Boeing 747 volta a voar 11 meses após ter destruído sua cauda ao raspá-la na pista

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Após quase um ano fora de serviço para trabalhos de reparo, voltou a decolar na última quarta-feira, 6 de janeiro de 2021, o Boeing 747 que havia sofrido grandes danos em sua cauda durante um incidente na decolagem.

A cauda do Boeing 747 danificada

Recapitulando a ocorrência

Conforme acompanhamos em fevereiro de 2020, no dia 1º daquele mês o avião Jumbo do modelo 747-400F, de matrícula TC-MCT, sofreu um ‘tail strike’, ou seja, um impacto da cauda com a pista, no momento em que decolava a partir da cabeceira 16R do aeroporto de Dammam, na Árabia Saudita.

Pertencente à ACT Airlines (MyCargo) e operado naquela ocasião pela Saudi Arabian Airlines, o jato cargueiro teve muitas chapas arrancadas e estruturas internas danificadas em função da força com que atritou a seção traseira da fuselagem contra o solo.

Após o sério incidente no início do voo que seguiria até Zaragoza, na Espanha, a tripulação decidiu desviar para o aeroporto de Jeddah, também na Arábia Saudita, possivelmente por considerar que o local teria melhores condições para a realização de reparos.

A rota do voo

O desvio e o pouso ocorreram sem maiores intercorrências, entretanto, o voo durou quase três horas e atingiu até 18 mil pés, o que parece indicar que os pilotos não tinham plena noção da gravidade dos danos.

Desde então, o Jumbo permaneceu fora de serviço, com uma única atualização sobre o incidente divulgada pelo The Aviation Herald em 26 de fevereiro, na qual a investigação inicial sugeria que dados de voo incorretos resultaram em velocidades substancialmente baixas para a decolagem, que permaneceram não detectadas até o piloto puxar o manche e a cauda atingir a pista.

Nessa situação, o ‘tail strike’ acontece porque a velocidade reduzida faz com que as asas não gerem sustentação suficiente para tirar a aeronave do solo, ou seja, à medida que o piloto puxa o manche, o nariz continua se elevando até a cauda atingir o solo sem o avião ter começado a ganhar altura.

De volta ao céu, mas com ressalva

Após o pouso em Jeddah, a aeronave nunca mais havia sido registrada em voo pelos sites de monitoramento radar até esta semana.

Enquanto o voo do incidente apresentava código SVA da companhia aérea Saudi Arabian, o Boeing 747 partiu na última quarta-feira com código RUN da própria ACT Airlines.

O voo RUN909P decolou com destino ao Aeroporto Internacional Sabiha Gokcen, em Instambul, Turquia, porém, a jornada de 4 horas e 24 minutos foi feita na altitude máxima de 12 mil pés, segundo registros do FlightRadar24.

O voo de 6 de janeiro – FlightRadar24

Esse comportamento parece indicar que o jato ainda não está sendo testado para retornar ao serviço, mas sim, transladado para um local com melhor infraestrutura para conclusão dos reparos, por exemplo.

Um voo de teste teria subido a altitudes de cruzeiro acima dos 30 mil pés para avaliação do sistema de pressurização da aeronave, uma análise necessária após reparos estruturais que possam afetar o “vaso de pressão” que é a fuselagem. A altitude máxima de 12 mil pés atingida permite que os pilotos voem sem necessidade de pressurização, sendo suficiente apenas um fornecimento de oxigênio para maior conforto respiratório a bordo.

Assim, apesar da volta ao céu, o TC-MCT não deve retornar de imediato às operações cargueiras regulares. Possivelmente ele passará pela conclusão dos serviços de manutenção em Istambul, ou ao menos por uma avaliação técnica antes de um novo voo de teste em maior altitude para validação de sua aeronavegabilidade para retorno ao serviço.

Vale lembrar que, no passado, um catastrófico acidente aconteceu com um Boeing 747 que, após um ‘tail strike’, não teve os reparos corretamente executados e acabou sofrendo falha estrutural em um voo regular muitos anos depois. Por este e outros casos, a aviação hoje possui uma atenção especial voltada à qualidade da manutenção em um caso como este.

Para rever todos os detalhes da história do acidente de 1985, você pode clicar aqui para acessar a matéria.

Murilo Basseto
Murilo Bassetohttp://aeroin.net
Formado em Engenharia Mecânica e com Pós-Graduação em Engenharia de Manutenção Aeronáutica, possui mais de 6 anos de experiência na área controle técnico de manutenção aeronáutica.

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