente na Europa, porém, a cidade francesa tem se destacado pela repetição.

Apenas para citar alguns dos casos que acompanhamos aqui no AEROIN, em 26 de junho de 2020, vinte ativistas ambientais da Extinction Rebellion (XR) invadiram o aeroporto de Paris-Orly e se colocaram na frente de uma aeronave que entraria na pista para a decolagem.

Depois, em 3 de outubro de 2020, cerca de 40 ativistas do movimento francês Réseau Action Climat, que reúne diversos grupos ambientalistas, foram presos após uma manifestação no Aeroporto Internacional Charles de Gaulle, o maior da França. Os manifestantes chegaram a acessar o pátio e se aproximar das aeronaves estacionadas no local.

Mais alguns meses adiante, em 5 de março de 2021, membros do Greenpeace invadiram o mesmo Charles-de-Gaulle e pintaram de verde um avião da Air France, acusando o governo do país de “lavagem verde” em questões ambientais relacionadas ao tráfego aéreo.

E agora, na última sexta-feira, 21 de janeiro, 74 ativistas dos movimentos Attac, Alternatiba Paris e Extinction Rebellion abriram uma passagem na cerca do aeroporto Le Bourget de Paris. Segundo o grupo, o ato teve como objetivo “denunciar a responsabilidade dos mais ricos na crise climática”.

As fotos e os vídeos a seguir mostram o momento em que eles passaram pela cerca e foram até um jato executivo que estava sendo movimentado:

Imagem: Attac France

Em comunicado oficial em seu site, o Attac France fala o seguinte sobre a motivação da invasão:

“Enquanto os ricos roubam, nosso futuro voa. Alguns fatos para entender melhor nossa ação na sexta-feira, 21 de janeiro de 2022, no aeroporto comercial de Le Bourget, com Extinction Rebellion e Alternatiba Paris:

O setor de aviação privada sozinho representa um drama climático e os números são vertiginosos. 4 horas de voo de um destes dispositivos correspondem às emissões de carbono de uma pessoa durante um ano inteiro na Europa.

As emissões de CO2 dos jatos particulares aumentaram nos últimos anos no continente, mais rápido do que as da aviação comercial, com um aumento de 31% de 2005 a 2019. Em 2019, metade dos voos que partem da França percorreram menos de 500 quilômetros, ou seja, distância onde os aviões são os menos eficientes e, portanto, os mais poluentes.

Os jatos particulares são, portanto, 5 a 14 vezes mais poluentes do que a aviação comercial (em média 10 vezes mais intensivas em carbono) e 50 vezes mais do que o trem, e esse número aumentará à medida que a tendência for para aparelhos maiores e poluentes.

Esse meio de transporte, que só beneficia os ultra-ricos, é insustentável. No entanto, alternativas são possíveis: linhas de trem de alta velocidade existem em 70 a 80% das rotas mais populares de jatos particulares.

E mesmo com a aviação privada parecendo ser uma indústria particularmente poluente, está atualmente vivendo sua idade de ouro. E seu crescimento não parece estar prestes a parar.

Os principais fretadores do setor como a VistaJet estão satisfeitos com um forte aumento das suas atividades: “entre 2020 e 2021, o número de clientes cresceu 50% ao longo de um ano”. A empresa chegou mesmo a alcançar “no terceiro trimestre de 2021, o maior sucesso da sua história, com 9.000 horas de voo a mais do que no mesmo período de 2019”.

Número confirmado por mais dados globais da empresa WingX, que afirma que no início de novembro de 2021, os recordes de 2019 já haviam sido batidos, com empresas do setor lutando para atender a demanda. Os números já eram impressionantes antes da crise:1 em cada 10 voos com partida da França em 2019 foi feito em jato particular.”

Além do trecho acima, as críticas se estendem mais um pouco contra o uso dos jatos pela parcela mais rica da população, e depois passa à inação do poder público.

Por fim, são apresentadas as reivindicações:

– Que a inclusão da aviação privada no projeto europeu de tributação do querosene aéreo seja uma prioridade da presidência francesa na União Europeia, e que essas medidas de incentivo levem, a longo prazo, à simples proibição do uso do jato privado;

– A implementação de uma tributação ambiciosa de grandes patrimônios, permitindo uma justa contribuição dos mais ricos para o combate às desigualdades sociais e para o financiamento da luta ecológica.

Até o momento da publicação desta matéria, não há informações sobre qualquer pessoa detida pela polícia após a invasão da área de segurança aeroportuária.

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