Boeing 787 da El Al só pode sobrevoar o Sudão após cidadãos locais desligarem a TV

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Sem muito alarde ou anúncios, um voo da El Al realizado no começo de junho atingiu um marco histórico ao ser o voo comercial com avião israelense a sobrevoar o Sudão. A autorização para o sobrevoo foi dada sob condições um tanto especiais.

O feito aconteceu durante um voo direto de Buenos Aires para Tel Aviv, no último dia 5 de junho. A empresa israelense El Al não tem voos para a América do Sul e a operação especial teve como objetivo a repatriação de judeus presos na Argentina durante a pandemia.

Num voo como esse, em dias “normais”, o Dreamliner teria que contornar a costa da África pelo Mar Mediterrâneo, antes de pousar em Tel Aviv, deixando o voo muito mais longo e custoso. Mas dessa vez foi diferente depois que o Sudão aprovou o sobrevoo pela primeira vez, numa atitude que foi entendida como mais um passo da reaproximação dos dois países, outrora inimigos, segundo o Times of Israel.

A impossibilidade de voar por sobre o Sudão sempre foi um enorme entrave para a El Al, que via seus planos de ter voos para a América do Sul inviabilizados. O próprio voo para São Paulo durou pouco tempo, depois que a rota se mostrou inviável pelo mesmo motivo acima.

Quem sabe essa situação pode ser revertida agora.

O voo em linha reta economizou duas horas de voo

O Sudão não reconhece e Estado de Israel, portanto, até agora ele não havia permitido sobrevoos de aeronaves israelenses. As negociações para mudar isso estão em andamento há muito tempo. Mas o avanço ocorreu somente após a queda do ditador Omar al-Bashir em 2019. 

Em fevereiro desse ano, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu se encontrou com o chefe do governo interino do Sudão, Abdel-Fattah Burhan. O tópico de direitos de sobrevoo também foi discutido.

De qualquer maneira, viabilizar esse momento demandou o estabelecimento de condições especiais.

Tela do FR24 mostra a aeronave sobre o Sudão

Detalhes do voo

O voo de ida para Buenos Aires, com inspetores de alimentos kosher, seguiu a rota usual, pelo Mediterrâneo e depois ingressou em espaço aéreo internacional sobre o Atlântico. Após 16h30 de voo, o voo ELY46 pousou em Buenos Aires.

Segundo o Middle East Monitor, a luz verde para o voo direto na volta, que tinha cidadãos israelenses repatriados, foi dada no dia da operação, mas as autoridades sudanesas procuraram minimizar a atenção ao fato e, por isso insistiram que o voo fosse atrasado para que só entrasse em seu espaço aéreo após o encerramento da transmissão da TV estatal local.

Com isso, o voo de volta do Boeing 787 de matrícula 4X-ERA durou “apenas” 14h21, ou duas horas a menos do que na ida, segundo os dados do FlightAware.

Ainda há muita lenha para queimar até que a El Al consiga autorização para que seus voos regulares sobrevoem o Sudão, mas já é um começo.

Desvios não são incomuns para El Al. Vinte países continuam bloqueando a companhia aérea israelense: Afeganistão, Argélia, Bahrein, Bangladesh, Brunei, Irã, Iraque, Catar, Kuwait, Líbano, Líbia, Malásia, Marrocos, Paquistão, Arábia Saudita, Somália, Síria, Tunísia, Emirados Árabes Unidos e Iêmen.

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Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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