CEO da Latam diz que mais voos em Congonhas é ‘tiro no pé’ se não houver planejamento

O CEO da Latam Brasil, Jerome Cadier, sempre muito ativo na rede social profissional LinkedIN, compartilhou, na manhã desta segunda-feira (18), sua opinião sobre o projeto de aumento no número de operações no aeroporto de Congonhas, que está sendo estudado pela Infraero (atual administradora do terminal) e por autoridades ligadas à aviação.

Sobre este tema, o AEROIN fez uma publicação, no final do ano passado, apresentando os cenários que vinham sendo estudados pelos atores envolvidos no processo. À época, não existia uma data para que o aumento de operações no crítico aeroporto paulista fosse implementado, mas os rumores de que isso deve ocorrer ganharam força nas últimas semanas.

Para Cadier, o assunto teria ganho celeridade nos últimos tempos, com possível intuito de agregar um falso valor ao aeroporto, num momento em que o país está a poucos dias de vivenciar o leilão da sétima rodada de concessões, que inclui o aeroporto de Congonhas.

A fala de Cadier

Abaixo, está a transcrição completa da fala do chefe-executivo da Latam Brasil:

“Aparentemente, na semana passada ganhou corpo um rumor que a Infraero considera aumentar agora a quantidade de pousos e decolagens do aeroporto de Congonhas. Qual o impacto se isto acontecer?

“O aeroporto de Congonhas será licitado agora em Agosto. O plano de licitação exige uma série de investimentos no aeroporto e isto permite, aí sim, um aumento de capacidade. Isto faz sentido. Aumentar a capacidade sem este investimento é uma decisão altamente questionável.

O aeroporto já opera na sua capacidade, como muitos de vocês que passam por lá já testemunharam (quem lembra do embarque remoto nos portões de baixo?). Colocar mais voos na mesma infraestrutura vai levar obrigatoriamente a mais atrasos, mais filas, mais congestionamentos de pessoas, carros e aviões, mais passageiros desconectados e cancelamentos de voos. Não tem magia.

Mas por que fariam isto? Provavelmente por que querem aumentar a atratividade para os investidores no leilão de Agosto. O que estão deixando de enxergar é que quem vai pagar a conta desta decisão equivocada é o próprio ganhador do leilão, já que fica claro que todos os custos associados a este aumento não são de responsabilidade das empresas aéreas que operam em Congonhas, mas sim do concessionário que vai assumir depois da Infraero.

Será então uma boa decisão? Como passageiro, sei que não é. Quero mais voos em Congonhas, mas este aumento tem que ser possível em função da infraestrutura do aeroporto (acesso viário, estacionamento de carros, terminais de check-in, raio-x, pontes de embarque, terminal remoto, saguão, espaço para ônibus e tráfego dos equipamentos do lado ar, espaço de manobra e estacionamento para os aviões, esteiras de bagagem). Se não muda a infraestrutura, não muda a capacidade.

Torço para que o bom senso impere. Lembro-me sempre da frase: “Não há almoço de graça”.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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