Boeing venderá os 737 MAX construídos para aéreas chinesas, mas que não pode entregar

N509FZ, CC BY-SA 4.0, via Wikimedia

Em um novo capítulo da amarga batalha política e comercial entre os Estados Unidos e a China, a Boeing anunciou que começará a vender parte dos 737 MAX que construiu para seus clientes daquele país e que não pode entregar devido a atrasos na liberação total do modelo pela autoridade aeronáutica daquele país.

Como informa o Aviacionline, tanto o CEO Dave Calhoun quanto o CFO Brian West concordaram que não há espaço para continuar esperando por uma decisão da CAAC (regulador da aviação chinesa), enquanto os aviões estão se acumulando no armazenamento e o dinheiro para entregas ainda não está chegando.

Calhoun disse hoje à Cúpula Aeroespacial da Câmara de Comércio dos EUA que “um dia voltaremos à China. Mas não será em breve”. West, por sua vez, falou em uma conferência organizada pelo Morgan Stanley e afirmou que “adiamos as decisões sobre esses aviões por muito tempo. Não podemos continuar adiando-os para sempre.”

Calhoun acrescentou que o processo de revenda desses aviões será gradual, para “proteger os clientes chineses“, mas que “não podemos continuar esperando”.

A China é um mercado extremamente importante para o setor aéreo global. O mercado doméstico é um dos maiores do planeta e tanto a Airbus quanto a Boeing lutam há anos para dominar o segmento de aeronaves de curto e médio curso com mais de 150 assentos.

A crise de confiança no 737 MAX é apenas um tempero de uma situação que inclui a tensão geopolítica entre os Estados Unidos e a China, o clima tenso da questão de Taiwan e até a chegada de um concorrente nativo.

O COMAC C919, que deverá ser finalmente certificado na próxima segunda-feira, 19 de setembro, procura apresentar-se como uma alternativa de substituição ao 737 NG e ao Airbus A320ceo. Ainda há uma distância qualitativa significativa a percorrer para poder rivalizar com as famílias MAX e neo, mas se a decisão da CAAC continuar sendo adiada, não seria incomum que as companhias aéreas não tivessem outra opção a não ser recorrer ao produto local.

A não certificação do 737 MAX daria à COMAC um aval inesperado, pois mesmo com um mercado cativo, os dois fabricantes ocidentais dominam amplamente o portfólio de frotas futuras das operadoras.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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