Automação não deu certo, e Boeing voltou a usar pessoas na produção do 777

Parece que nem tudo foram flores para a Boeing em se tratando de substituir a mão de obra humana pela automação dos robôs visando redução de custos produtivos.

Avião Boeing 777X Teste
Linha de produção do Boeing 777X – Imagem: Boeing

Segundo a Bloomberg, após quatro anos de tentativas e erros, a Boeing está abrindo mão de uma de suas incursões mais ambiciosas na automação: os robôs que constroem duas seções principais da fuselagem para seus bem sucedidos jatos 777 e para a nova versão 777X.

A fabricante de aviões baseada em Chicago confiará a mecânicos qualificados a tarefa de inserir, manualmente nos orifícios perfurados ao longo da circunferência do avião, os prendedores como parafusos, arrebites, entre outros.

Os furos continuam sendo feitos por um sistema automatizado, mas o sistema manual conhecido como “trilhos flexíveis”, que a Boeing aperfeiçoou durante anos de uso no 787 Dreamliner, será utilizado também no 777.

A mudança para o novo sistema que integra humano e máquina começou durante o segundo trimestre desse ano e deve ser concluída até o final do ano, disse o porta-voz da Boeing, Paul Bergman, em comunicado.

Apesar das mudanças, a Boeing não planeja nenhuma mudança no seu quadro de pessoal alocado na produção de seus 777, fabricados em Everett, no estado de Washington.

“A solução de trilhos flexíveis se mostrou mais confiável, exigindo menos trabalho manual e menos retrabalho do que a capacidade dos robôs”, disse ele.

Limites da automação

Por mais tentadora que a automação possa ser – com a promessa de uma força de trabalho mecanizada que nunca fica doente, cansada ou com fome – os fabricantes estão encontrando alguns casos em que a tecnologia não consegue igualar a destreza, a engenhosidade e a precisão das mãos e dos olhos humanos.

Avião Boeing 777X Linha de Montagem
Imagem: Boeing

A iniciativa totalmente automatizada da Boeing, conhecida como FAUB (na sigla em inglês, significa construção vertical automatizada da fuselagem), contou com robôs trabalhando em conjunto para fazer furos com precisão e prender painéis de metal mantidos na posição vertical para criar a estrutura externa dos jatos bimotores.

A tecnologia foi obra da KUKA Systems, uma empresa com profundas raízes na fabricação de automóveis. O objetivo era substituir a mecânica humana que usava ferramentas manuais para inserir 60.000 rebites em cada avião. Os robôs foram exibidos como parte da fabricação avançada de que a Boeing é pioneira no 777X e planeja expandir para os futuros programas de jatos da próxima década.

Uma porta-voz da Advanced Integration Technology, que comprou a divisão KUKA que fabricou os robôs da Boeing, recusou-se a comentar sobre a decisão da fabricante de aviões de mudar para uma tecnologia diferente.

Fora de sincronia

Avião Boeing 777X Fuselagem
Imagem: Boeing

Mas a fabricante de aviões lutou para manter sincronizados os robôs da parte externa e da interna dos painéis da fuselagem, criando problemas de produção quando introduziu a tecnologia FAUB na linha 777. Um relatório do Seattle Times de 2016 descreveu que houve um aumento de horas extras de trabalhadores por conta de trabalhos incompletos que foram concluídos após a saída dos jatos da fábrica.

“Foi difícil. Levou anos da minha vida ”, disse Jason Clark, vice-presidente da Boeing que supervisionava a produção do 777X, durante uma entrevista no início deste ano.

O insucesso do robô não é uma perda completa. A Boeing aprendeu algumas lições valiosas com seu “primeiro mergulho profundo nesse tipo de tecnologia”, disse Clark. “Nos ensinou como projetar para a automação.”

O novo método que a Boeing coloca no lugar dos robôs cria menos desgaste dos trabalhadores, uma vez que as máquinas lidam com uma das tarefas mais exigentes fisicamente do conjunto da fuselagem: fazer furos no metal.

Além disso, “redesenhamos partes da construção da aeronave para substituir os rebites por formas de fixação menos difíceis, melhorando ainda mais a ergonomia”, disse Bergman. A combinação deve trazer melhorias na segurança, qualidade e fluxo na fábrica, disse ele.

Apesar da mudança no processo específico de fixação, a empresa ainda depende fortemente de robôs para fabricar a aeronave. A automação vai desde as asas de material composto, que são produzidas a partir de máquinas que giram uma fita com resina de infusão, até veículos autoguiados usados ​​para transportar grandes componentes dentro da fábrica.

Murilo Basseto
Murilo Bassetohttp://aeroin.net
Formado em Engenharia Mecânica e com Pós-Graduação em Engenharia de Manutenção Aeronáutica, possui mais de 6 anos de experiência na área controle técnico de manutenção aeronáutica.

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