Descaso com a vida dos pilotos e com todo o setor aeroagrícola. É assim que o presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), Thiago Magalhães Silva, classificou a postura da Embraer, após uma videoconferência no final da tarde da segunda-feira (17) com diretores da fabricante de aeronaves.
Segundo o Sindicato, o encontro, que na terça (18) resultou em uma notificação extrajudicial à fabricante, envolveu o Conselho Administrativo do Sindag e buscou soluções efetivas para o risco de quebra das asas em voo do avião agrícola Ipanema – frente a uma série de acidentes ocorridos nos últimos meses com o modelo, inclusive com consequências fatais para alguns pilotos.
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Diante do que os dirigentes aeroagrícolas classificaram como desdém por parte da fabricante frente à preocupação do setor, o sindicato aeroagrícola enviou a notificação extrajudicial ao Conselho de Administração da Embraer e ao Comitê de Auditoria, Riscos e Ética da fabricante de aeronaves. O documento pede que a empresa se manifeste em até 15 dias sobre as sete propostas apresentadas pelo sindicato aeroagrícola na reunião desta segunda.
A lista engloba desde a criação de um canal direto com a fábrica para os operadores de aeronaves Ipanema até um trabalho de engenharia para propor uma solução definitiva para o problema, entre outros pontos. O objetivo é chamar a atenção da empresa para a gravidade da situação referente a seu próprio produto. E cobrar de maneira mais firme uma postura proativa pela segurança de pilotos e pessoal de apoio.
Com 206 associadas, o Sindag abrange cerca de 90% das empresas aeroagrícolas em atividade no País. O modelo Ipanema é fabricado desde os anos 1970 pela Embraer, está atualmente em sua sétima geração – versões EMB 200 até a EMB 203-, e representa mais de 50% da frota aeroagrícola nacional (que é a segunda maior do mundo). Porém, uma nova série de acidentes com indício de perda da asa em pleno voo desde o final de 2021 abalou a confiança do setor no modelo, afirma a associação.
A reunião
O dirigente do Sindag destaca que os empresários aeroagrícolas saíram decepcionados do encontro via web na segunda-feira. Por parte da Embraer, a reunião envolveu os diretores das áreas de Relações Governamentais, da Unidade Botucatu (onde é fabricado o Ipanema) e de Produto.
“Vínhamos tentando uma reunião de emergência desde dezembro, em contato direto com diretores da Embraer. Aviões caindo, gente morrendo e a única resposta era de que eles estavam em férias e seria tratado sobre o assunto mais tarde. Somente depois que acessarmos, via Linkedin, o presidente da empresa, é que se conseguiu o encontro”, desabafa Magalhães.
Em um dos casos (em 5 de dezembro, em Lagoa da Confusão, Tocantins), o fato foi filmado e as imagens correram as redes sociais e os noticiários. Na ocasião, o piloto de um Ipanema EMB 202A estava fazendo um voo de teste, lançando água sobre a pista. O objetivo era avaliar o comportamento da aeronave com sua carga normal, já que ela tinha recém voltado de uma revisão. Logo após o lançamento, a asa esquerda do avião se partiu e ele caiu na lavoura de arroz (caso você não tenha visto ou queira ver novamente o vídeo do momento da quebra da asa em voo, clique aqui para acessar).
O piloto foi logo socorrido e sobreviveu com algumas fraturas e luxações. Segundo o Sindag, o aparelho estava com toda a manutenção em dia, inclusive a verificação periódica das longarinas das asas.
Possíveis quebras de asas são associadas também a outros dois acidentes posteriores, afirma o Sindicato, desta vez com mortes. Um deles, em 8 de janeiro, ocorreu em Sorriso/MT. O outro acidente com um Ipanema foi na última sexta-feira, dia 14, em Cafelândia/SP.
Desde 2013, os aviões Ipanema fabricados nos anos 1970 (EMB-200, EMB-200A, EMB-201 e EMB-201A) precisam passar por inspeção periódicas da longarina das asas e na fixação delas com a fuselagem, garantindo ausência de corrosão ou trincas.
Em 2015, a própria Anac publicou uma Diretriz de Aeronavegabilidade (DA) incluindo na lista de revisões também os modelos EMB-202 e EMB-202A (fabricados, respectivamente, a partir de 1991 e 2004). Isso, segundo o Sindag, devido a seis acidentes nos quais se comprovou a quebra da asa em voo como sendo a causa.
As informações acima são todas do Sindag