Início Mercado

Como as empresas aéreas fazem para ter dezenas de aviões se eles custam tão caro

Para que o avião seja considerado um meio de transporte seguro, cada novo exemplar que sai da fábrica é testado rigorosamente, num processo contínuo, iniciado muito antes com a homologação da aeronave e o cumprimento de milhares de horas de provas em solo e voando. Além disso, também é um setor onde a montagem das máquinas não é totalmente automatizada e requer mão de obra especializada, testes constantes e manutenção rígida.

Em um alto nível, esses fatores combinados fazem com que a produção de um avião seja naturalmente dispendiosa e os jatos mais populares saiam de fábrica custando mais de $ 100 milhões de dólares. Seria necessário, portanto, um aporte financeiro enorme, com imobilização de capital, para que uma empresa pudesse comprar ou financiar um avião.

Por conta disso, um dos mercados que mais cresceu nos últimos anos foi o de leasing ou arrendamento aeronáutico, que entrega para as empresas o avião e um custo mensal e/ou por uso altamente diluído, na forma de parcelas de um contrato que dura múltiplos anos.

Isso dá fôlego às empresas, que não mais precisam se preocupar com os custos de um financiamento de US$ 100 milhões com entrada e parcelas altas, por exemplo, mas sim em pagar parcelas de US$ 400 mil para usar a aeronave, sem imobilizar seu capital.

Ao final, a empresa pode simplesmente devolver a aeronave do lessor, trocando-a por uma mais nova, por exemplo, enquanto que a responsabilidade de encontrar um novo destino para o equipamento fica nas mãos do arrendador. Dado o contexto, há diversas formas de leasing, que são citadas abaixo.

Lembrando que o AEROIN produziu uma matéria vários meses atrás falando dos preços médios do leasing de aviões de passageiros.

Dry Lease

Este é o tipo de locação de aeronaves mais popular no mercado. A empresa de leasing arrenda o avião para a companhia aérea por vários anos. Após sua conclusão, a aeronave é devolvida ao proprietário, que pode oferecer a aeronave para a própria empresa comprar, se ela quiser. O dry leasing pressupõe que a transportadora aérea contrate pilotos e comissários de bordo de forma independente, faça a manutenção da aeronave e seu seguro.

Normalmente, as aeronaves de passageiros são operadas por 20 a 30 anos, e o prazo típico de dry leasing é de 5 a 10 anos, embora isso possa variar de acordo com a estratégia de cada empresa aérea. Portanto, se houver mudanças no mercado de viagens e essa aeronave específica deixar de ser necessária, o que fazer com ela será um problema da empresa de leasing, não da companhia aérea.

Wet Lease

Nessa modalidade, uma empresa aérea aluga uma aeronave de outra, geralmente especialista nesse tipo de negócio, sob um contrato que inclui a tripulação, manutenção e outros custos operacionais. Nesse caso, a companhia aérea que contrata será a responsável pelo esforço de venda para encher a aeronave de passageiros, sem se preocupar com questões operacionais.

Na prática, o dono do avião fornece manutenção e seguro do avião, e o cliente do voo reabastece a aeronave e paga as taxas aeroportuárias. Dados os serviços agregados, essa modalidade de arrendamento é mais cara do que o Dry Lease.

As companhias aéreas alugam aviões em regime de wet leasing quando há uma necessidade urgente de fazer um voo e não há aviões próprios disponíveis. Isso pode acontecer uma aeronave própria quebrar, por exemplo. Graças ao wet leasing, a transportadora aérea pode enviar rapidamente os seus passageiros, em vez de os fazer esperar que o avião seja reparado.

Às vezes, os aviões são alugados com tripulação por uma temporada: no verão, no Ano Novo ou nas férias da Páscoa, quando o tráfego de passageiros aumenta temporariamente. Como o dry leasing envolve o aluguel por vários anos, não é prático para as companhias aéreas adquirir uma aeronave nessas condições quando ela é necessária apenas por um período limitado de tempo durante o ano.

Leasing financeiro

Esta modalidade nada mais é do que um financiamento de longo prazo, onde a companhia aérea pega o avião, usa-o e paga o empréstimo com juros. Após a conclusão dos pagamentos, a aeronave passa a ser propriedade da transportadora aérea.

A desvantagem desse tipo de negócio é que o operador fica vinculado a um determinado tipo de aeronave por muitos anos. Por causa disso, a companhia aérea se torna menos flexível. Ela pode financiar o arrendamento de um avião grande e, se o mercado precisar de aviões menores, será forçado a suspender o avião grande.

Locação Reversa

As grandes companhias aéreas negociam grandes descontos com os fabricantes e compram lotes de aviões de uma só vez – dezenas ou até centenas de unidades. Além disso, para liberar recursos financeiros, eles podem vender essas aeronaves para empresas de leasing e arrendar essas mesmas aeronaves em regime de Dry Leasing a um preço reduzido.

O balanço entre aeronaves arrendadas e próprias depende de cada empresa e de cada modelo de negócios, então não existe uma fórmula. O que se nota, no entanto, é que a grande maioria das empresas aéreas de primeira linha do mundo usa aeronaves arrendadas em alguma proporção dentro de suas frotas.

Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.
Sair da versão mobile