Boeing ‘rouba’ engenheiros aeronáuticos brasileiros e gera discussão em rede social

Foto: Boeing

Desde o início deste ano, a fabricante de aeronaves Boeing tem aberto processos de seleção para o recrutamento de engenheiros brasileiros. A iniciativa da empresa americana, no entanto, não parecer estar agradando a todos e os sentimentos foram externados na semana passada, numa publicação na rede social profissional LinkedIN.

Num post em que a Boeing celebrava os 90 anos no Brasil, os ânimos esquentaram na seção de comentários, depois que César Silva, CEO do Grupo Akaer, tradicional empresa de engenharia e tecnologia, atuante em projetos como o caça Gripen e o KC-390, entre outros, reclamou da agressividade da fabricante dos EUA.

Opinião da empresa

Para Silva, a Boeing estaria levando os melhores profissionais do Brasil para atuar em programas nos EUA e isso poderia destruir um ecossistema construído por anos, em sua visão.

“Estilo de predador, chega de mansinho, pede informações, se aproveita delas e depois faz propostas totalmente acima de mercado aos nossos melhores profissionais num claro movimento destruidor de nossa base de engenharia, para aproveitar em seus programas nos EUA”, disse Silva. “Aborda empresas da Base Industrial de Defesa e faz um assedio cruel e violente tirando as pessoas que foram formadas durante anos, com investimentos do próprio governo”, disse o executivo.

“Deixo claro que não estou contra o pagamento de salários maiores para os engenheiros, Concorrência e competição são boas e saudáveis. O que critico é a forma, a avidez e a falta de ética com que este ataque e assédio estão sendo feitos. Imagina uma empresa com 100 engenheiros que por ofertas de 30% a 50% acima do mercado tiram 70 em menos de 2 meses e entre eles os melhores que estavam na empresa de 10 a 20 anos”, prosseguiu.

“É o famoso poder econômico destruindo um ecossistema estabelecido de maneira repentina e predatória sem dar chance de adaptação. É isto que queremos para nosso país? Nossos melhores engenheiros de repente deixando de atender aos programas estratégicos de nosso país, para atender as necessidades imediatas de um “big gorilla” americano, olhando exclusivamente aos seus interesses e não do Brasil e das empresas brasileiras. E vem pagar de “Parceiro do Brasil”“, disse em outro post.

Contrapontos

Engenheiros, por sua vez, discordam e acreditam que tudo faz parte dos desafios tradicionais de retenção de talentos.

“Atrair e reter profissionais é um desafio global, como vocês, que atuam em parceria com vários países, devem estar percebendo. Repense a estratégia, diversifique produtos e mercados, sempre vi na Akaer, e em outras empresas parceiras com quem já tive contato, o potencial de uma diversificação de mercados que as OEMs não têm, e portanto um enorme potencial de faturamento. Lidere pelo exemplo. Pessoas satisfeitas não buscam outras oportunidades. Culpar o concorrente por oferecer uma condição melhor de trabalho não vai te trazer nenhum resultado”, disse o usuário João Victor Souza.

“Centenas de pessoas foram demitidas em 2018 pela Embraer. Muitos profissionais sabiam que não iria conseguir o mesmo salário então estava preparado para enfrentar o que teria pela frente. Quando o mercado finalmente começou aquecer após um ano, as terceiras começaram como predadoras, contratar os mesmos profissionais por um quarto do salário, sabendo que eles estavam passando fome e iria aceitar. isso sim é “forma de predador”. A Boeing chegou e está nivelando o campo”, falou Rogério Silveiro.

“Acredito ser altamente positiva para o país a geração de mais empregos de alta tecnologia, maior geração de impostos e transferência de tecnologia. Isto é altamente positivo para outras empresas do setor em um futuro próximo que poderão se beneficiar oferecendo consultoria e parcerias para desenvolvimento conjunto. E a Akaer, através de seu legado, é uma das que mais se beneficiará”, citou Télio Mendes.

Em suma

Que a chegada da Boeing causou uma movimentação na região de São José dos Campos e que tudo faz parte do livre mercado, não restam dúvidas. As opiniões do CEO da Akaer, por sua vez, também têm sua legitimidade e não estão sozinhas. Embora ele tenha vocalizado o tema, outros executivos do setor também já falaram ao AEROIN com posições críticas à postura da fabricante americana.

Esse será um assunto bastante discutido por algum tempo nas regiões de alta tecnologia do país, sobretudo com rumores de que outras empresas estrangeiras também estariam interessadas em seguir os passos da Boeing. Resta acompanhar como a indústria nacional vencerá esse desafio.

Veja abaixo algumas capturas de tela da discussão na rede social. As publicações não estão em sequência. A conversa completa pode ser acompanhada no LinkedIN.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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