Condores nas Malvinas: o papel das Aerolíneas Argentinas e Austral na guerra de 1982

Em Río Gallegos, um grupo de pilotos ouve o briefing meteorológico para outro voo de ponte aérea para as Malvinas. A tripulação do Hércules da Força Aérea recebe os dados do vento de superfície e as condições superam o máximo que o avião suporta.

 Ao fundo, um civil levanta a mão. Seu companheiro, outro civil, olha para ele como se pedisse para ficar quieto. Porém, a mão segue totalmente estendida. Era Eduardo Blau, comandante do Boeing 737 da Aerolíneas Argentinas, que diz “podemos ir”.

A participação da Aerolíneas Argentinas no esforço logístico da guerra pelas Ilhas Malvinas é uma das páginas menos contadas de sua história, relata o site portenho Aviacionline. E ainda, uma das que melhor retrata a essência histórica e o sentimento de pertencimento de quem fez parte da empresa. Amor pelo que se fez e pelo que se faz. Quando foram convocados para colaborar, já haviam começado a planejar por conta própria.

A pista de Puerto Argentino tinha 1.250 metros de comprimento. As condições meteorológicas não eram ideais. A área de espera dos aviões estava sobre turfa congelada. Não houve um único incidente operacional. Nem um único pneu foi furado. As tripulações operavam em um ambiente marginal, com condições extremamente difíceis, sem nenhuma proteção legal. Não havia seguro para pilotos civis em uma zona de guerra. Ninguém se importou.

A Austral também fez parte do esforço de guerra: o BAC 1-11 com a matrícula LV-OAX voou durante todo o mês de abril e no retorno da cessação das hostilidades até o final de junho.

Os jatos iam e vinham no limite do peso máximo de decolagem, com a instrução de levar menos de 15 minutos entre o pouso e a decolagem. Desembarcaram os soldados e a carga em menos de 10. Os pilotos faziam quatro voos por dia e, junto a eles, havia uma equipe de manutenção, apoio operacional, técnicos, despachantes, operadores de plataforma que davam o seu melhor.

Entre 11 e 29 de abril de 1982, foram realizados 89 dos 92 voos programados com 110 soldados por voo, mais equipamentos. Sem combustível extra: apenas o suficiente para a viagem de ida e volta. Um quilo a mais de combustível era um quilo a menos de lenha para as cozinhas de campanha.

Naquele 29 de abril, com a frota britânica agora totalmente capaz de iniciar as operações, a participação civil no transporte aéreo terminou. A partir daí, a responsabilidade pelo transporte passaria a depender exclusivamente dos recursos aéreos militares. Das 8.020 horas de voo envolvidas no transporte aéreo, a Aerolíneas Argentinas voou 1.004 e a Austral 141.

Hoje, as tripulações desses voos civis são consideradas veteranos de guerra. Como o Esquadrão Phoenix, eles foram listados como soldados de alma e guerreiros de coração. 

Anos se passaram e o 2 de abril é um dia agridoce para os argentinos. Como em qualquer guerra, o melhor e o pior das sociedades aparecem e se mostram sem filtros. Entre esses atos heroicos, entre essas ações que trazem o melhor de nós, está a coragem desses argentinos que, mesmo quando as condições eram impossíveis, levantaram a mão.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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