Azul tem o rating de crédito rebaixado pela agência Fitch

A Fitch Ratings rebaixou os IDRs (Issuer Default Ratings – Ratings de Inadimplência do Emissor) de Longo Prazo em Moedas Estrangeira e Local da Azul S.A. (Azul) para ‘CCC-‘, de ‘CCC+’, e o seu Rating Nacional de Longo Prazo para ‘CCC(bra)’, de ‘B(bra)’. Ao mesmo tempo, a agência rebaixou o rating das notas sem garantia da Azul Investments LLP para ‘CCC-‘/’RR4’, de ‘CCC+’/’RR4’.

Os rebaixamentos refletem os altos riscos de refinanciamento da Azul, as pressões no fluxo de caixa operacional da companhia, a deterioração de sua liquidez, de acordo com a metodologia da Fitch, e as restrições mais acentuadas no mercado de crédito local, em função da inadimplência da Americanas S.A. (Americanas).

Um cenário de renegociação menos favorável com empresas de arrendamento e outros fornecedores relevantes, apesar do suporte comprovado destes durante a pandemia de coronavírus, também foi considerado nesta ação de rating.

Principais fundamentos

Elevados Riscos de Refinanciamento: Os obstáculos enfrentados pela Azul refletem o aperto do crédito no mercado local e as incertezas quanto à recuperação das condições de concessão de crédito. A empresa tem buscado o refinanciamento de suas obrigações de arrendamento e demais dívidas, ao mesmo tempo em que investe na renovação da frota. Estes desafios incluem dívidas no mercado de capitais com vencimento em 2024 e 2026, o que pressiona os ratings.

Em 30 de setembro de 2022, os vencimentos de curto prazo da Azul totalizavam BRL5,1 bilhões (BRL1,3 bilhão em dívidas financeiras e BRL3,8 bilhões de obrigações com arrendamento). O caixa prontamente disponível da companhia, de acordo com a metodologia da Fitch, se reduziu para BRL1,4 bilhão, de BRL3,4 bilhões, no final de dezembro de 2021. A dívida total, de BRL18,8 bilhões, é composta por BRL14,4 bilhões em obrigações com arrendamento e BRL5,5 bilhões em notas seniores internacionais (BRL2,2 bilhões com vencimento em 2024 e BRL3,2 bilhões, em 2026).

Fluxo de Caixa Livre Negativo: O aumento nos pagamentos de obrigações com arrendamento após a redução ou o adiamento destes durante a pandemia de coronavírus, aliado às altas taxas de juros e aos ainda elevados preços do combustível, vem pressionando o fluxo de caixa livre (FCF) da Azul. A Fitch estima amortizações totais de obrigações com arrendamento, incluindo despesas com juros, em torno de BRL3,8 bilhões em 2022 e de BRL3,3 bilhões em 2023 – um aumento significativo em relação a BRL1,4 bilhão em 2020 e BRL2,1 bilhões em 2021. O FCF da Azul deve ficar negativo em BRL2,2 bilhões em 2023, o que está em linha com a expectativa da agência para o ano passado.

Melhora do EBITDA: Benefícios relacionados à eliminação dos impostos PIS/COFINS, a redução dos preços do combustível, frente a patamares extremamente elevados anteriormente, e algumas melhoras na estrutura de custos favorecerão o crescimento do fluxo de caixa operacional da Azul. A Fitch acredita que o EBITDA da companhia atingirá cerca de BRL5,3 bilhões em 2023 e BRL5,8 bilhões em 2024, o que representa um aumento em relação ao patamar projetado de BRL3,0 bilhões para 2022. O desempenho da Azul durante o ano passado reflete, em grande parte, a elevação dos preços dos combustíveis, que foi parcialmente compensada pelo aumento substancial dos yields.

Durante o primeiro, o segundo e o terceiro trimestres de 2022, o preço médio do combustível da Azul aumentou 57%, 81% e 85%, respectivamente, enquanto os yields aumentaram 34%, 53% e 39%, respectivamente. A estratégia de gestão de yields tem sido sustentada pela demanda reprimida após a pandemia e pela forte recuperação da demanda do tráfego corporativo. A demanda do mercado doméstico brasileiro se recuperou fortemente, com o tráfego de passageiros em 2022 ficando apenas 7% abaixo do mesmo período de 2019. O comportamento mais racional das três maiores empresas do mercado brasileira provavelmente sustentará yields fortes por um período.

Forte Posição no Mercado Doméstico: O perfil de crédito da Azul se favorece de sua posição singular no mercado de aviação regional no Brasil, com forte presença em destinos pouco atendidos por outras empresas e baixa sobreposição de rotas com as concorrentes Gol Linhas Aéreas Inteligentes S.A. (Gol) e LATAM Airlines Group S.A. (LATAM). A Azul é a única prestadora de serviços em 77% de suas rotas e uma das duas maiores companhias aéreas do Brasil, com participação de mercado, medida por Receita por Passageiro por Quilômetro (RPK), em torno de 29% em 2022. Como o Brasil é o mercado-chave da empresa, seus resultados operacionais estão altamente vinculados à economia do país.

Informações da Fitch

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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