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Mesmo com 27 alertas, pilotos decolaram Fokker 50 que caiu no Quênia, revela relatório final

Investigadores quenianos revelaram neste começo de ano que os pilotos de um Fokker 50, que caiu no Quênia instantes após decolar em 2014, continuaram com a decolagem de sua aeronave apesar de vários alertas sonoros na cabine, acionados por consequência de um sério problema de motor.

Acidente Fokker 50 Skyward Nairobi 2014

O inquérito sobre o acidente, envolvendo o turboélice de matrícula 5Y-CET da companhia aérea Skyward International Aviation quando partia do principal aeroporto internacional de Nairóbi, constatou que 27 alertas de alto nível soaram quando a aeronave correu pela pista 06.

A aeronave estava realizando um serviço de carga para Mogadíscio na noite do dia 2 de julho de 2014. O comandante era o piloto em comando, e o primeiro oficial (copiloto) era o piloto em monitoramento.

O relatório final, com data de novembro de 2019, mas publicado apenas recentemente, indica que os alertas sonoros começaram logo aos 8 segundos após a aplicação de potência para decolagem, portanto bem abaixo da velocidade de decisão V1, e mesmo assim a tripulação não agiu para abortar a corrida.

Fokker 50 da Skyward, igual ao acidentado em 2014 – Imagem: Omar Abdisalan [CC]

Falha de motor

As informações do gravador de dados de voo indicam que o motor Pratt & Whitney Canada PW125 do lado esquerdo estava apresentando problemas, com valores de torque crescentes e rotação de hélice decrescente em comparação com o motor do lado direito.

Na sua corrida de solo, a aeronave parecia usar mais pista do que o esperado antes de atingir a velocidade de decolagem, declara o departamento de investigação de acidentes aéreos do Quênia.

A aeronave decolou do aeroporto com velocidade de cerca de 100 nós, mas “mal subindo”, diz o inquérito, atingindo não mais de 50 pés acima do solo após cerca de 20 segundos, enquanto se desviava continuamente para a esquerda do alinhamento central da pista.

Posteriormente, colidiu com um edifício a 2100 metros norte-nordeste do final da pista. Nenhum dos quatro ocupantes – dois pilotos, um engenheiro e um operador de carga – sobreviveu.

Peso acima do permitido

Além da falha de motor, os investigadores encontraram incoerências na folha de cálculo de peso e balanceamento.

A aeronave estava de 500 a 1.500 kg acima do seu peso máximo na decolagem (MTOW) certificado, agravando as consequências da falta de potência do motor esquerdo.

O problema já havia ocorrido antes

A análise das gravações do gravador de voz (CVR) do cockpit do Fokker 50 mostrou que já havia ocorrido um alerta sonoro no voo anterior e que a tripulação passou algum tempo tentando diagnosticar o problema.

Apesar das evidências do CVR, o primeiro oficial do voo “negou conhecimento” de qualquer anomalia, diz o inquérito. Ele faleceu posteriormente ao acidente, tendo sido entrevistado antes de perder a vida.

Contra as normas

Enquanto o alerta de “três toques” soou repetidamente durante a decolagem, o inquérito diz que “não está claro” porque a tripulação continuou o voo, principalmente porque o manual do Fokker exige uma rejeição de decolagem sob tais circunstâncias.

A aeronave foi originalmente entregue à Lufthansa CityLine em 1992 e serviu à Air Nostrum, à Oceanair entre 2003 e 2008 como PR-OAC, e à Denim Air, antes de ser transferida para a Skyward em maio de 2014. Ela havia sido operada no Quênia por apenas 92 horas antes do acidente.

O relatório aponta em sua conclusão que “A causa provável do acidente foi a decisão da tripulação de conduzir o voo com um problema mecânico conhecido e sua falha em abortar ou rejeitar a decolagem depois de receber vinte e sete alertas.”

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