Biden cita discriminação racial em cobrança por assento conforto em voos

O Presidente dos EUA, Joe Biden, tem atacado novamente as companhias aéreas, agora falando de cobranças fúteis que afetam pessoas negras.

Foto por Gage Skidmore

Desde que entrou no governo, em meio à pandemia, Joe Biden tem apontado para as companhias aéreas, que não viram com bons olhos a entrada do ex-prefeito Pete Buttigieg para conduzir a pasta dos transportes.

Pete era prefeito de South Bend, uma cidade ao norte de Indiana, próximo da divisa com o Michigan e Illinois, com 100 mil habitantes. Sua formação acadêmica é em Artes e a parte mais próxima da sua experiência profissional com transportes e logística foi quando serviu no Exército Americano, apesar de ser na parte de Inteligência e não com tropas em solo.

A distância dele do setor aéreo, ferroviário e rodoviário não agradou ao mercado de transportes e, desde que tomou posse como Secretário de Transportes (cargo equivalente ao de Ministro), ele tem anunciado várias medidas para coibir atrasos e cancelamentos das companhias aéreas, seguindo um pouco do modelo europeu, que estabelece multas e compensação financeira.

Nos EUA, a empresa só é obrigada a compensar o passageiro em caso de overbooking, no restante das situações, que saem da programação do voo, elas devem fornecer apenas uma vaga no próximo voo disponível, não necessariamente em outra companhia aérea.

A fala de Biden

O presidente americano falou durante uma coletiva para a imprensa em Washington, acompanhado de Rohit Chopra, Diretor do Bureau de Proteção do Consumidor, e de Lina Khan, Presidente da Comissão Federal de Comércio.

Biden falou sobre as chamadas “Junk Fees” ou “Taxas de Lixo”, na tradução literal, que pode ser interpretada como “cobranças estúpidas” ou “bestas”, no português mais popular.

Ele cita vários exemplos, como taxas extras de hotel, cobrança alta por atraso na fatura do cartão de crédito e até multa de cancelamento de planos de celular, TV e afins. Segundo o Presidente, um estudo feito pelo seu governo aponta que as famílias americanas gastam até $400 dólares por mês, em torno de 15% a 20% do salário mínimo a depender do estado, com essas “taxas estúpidas“.

Segundo Biden, estes gastos a mais tem consumido parte do salário dos americanos e diminuído seu poder de compra, além de aumentar o endividamento e que, agora, essas cobranças “escondidas” serão proibidas. Apesar de não anunciar nenhuma medida nova que, de fato, afete as empresas aéreas, ele deu um exemplo claro de taxa cobrada pelas empresas que ele considera estúpida.

“Eu não estou falando que eles não podem cobrar, mas eles tem que deixar claro o que vão cobrar, e aí você decide. Algumas empresas aéreas, se você quiser 15 centímetros a mais de espaço entre você e o assento à frente, você acaba pagando mais e não sabe. Isto são taxas estúpidas, elas não são justas e atingem americanos marginalizados principalmente, especialmente pessoas de cor”, afirmou o Presidente.

Nos EUA, o termo “pessoas de cor” se refere à negros e pardos, que tem a cor da pele mais escura e que, historicamente, assim como no Brasil, são em sua maioria mais pobres que as pessoas brancas.

No entanto, ao afirmar “especialmente pessoas de cor”, a fala de Biden soou como racista para alguns, ao generalizar que todas as pessoas negras do país fossem pobres, ou não soubessem diferenciar um assento comum de um conforto, que tem maior espaço para as pernas e a poltrona reclina mais, a chamada “Econômica Premium”.

Uma página de notícias da política americana, a Washington Free Beacon, conhecida por críticas aos Democratas, publicou o vídeo da fala de Biden, sem edição, e ele já teve mais de 1 milhão e 800 mil visualizações.

Com isso as críticas vieram a jato, e uma delas foi sarcástica, feita por um prefeito republicano de um condado no Tennesse, que ironizou Biden ao falar com sarcasmo que “Eu sempre achei injusto o espaço nos assentos dos voos comerciais para as pessoas gordas como eu, e isso precisa de intervenção federal. Agradeço o presidente para dar atenção adequada à esse problema crucial”.

Já o jornalista americano de origem latina Emmanuel Rincón, criticou a interferência do governo na iniciativa privada: “Biden agora quer ditar o que as empresas privadas devem fazer com seus negócios. Um político nunca pode ter a possibilidade de se intrometer em decisões executivas das empresas, mesmo que não esteja de acordo, é um abuso de poder”.

Carlos Martins
Carlos Martins
Fascinado por aviões desde 1999, se formou em Aeronáutica estudando na Cal State Long Beach e Western Michigan University. #GoBroncos #GoBeach #2A

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