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Bateria antiaérea russa teria disparado duas vezes contra avião Embraer e sem ter certeza do alvo

Detalhes sobre o abate do Embraer E190 da Azerbaijan Airlines (AZAL) surgiram na mídia independente russa e apontam a uma série de falhas dos militares. O jato E190 que fazia o voo 8243 de Baku para Grozny não foi identificado de maneira adequada e uma falta de comunicação entre baterias e central de comando teria levado ao abate.

De acordo com informações publicadas pelo canal russo no Telegram ВЧК-ОГПУ, que conta com mais de 1 milhão de seguidores, o avião foi atingido por dois mísseis disparados pelo sistema de defesa aérea Pantsir. A versão oficial, se for publicada, pode tentar minimizar o erro humano e técnico.

Contradições e confusão no comando

Inicialmente, os mísseis teriam sido lançados contra um suposto drone ucraniano, mas seguiram uma “trajetória segura” e explodiram perto do avião, que estaria “no lugar errado na hora errada”.

Essa explicação, apontada como prioritária pelo chefe do Comitê de Investigação, Alexander Bastrykin, motivou uma busca intensiva por partes do drone, sem sucesso. Equipes da Guarda Nacional Russa continuam vasculhando uma área de 40 quilômetros quadrados, mas não encontraram evidências que sustentem essa narrativa.

O canal ВЧК-ОГПУ destacou que os sistemas de guerra eletrônica (EW) presentes no local desempenharam um papel crucial no caos. O sinal do EW, registrado por mais de 24 horas após o incidente, interferiu tanto em aeronaves civis quanto nos próprios sistemas de defesa aérea, impossibilitando a identificação correta dos alvos.

Até o momento, nenhuma unidade ou organização assumiu a responsabilidade por operar o dispositivo, apesar de ser conhecido que a Rússia pratica o jamming (embaralhamento de sinais) na região, exatamente para tentar se defender dos drones ucranianos, já que seu escudo antiaéreo é falho.

Erros operacionais e falhas de comunicação

De acordo com a investigação, as equipes do Pantsir não receberam informações sobre os horários de voos civis e nenhum militar russo estava no centro de controle de voos, o que contribuiu para a confusão.

O comandante da unidade que disparou os mísseis afirmou ter feito duas ligações para Rostov, onde fica o centro de comando responsável pela área, antes de atirar, mas os alvos não foram identificados corretamente devido à interferência.

Enquanto isso, outra bateria de Pantsir, localizada no próprio Aeroporto de Grozny, identificou visualmente o avião civil e optou por não disparar.

Essa discrepância foi confirmada por uma gravação de áudio na sala de controle de tráfego aéreo, onde o comandante da segunda unidade relatou ao controlador que tinha o avião em seu campo de visão.

Cronograma revisado e evidências ocultas

A análise de gravações de áudio entre o controlador de tráfego aéreo e a tripulação revelou que o impacto no avião ocorreu por volta das 08h14, e não às 08h16, como inicialmente relatado.

Em uma transcrição marcada como “ininteligível”, foi possível ouvir a tripulação relatando um possível choque com “uma ave”. A investigação concluiu que as explosões dos mísseis coincidem com o momento do impacto na aeronave, contrariando a versão de erro de trajetória.

O incidente expôs a desorganização nas operações de defesa aérea, evidenciando a falta de coordenação entre as equipes, a ausência de informações sobre voos civis e a interferência de sistemas de guerra eletrônica.

A investigação continua, mas as inconsistências nas versões oficiais aumentam as dúvidas sobre o que realmente aconteceu nos céus de Grozny.

Histórico de abates de aviões civis por equipamentos russos

O caso do voo da Azerbaijan Airlines é o primeiro envolvendo a bateria antiaérea móvel Pantsir, que quase foi comprada pelo Exército Brasileiro no início da década passada, mas reforça o tenebroso histórico de equipamento antiaéreo russo sendo usado contra aviões civis, envolvendo vários modelos de baterias antiaéreas.

Pantsir disparando em treinamento na Rússia | Foto: DepositPhotos

Em 2014 o Boeing 777 da Malaysia Airlines foi derrubado, matando 298 pessoas. No caso, uma bateria russa Buk 9M, operada por separatistas pró-Rússia dentro da Ucrânia, confundiu o avião comercial com um caça de ataque ao solo do modelo Sukhoi Su-25 da Força Aérea Ucraniana, que estava operando na região nos dias anteriores, mas não exatamente naquele dia.

Já em 2018 uma bateria de fabricação russa S200 operada por sírios derrubou um Ilyushin IL-20, e Moscou acusou Israel de ter voado com seus caças F-16 no espaço aéreo da Síria e ao lado do avião de vigilância russo, que teria servido de “escudo humano” para os Falcons da Força Aérea de Israel. Na ocasião, 15 militares russos morreram.

No caso mais recente no Oriente Médio, em 2020, uma bateria Tor M1 do Irã abateu um Boeing 737-800 da Ukraine International Airlines que partia da capital Teerã, vitimando 176 pessoas.

Em todos os casos, é consistente o treinamento precário das tropas com equipamento russo, além de desorganização dentro das instituições militares, que são potencializadas por sistemas militares de baixa tecnologia, onde raramente é possível diferenciar uma aeronave civil de uma militar, ou uma amiga de uma inimiga, mesmo os aviões tendo assinatura-radar completamente distinta e com perfis de voos diversos.

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