Bloqueadores de Bolsonaro causaram interferência no GPS de aviões em Brasília

A instalação de bloqueadores de sinais para drones pelo Governo Bolsonaro interferiu no GPS e no pouso de aeronaves em Brasília.

Vista aérea do terminal de Brasília. Imagem: Divulgação / Inframerica.

A conclusão é de um relatório da Anatel divulgado no ano passado mas só revelado agora pelo portal The Intercept Brasil. A investigação começou após dezenas de relatos de perda ou degradação de sinal GPS que é utilizado para a navegação por RNAV, que é padrão em quase todo o mundo hoje.

O relatório mostra que a maioria dos reportes feitos por pilotos aconteceram próximo ao Plano Piloto de Brasília, que tem um formato de um avião. Os relatos foram levantados por pilotos de aeronaves privadas, de segurança pública, da própria Força Aérea Brasileira, mas também de companhias aéreas como a Azul, GOL e LATAM.

Foram ao todo 173 reportes, sendo que em único dia foram feitos 24, levando à suspensão temporária dos procedimentos de pouso RNAV no Aeroporto Internacional JK, na capital federal. No vídeo acima é mostrado como esse sistema de navegação por GPS funciona.

De início se pensou que fosse uma interferência da telefonia móvel, principalmente da nova banda de dados 5G, e por causa disso foram desligadas algumas torres de celular em Brasília, mas o problema persistiu.

Pontos de reporte dos pilotos – Anatel

Por causa disso, a Anatel pediu auxílio à Força Aérea Brasileira para que utilizasse aviões do GEIV – o Grupo Especial de Inspeção em Voo – para detectar a interferência e aferir os procedimentos.

Após uma negativa da FAB, a Polícia Civil do Distrito Federal cedeu um helicóptero Airbus H125 Esquilo, que foi equipado com um equipamento rastreador da Anatel, que apontou para uma suspeita já existente: Os Jammers de Drones do GSI – Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.

Jammers são interferidores de sinais, sendo utilizado bastante por forças de defesa e segurança, a fim de atrapalhar os sistemas inimigos. O GSI comprou em 20 jammers anti-drone após um temor do governo Bolsonaro de um ataque contra o Presidente feito por via aérea, como mostrado no vídeo abaixo em entrevista dada pelo então Presidente:

Foram instalados 4 destes bloqueadores: 1 unidade no Palácio do Alvorada; 1 unidade no Palácio do Jaburu e 2 unidades no Palácio do Planalto. Bolsonaro inclusive tinha falado na época que só depois da instalação destes equipamentos que teve segurança para fazer caminhadas a pé em volta das instalações presidenciais.

No entanto, este equipamento, apesar de efetivo contra drones, tem um canal de rádio que funciona exatamente na mesma frequência utilizada pelo RNAV e, por ser um bloqueador de sinal, impede a utilização deste sistema de navegação aérea.

Área afetada pelos jammers se instalados a 2 metros de altura nos prédios do governo citados – Anatel

No estudo feito pela Anatel, a área de ação dos bloqueadores inclui o Aeroporto de Brasília. Pelo fato da capital federal ficar num planalto, a propagação do Jammer é maior, já que existe linha de visada direta do eixo central para quase toda a cidade, incluindo o aeroporto.

O desligamento dos sistemas só ocorreu em 31 de março de 2022, quase 2 anos após iniciarem os problemas, que incluíram uma arremetida por perda de sinal RNAV num voo comercial. A Anatel não mensurou o prejuízo causado nas operações aéreas e de telefonia pela instalação do sistema.

Carlos Martins
Carlos Martins
Fascinado por aviões desde 1999, se formou em Aeronáutica estudando na Cal State Long Beach e Western Michigan University. #GoBroncos #GoBeach #2A

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