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Brasileiro está por trás do desafio dos pilotos que trocarão de avião em mergulho ao solo

Paulo Iscold

No próximo domingo, dia 24 de abril, os pilotos e paraquedistas Luke Aikins e Andy Farrington pularão de aviões que estarão em voo e em direção ao solo, e em menos de um minuto, trocarão de lugares. Na prática, cada um deles vai decolar com seu avião e vai pousar o do outro.

Um conceito verdadeiramente único e sem precedente, o desafio denominado ‘Plane Swap’ exigirá nervos de aço e engenharia precisa. E a Red Bull agora mostra detalhes sobre a engenharia por trás do grande feito a ser realizado.

Idealizada por Aikins, que se inspirou em uma foto dos anos 1990 em uma publicação de aviação, a ideia inicialmente parecia absurda, até mesmo para o engenheiro, professor e piloto brasileiro Paulo Iscold.

Iscold conheceu Aikins depois que o mestre de paraquedismo saltou de 25.000 pés (cerca de 7.620 metros) sem pára-quedas e caiu em uma rede gigante em 2016. O professor de engenharia aeroespacial questionou a sanidade de Aikins, mas depois de muitas discussões, Iscold pôde apreciar a ciência por trás do ato temerário, o que o incentivou a fazer parte do novo desafio.

Iscold disse: “Ele me contou sobre a ideia de trocar de avião no ar e parecia loucura. Ninguém tinha feito isso antes e eu gostei da ideia de me envolver em algo que ninguém nunca fez. Eu disse a ele imediatamente: ‘Estou dentro, quero fazer isso. O que for preciso, eu vou fazer’”.

Os aviões do desafio – Imagem: Michael Clark / Red Bull Content Pool

O maior desafio para Iscold, que projetou aviões que estabeleceram vários recordes mundiais nas últimas duas décadas, como o Projeto Anequim, foi desenvolver uma maneira de os aviões desacelerarem em vez de acelerarem em direção ao solo. Os aviões também precisam permanecer estáveis o suficiente nessa descida para que Aikins e Farrington possam entrar nos aviões e assumir o controle da aeronave.

Iscold rapidamente descobriu que havia alguns problemas importantes que precisavam ser resolvidos.

As aeronaves precisavam manter o voo em formação em direção ao solo e permanecer estáveis o suficiente para que os paraquedistas manobrassem pelo ar e entrassem em uma porta da largura de uma geladeira doméstica, mas não tão alta.

Os aviões também teriam que ‘desacelerar’ na descida, porque, no mergulho, a aeronave viajaria a uma velocidade muito alta para que os paraquedistas os alcançassem. Além disso, os aviões logo se desintegrariam em pleno ar por causa da velocidade.

Isso significou que Iscold e sua equipe tiveram que apresentar duas soluções que seriam desenvolvidas exclusivamente para o ‘Plane Swap’: a primeira era um freio de velocidade, que não apenas desaceleraria o avião no mergulho, mas também o manteria estável; a segunda, foi o desenvolvimento de um piloto automático que pudesse controlar os aviões enquanto Aikins e Farrington saíssem e entrassem novamente nas aeronaves.

Iscold explica: “Normalmente, um piloto automático é projetado para fazer o avião voar reto e nivelado, não diretamente para baixo. Então sabíamos desde o primeiro dia que tínhamos que desenvolver esse aspecto. Também percebemos muito cedo no desenvolvimento que o avião tinha que ser capaz de se mover com o vento, pois o paraquedista estaria flutuando com o vento. Então eles tinham que dividir a mesma massa de ar.”

Para resolver o problema do freio de velocidade, Ryan Malherbe, membro da equipe, apresentou uma solução inteligente. O freio seria fixado na barriga dos aviões Cessna 182 e, quando eles entrassem em um mergulho, ele se abriria e ficaria perpendicular à barriga dos aviões.

