Mais um passo de integração das operações do Grupo Latam está sendo dado com a introdução do jato Boeing 787 no Brasil, após a saída dos Airbus A350.
O jato A350 da Airbus, do qual a Latam recebeu um total de treze unidades (embora não tenha operado todas elas), foi fruto de uma compra feita ainda na época da TAM, no ano de 2005, quando a empresa brasileira buscava uma aeronave para substituir os emblemáticos A330-200 – modelo que lhe trouxe transformação e fez um enorme sucesso ao alçar seu nome ao mundo.
Os primeiros A350 chegaram entre 2015 e 2016, ainda nas cores da TAM. Enquanto eles aterrissavam por aqui, LAN e TAM confirmavam um interesse relatado anos antes e fundiram suas operações, consolidando-se na marca Latam Airlines.
Tal movimento trouxe um novo contexto e um nova estratégia, já que a visão passara a ser a nível regional. Tudo isso, somado às crises no Brasil, a entrada de novos acionistas (sobretudo a chegada da Delta Air Lines em 2019) e a pandemia, fez com que o projeto de padronização de frota fosse acelerado. Então, em abril desse ano, a empresa oficialmente anunciou a retirada dos A350, com menos de seis anos de uso.
Um gap que será preenchido
Sem o A350 na frota, a LATAM Brasil ficou com uma lacuna em termos de capacidade na sua frota, faltando um modelo intermediário entre o clássico, mas moderno, Boeing 767-300ER e o 777-300ER, maior bimotor do mundo em operação.
Para ilustrar, segundo dados levantados pelo AEROIN, os 9 jatos de passageiros 767 da LATAM registrados no Brasil levam 221 passageiros, sendo que os 10 aviões 777 levam 410 passageiros (com exceção de um 777-300ER que consta nas bases de dados como configurado para 379 passageiros). A diferença é de 189 assentos entre um avião e outro, a capacidade de um A320.
Este “gap” poderia ser um problema para a LATAM na retomada do mercado, já que muitas rotas podem ficar pequenas para o 767 e não serem tão grandes em demanda para o 777. E, para isso, o 787 Dreamliner virá ao Brasil.
O processo de certificação já começou, mas a operação terá características diferentes do que estamos acostumados a ver.
Pilotados por brasileiros, mas com registro chileno
Conforme divulgado em redes sociais pelo Piloto-Chefe da LATAM Brasil, Alexandre Giannini, foi iniciada junto à ANAC a certificação do Boeing 787 Dreamliner no Brasil.
“O processo de certificação junto à ANAC do B787 na frota da JJ-Latam Brasil, é além de motivação e oportunidade de carreira aos tripulantes, um passo importante da empresa em direção a eficiência e sustentabilidade. Impulso relevante na indústria aeronáutica no Brasil”, Giannini afirmou.
Ao referir-se ao código JJ, original da TAM e utilizado até hoje pela LATAM Brasil, Giannini aponta que os 787 irão operar no Brasil e com pilotos brasileiros. De início, espera-se que o modelo seja certificado pela ANAC, enquanto os pilotos são treinados e habilitados no simulador da CAE em Santiago.
Por fim, os voos no Brasil começarão a ser realizados, mas sem que as aeronaves sejam transferidas para a divisão brasileira. Isto é possível devido a um acordo entre a ANAC e DGAC, seu par chileno, que permite o intercâmbio de aeronaves de um mesmo grupo, desde que operadas num território com pilotos nacionais daquele lugar.
Com o Boeing 787 na frota, as possibilidades se ampliam, com uma tripulação brasileira podendo fazer, por exemplo, São Paulo – Madri num avião de registro chileno. Esta rota, inclusive, já foi feita com o Dreamliner, quando o voo saía de Santiago e fazia uma escala em São Paulo, numa forma de utilizar uma tripulação chilena mesmo num voo saindo do Brasil para o exterior.
E o voo de Tel Aviv
Puxando um pouco o tema para outro lado. Infelizmente, não existe ainda uma previsão de que a rota para Tel Aviv, ainda suspensa, seja feita com tripulação brasileira, que apesar de poder voar aviões de matrícula chilena, não pode seguir a regra o país andino, que aos tripulantes realizarem voos com mais de 14 horas, como é o caso da rota de São Paulo a Israel.
Inclusive, o Sindicato Nacional dos Aeronautas no Brasil pediu para que fosse feita uma flexibilização baseada no Sistema de Gerenciamento de Risco de Fadiga Humana, de forma a garantir a segurança de voo. Porém, até hoje não houve avanço neste sentido.
Também não foi divulgado quando seria o possível início dos voos do 787 Dreamliner com tripulação brasileira, mas isso pode acontecer em questão de semanas, a depender do andamento da certificação com a ANAC e dos treinamentos.
Atualmente, a LATAM Chile conta com uma frota de 25 jatos 787 Dreamliner, sendo 10 do modelo 787-8 que leva até 247 passageiros, e 15 da variante maior 787-9, levando até 313 passageiros.