Chegando e partindo, 2 aviões ficaram a 518 metros na pista por decisão falha do controlador

Boeing 737-800 da Ryanair – Imagem ilustrativa – Fonte: Dirk Vorderstraße / CC BY 2.0, via Wikimedia Commons

Nesta terça-feira, 11 de janeiro de 2022, tomou-se conhecimento de que a Comissão de Investigação de Acidentes e Incidentes de Aviação Civil (CIAIAC) da Espanha emitiu seu relatório final sobre um grave incidente envolvendo dois aviões da Ryanair.

Eles estiveram a uma separação de apenas 518 metros entre si no momento em que um pousava e o outro decolava, ambos na mesma pista. Na ocasião, às 19:50 (horário UTC) do dia 11 de setembro de 2019, ocorreu o incidente de perda de separação na pista 13 do Aeroporto de Málaga-Costa del Sol, na Espanha.

Como tudo ocorreu

A primeira aeronave foi o Boeing 737-800 registrado sob a matrícula EI-ENH, partindo com o indicativo RYR75JV do Aeroporto de Málaga-Costa del Sol (LEMG).

A segunda aeronave foi o Boeing 737-800 de matrícula EI-DYR, voando com o indicativo RYR9UD, com destino ao Aeroporto de Málaga-Costa del Sol.

O aeroporto de Málaga-Costa del Sol estava usando a configuração preferencial de pista única, com decolagens e pousos pela cabeceira da pista 13. O piloto da aeronave RYR75JV notificou a torre de controle de que estava pronto para decolar enquanto taxiava para o ponto de espera HN-3 na pista 13. O controlador de tráfego aéreo instruiu-o a aguardar no ponto de espera da pista.

O piloto da aeronave RYR9UD então informou ao controlador de tráfego aéreo que estava estabilizado no localizador da pista 13, e o controlador o instruiu a continuar sua aproximação para o pouso.

Subsequentemente, o controlador de tráfego aéreo instruiu a aeronave RYR75JV a alinhar na pista 13 e aguardar a autorização de decolagem.

A aeronave RYR9UD notificou o controlador de tráfego aéreo que estava descendo para 500 pés às 19:53:21. O controlador de tráfego aéreo respondeu instruindo-a a continuar e aguardar pela autorização tardia de pouso.

Nesse momento, a aeronave RYR9UD estava a 1,7 milha náutica (3,1 km) da cabeceira da pista 13 e a aeronave RYR75JV estava taxiando em direção à pista 13. O controlador de tráfego aéreo não reconheceu o perigo iminente decorrente da perda da separação regulatória e continuou com o plano inicial da manobra, instruindo a aeronave a continuar na aproximação sem informar a aeronave que estava prestes a decolar.

Dado que o tráfego de chegada estava próximo da cabeceira da pista e a aeronave de partida estava a meio caminho entre o ponto de espera e a cabeceira da pista, o controlador de tráfego aéreo poderia ter evitado uma perda de separação e, portanto, uma situação potencialmente perigosa, instruindo o tráfego de chegada a abortar sua aproximação e cancelando a decolagem da aeronave em taxiamento.

No entanto, às 19:53:59 UTC, quando já estava a 200 pés de altitude praticamente cruzando a cabeceira, o controlador autorizou a aeronave RYR9UD a pousar mantendo à vista o tráfego decolando na pista 13. Nesse momento, a aeronave RYR75JV estava em sua corrida de decolagem a uma velocidade de 90 nós (166 km/h) e a distância entre as duas aeronaves era de 0,4 milha náutica (740 metros).

Assim, não havia garantia de que a separação regulatória poderia ser mantida, pois a aeronave em aproximação estava viajando mais rápido que a aeronave na decolagem, reduzindo cada vez mais a separação entre ambas.

A aeronave RYR9UD pousou na pista com uma velocidade de 141 nós (260 km/h) em relação ao solo. Por sua vez, a aeronave RYR75JV estava em sua corrida de decolagem executando a manobra de rotação, com velocidade no solo de 157 nós (290 km/h) em relação ao solo. A distância mínima entre as duas aeronaves chegou a 0,28 milha náutica (518 metros).

A sequência de eventos descrita acima levou a uma ocorrência de perda de separação e, uma vez que ambas as aeronaves estavam na pista ao mesmo tempo, caracterizou-se também como um incidente de incursão em pista.

Causas / Fatores Contribuintes

A investigação apurou que o incidente ocorreu porque uma aeronave recebeu autorização para pousar em uma pista que estava ocupada por outra aeronave em processo de decolagem, sem respeitar as distâncias regulamentares.

O planejamento deficiente do controlador de tráfego aéreo, que aproveitou o intervalo entre dois pousos para autorizar a decolagem, é considerado um fator contribuinte para o incidente.

Além disso, dado o perigo imediato que representa a perda da separação regulamentar, a ausência de tomada de decisão (para cancelar a decolagem, por exemplo) por parte do controlador de tráfego aéreo é também considerada um fator.

Com informações do relatório da CIAIAC

Murilo Basseto
Murilo Bassetohttp://aeroin.net
Formado em Engenharia Mecânica e com Pós-Graduação em Engenharia de Manutenção Aeronáutica, possui mais de 6 anos de experiência na área controle técnico de manutenção aeronáutica.

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