Boeing recebe outro processo judicial milionário, dessa vez de uma empresa aérea falida

A Comair usava a marca da British Airways sob licença

A empresa aérea sul-africana Comair, hoje com operações encerradas, entrou com uma ação num tribunal federal americano contra a Boeing, alegando fraude e quebra de contrato. De acordo com o processo, a empresa está buscando uma indenização de US$ 83 milhões, como resultado da conduta da fabricante no caso do 737 MAX.

De acordo com o processo, em 2010, a Boeing estava sob pressão de seu maior concorrente, a Airbus. Para levar o novo modelo 737 MAX ao mercado rapidamente, “a Boeing assumiu atalhos, fez declarações falsas e ocultou informações sobre o projeto”.

Uma das falhas centrais do 737 MAX eram seus novos motores, que eram maiores e não cabiam facilmente sob as asas. Para que o motor não tocasse no solo, a Boeing moveu-os e, como resultado, fez com que o nariz da aeronave se levantasse de forma anormal durante o voo. Em vez de fazer as mudanças aerodinâmicas necessárias para evitar o problema, a fabricante tentou combatê-lo com um novo software chamado Maneuvering Characteristics Augmentation System (“MCAS”), que se ativava automaticamente.

Um piloto de testes da Boeing relatou que demorou mais de 10 segundos para responder a uma ativação não comandada do MCAS, descrevendo-a como uma condição “catastrófica”. Em vez de corrigir os problemas, a Boeing os ocultou dos clientes e da FAA, e excluiu a referência ao MCAS do “Flight Crew Operations Manual”.

Em 19 de setembro de 2013, a Comair celebrou um contrato de compra com a Boeing para a venda de oito aeronaves 737 MAX por um preço base total de mais de US$ 98 milhões.

No entanto, em 28 de outubro de 2018, um 737 MAX (Lion Air 610) caiu 11 minutos após a decolagem de Jacarta, na Indonésia, matando todos os 189 passageiros e tripulantes a bordo. Em 10 de março de 2019, outro 737 MAX (Ethiopian 302) caiu seis minutos após a decolagem de Adis Abeba, na Etiópia, matando todos os 157 passageiros e tripulantes a bordo.

Como resultado desses acidentes, todas as aeronaves 737 MAX da Boeing foram aterradas em todo o mundo. Um comitê do Congresso dos EUA investigou o 737 MAX e concluiu que havia um “padrão perturbador de erros de cálculo técnicos e erros de julgamento de gerenciamento preocupantes da Boeing” e uma “cultura de ocultação” na Boeing. Entre as descobertas do comitê, estava que a Boeing ocultou informações cruciais da FAA e de seus clientes, incluindo a “ocultação da própria existência do MCAS dos pilotos do 737 MAX”.

Àquela altura, a Comair já havia pago à Boeing mais de US$ 45 milhões em pagamentos adiantados de sete aeronaves 737 MAX e o pagamento integral em uma aeronave 737 MAX que recebeu. No entanto, a Boeing se recusou a devolver os depósitos antecipados das sete aeronaves que nunca entregou à Comair.

Como resultado, a Comair diz que sofreu danos adicionais como resultado do aterramento de seu 737 MAX, com uma perda total de mais de US$ 83 milhões. A Comair está agora buscando a indenização dos danos causados.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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