O mecânico da American Airlines acusado de sabotar um sistema de navegação de um avião que partiria de Miami com 150 passageiros a bordo foi condenado a três anos de prisão nessa quarta-feira (04), depois de um debate legal sobre se ele ameaçou a segurança da aeronave “de forma imprudente” ou “intencional”.
Abdul-Majeed Marouf Ahmed Alani, de 60 anos, que em dezembro se declarou culpado de adulterar a aeronave antes da decolagem no Aeroporto Internacional de Miami, recebeu o benefício de uma conduta “imprudente” da juíza norte-americana Marcia Cooke. A decisão foi baseada em um acordo entre seu advogado de defesa e os promotores federais.
Se a juíza considerasse que sua adulteração do sistema de orientação do avião pretendia derrubá-lo, Alani poderia ter recebido pena de duas a três vezes mais tempo sob as diretrizes federais de sentença.
Cooke apenas se recusou a conceder o pedido do réu de redução para dois anos e meio de prisão, afirmando que sua adulteração – apesar de ter sido em um sistema redundante – poderia ter causado “alguma calamidade infeliz”.
A adulteração
O mecânico chegou a dizer aos investigadores federais que ele não gostaria que sua família estivesse naquele avião depois que ele obstruiu um dos dois sistemas de módulos de dados aéreos da aeronave com um pedaço de material semelhante a espuma.
Ele fez isso para que fosse acionado um alerta de erro de leitura de velocidade antes da decolagem, para que o piloto tivesse que retornar o avião ao terminal para manutenção.
A violação de Alani ao sistema de módulo de dados aéreos foi descoberta durante uma inspeção do avião no hangar da American Airlines. Outro mecânico da companhia encontrou um tubo de pitot frouxamente conectado na região frontal da fuselagem, deliberadamente obstruído com algum tipo de material de espuma dura. Imagens de vídeo também mostraram Alani adulterando o sistema de navegação.
O advogado de defesa de Alani, Jonathan Meltz, disse ao juiz que sua intenção não era causar danos aos passageiros, mas causar um atraso ou cancelamento do voo para que ele pudesse receber horas extras fazendo trabalhos de manutenção. “A intenção de Alani era exclusivamente financeira”, disse Meltz.
O procurador assistente dos EUA, Randy Hummel, reforçou esse ponto, dizendo que claramente Alani pretendia adulterar o sistema da aeronave, mas não para causar um acidente após a decolagem. “Não vejo isso subindo ao nível de intenção de derrubar o avião, mas vejo isso como extrema imprudência”, disse Hummel à juíza.
Opinião do piloto da aeronave
Os investigadores também conversaram com o piloto da American Airlines do avião-alvo, e ele disse que o sistema de navegação não funcional “poderia ter resultado em um acidente”.
O piloto Richard Shafer disse que discorda da opinião do especialista da defesa, quando diz que “não há perigo” para os passageiros e a tripulação do voo. “Acredito firmemente que a adulteração deliberada do ADM da minha aeronave teria exposto meus passageiros e tripulação a um nível mais alto de perigo se a aeronave estivesse no ar”, disse Shafer em uma declaração judicial.
Ligação com terrorismo
Cooke também questionou o promotor sobre se o caso de Alani envolvia alguma conexão com o terrorismo. A juíza perguntou a Hummel por que ela recebeu um e-mail de alguém, sem revelar detalhes, sugerindo que as ações de Alani foram motivadas pelo terrorismo.
Hummel destacou que após a prisão do mecânico em setembro, agentes do FBI encontraram “vídeos muito perturbadores” do grupo terrorista ISIS no smartphone dele, mas que se mostraram inconclusivos. “Não tenho indicação de Alani ser membro do ISIS”, disse Hummel à juíza.
Alani é nascido no Iraque, mas morava na baía de San Francisco quando foi para o emprego na American Airlines em Miami. Ele trabalhava para a companhia aérea há 30 anos.
Na audiência de detenção de Alani, em setembro, após sua prisão, os promotores sugeriram que ele poderia ter possíveis ligações com o grupo terrorista do Oriente Médio.
Os promotores disseram que Alani permitiu ao FBI procurar em seu smartphone e os agentes encontraram um vídeo do ISIS no qual uma pessoa estava sendo baleada na cabeça, e que ele enviou o vídeo para alguém com uma mensagem em árabe pedindo a “Allah” que se vingasse de não-muçulmanos.
Mas após sua prisão, Alani disse aos investigadores que desativou o sistema de navegação da aeronave, na manhã de 17 de julho, porque ficou chateado com as negociações de contratos sindicais com a American Airlines.
Ele disse que queria gerar algumas horas extras para manutenção no avião. Depois de fazer um turno duplo em 17 de julho, ele realmente fez algumas horas extras no avião com deficiência. Em média, ele ganhava US$ 9.400 por mês como mecânico.