Por questão técnica, companhia impede 3 mulheres de cinturas “grandes demais” de voarem na Executiva

Três mulheres da Nova Zelândia tiveram seu embarque negado para a classe executiva em um voo da Thai Airways porque eram “grandes demais” para voar nos assentos. Apesar de haver uma questão técnica envolvida, não foi uma experiência agradável para elas.

Avião Boeing 787-9 Thai Airways
Boeing 787-8 da Thai Airways – Imagem: Chihaya Sta [CC]

As três viajantes de Auckland, Huhana Iripa (59) e suas duas filhas, Tere (30) e Renell (28), haviam reservados passagens para voar na classe executiva do voo de número TG-49. Esse é o serviço noturno do Boeing 787-9 de Bangcoc, na Tailândia, até a Nova Zelândia.

Fita métrica

Em Bangcoc, as três foram “abordadas” pela equipe da Thai com fitas métricas.

As funcionárias mediram a cintura de uma das filhas, e disseram que as mulheres eram grandes demais para usar os cintos de segurança instalados na cabine da classe executiva do 787-9. O trio foi então colocado na classe econômica para o voo noturno, segundo relatou o New Zealand Herald no fim de semana.

Experiência humilhante

Huhana Iripa diz que foram discriminadas por causa de seu tamanho e que a experiência foi humilhante.

“Fomos totalmente humilhadas na frente de todos os outros passageiros. Fomos até o check-in da classe executiva e o funcionário da mesa nos olhou e disse ‘desculpe, você não pode ir’. Em seguida, havia cerca de cinco funcionários conversando em sua língua nativa, balançando a cabeça e olhando para nós como se tivéssemos cometido um crime. Um membro da equipe se adiantou e começou a dizer ‘não, você é grande demais, você é grande demais’. Ela então puxou uma fita métrica e envolveu minha filha Renell, antes de tentar fazer o mesmo comigo e com Tere.”

Após chegar à Nova Zelândia, Iripa levou a questão adiante e reclamou com a Thai Airways, que se ofereceu a pagar à família a diferença entre as tarifas das classes executiva e econômica. Isso não aplacou Iripa.

Felizmente para ela, a agência que vendeu as passagens, a Flight Center, prontificou-se e ofereceu-se para reembolsar o custo total.

Razões técnicas

Embora pareça apenas o caso de alguns funcionários de terra terem sido desonestos, existe uma questão técnico na limitação. A Thai Airways proibiu efetivamente os passageiros com uma cintura de mais de 56 polegadas (142 cm) de utilizarem a classe executiva desde 2018.

Por quê? Porque na época, a companhia recebeu seus primeiros Boeing 787-9 Dreamliners e os cinto de segurança da classe executiva do modelo não cabem em pessoas com cintura superior a 56 polegadas. Normalmente, os cintos de segurança podem ser estendidos, mas o mecanismo do airbag do 787-9 impede isso.

Também impede que os passageiros carreguem crianças de colo, relegando-as à classe econômica.

Novo cinto de segurança

Normalmente, um extensor de cinto de segurança pode ser usado para proteger crianças pequenas e passageiros maiores. Mas, nos novos cintos do fabricante AmSafe, do Arizona (EUA), como o airbag precisa ser centrado sobre a cintura do passageiro, um extensor interfere na eficácia do funcionamento do cinto de segurança e o torna menos seguro.

O airbag é acionado para cima e para frente do passageiro sentado, fornecendo proteção para a cabeça, pescoço e tórax. Uma alteração muito grande do comprimento do cinto levaria a um posicionamento errado do mecanismo.

Uma falha técnica significativa

Faz total sentido que um passageiro maior voe na classe executiva, se puder. Um assento mais amplo, além de ser mais confortável para eles e para as pessoas ao seu redor, permite ganho de agilidade para a saída em caso de evacuação emergencial.

Portanto, parece uma falha técnica significativa de projeto que o novo produto da classe executiva da Thai não possa acomodá-los. É ainda mais estranho que eles sejam relegados à classe econômica e espremidos em assentos menores.

Manter os passageiros em segurança é importante, a Thai Airways realmente precisa de um cinto que possa acomodar todos os tipos de corpos. E, até que isso aconteça, ela precisa encontrar uma maneira melhor de tratar seus passageiros do que com fitas métricas diante dos demais viajantes.

Murilo Basseto
Murilo Bassetohttp://aeroin.net
Formado em Engenharia Mecânica e com Pós-Graduação em Engenharia de Manutenção Aeronáutica, possui mais de 6 anos de experiência na área controle técnico de manutenção aeronáutica.

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