Após testes iniciais em que o avião foi levantado por um guindaste e o freio aerodinâmico acionado, outros vários testes no ar permitiram que a equipe fizesse ajustes minuciosos para atingir o ângulo de mergulho de 90 graus necessário para o sucesso da acrobacia. Isso significava que o fluxo de ar ao redor das asas e da cauda do avião tinha que ser calculado com precisão.

Em seguida veio a personalização do piloto automático. Para que a acrobacia seja um sucesso, os aviões precisam voar controlados e em formação em direção ao solo, e o sistema precisa trabalhar em conjunto com o freio de velocidade.

Iscold trabalhou em estreita colaboração com o professor da Cal Poly San Luis Obispo, Leo Torres, para resolver o problema.

Inicialmente, o sistema era muito preciso e continuamente autocorrigia os aviões, dificultando a entrada de Aikins e Farrington. Isso significou que o piloto automático foi modificado para se tornar “preguiçoso” e facilitar a vida da dupla.

A reentrada de cada um dos paraquedistas foi um problema particularmente difícil de resolver, com os aviões viajando a cerca de 225 km/h durante a queda livre. A Força-G teve que ser considerada, pois Aikins e Farrington precisam entrar no avião, apertar o botão para desativar o mergulho e corrigir automaticamente o avião de volta para um ângulo e então retomar o voo normal, tudo isso com a gravidade os puxando para a frente do avião, e não contra o assento como de costume.

Iscold diz: “O fato de o avião estar na vertical e você não poder sentar no seu assento foi uma das minhas principais preocupações. Eu criei todos os tipos de soluções para permitir que eles se movessem dentro do avião enquanto saltavam com paraquedas nas costas. Durante o primeiro teste, Andy conseguiu agarrar o suporte da asa e se deslocar em direção ao batente da porta. Ele tinha uma perna e um braço dentro do avião, o outro do lado de fora. Isso permitiu que ele iniciasse o processo de recuperação do mergulhador e depois se sentasse no banco. Isso mostrou que, como engenheiro, é super fácil criar problemas para soluções que nem existem. É por isso que fizemos todos os voos de teste durante o desenvolvimento do projeto.”

Uma vez que os pilotos retomem o controle dos aviões, o freio deve ser imediatamente retraído para que o avião possa aumentar a velocidade. De acordo com os cálculos de Iscold, toda a proeza levará menos de um minuto quando os aviões entrarem em queda livre. “É literalmente algo como todo o trabalho que venho fazendo há um ano será para 40 segundos de voo de mergulho”, diz ele. “São 365 dias de trabalho para 40 segundos de resultado.”

Os testes estão ocorrendo nos últimos meses no aeroporto de San Luis Obispo, com o piloto acrobático Aaron Fitzgerald participando de vários treinos. Estes testes forneceram a Iscold e à equipe muitos dados, portanto, eles estão totalmente preparados mesmo para o clima mais quente que é esperado quando o ‘Plane Swap’ ocorrer no deserto do Arizona em 24 de abril.

Iscold diz: “Há um pouco de diferença com a temperatura mais quente. A velocidade de descida é um pouco maior porque o ar é menos denso. Mas em San Luis Obispo, o vento offshore também é muito turbulento. Isso não deve ser o caso no Arizona. Portanto, os voos de teste nos deram algumas médias muito boas e espero que o Arizona não nos dê um dia quente e louco.”

Tendo completado vários treinos e coletado dados científicos, Iscold agora acredita que Aikins não é tão “louco” quanto parecia à primeira vista. Ele diz: “A diferença entre ser louco e um gênio é muito pequena. Luke, com certeza, está do lado dos gênios. Você conversa com ele e pode pensar que suas ideias são loucas, mas no fundo de sua mente, ele tem um plano e esses planos são muito bem elaborados. Então, não, ele não é louco.”

O vídeo em que Paulo Iscold explica o desafio pode ser acessado neste link (em inglês, com legenda disponível em espanhol).

Informações da Red Bull

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