Crescimento da mobilidade aérea deve resultar em falta de mão de obra em aviação comercial

Aeronave eVTOL em teste – Imagem: Joby Aviation, via YouTube

No final de maio, a gigante norte-americana do comércio eletrônico Amazon anunciou que a Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA) aprovou a empresa para conduzir operações de drones além da linha de alcance visual (BVLOS) em sua área experimental de entrega em College Station, Texas.

Resolver o desafio central da integração do espaço aéreo para permitir as operações BVLOS em College Station marca um momento inovador tanto para Sistemas de Aeronaves Não Tripuladas (UAS) quanto para Mobilidade Aérea Avançada (AAM), que podem expandir ambos os mercados para uma capitalização estimada de US$ 102 bilhões até 2030.

Com os mercados de UAS e AAM em transição para a viabilidade comercial, Jekaterina Shalopanova, Diretora de Negócios da Aerviva, empresa baseada em Dubai e que trabalha com soluções de recrutamento de pessoal na aviação, explica como o crescimento destes mercados resultará em escassez de mão de obra na indústria.

Escassez de Mão de Obra na Aviação Comercial

A perspectiva de pilotos comerciais e técnicos da Boeing (Boeing’s commercial pilot and technician outlook), uma ferramenta estabelecida para prever escassez de profissionais no mercado, projeta a demanda por até 649.000 novos pilotos, 690.000 novos técnicos de manutenção e 938.000 novos membros da tripulação de cabine nos próximos 20 anos.

A edição mais recente da perspectiva de mercado da Boeing, publicada em 2023, leva em conta os efeitos da AAM e do transporte alternativo na necessidade de pilotos, mas não considera em sua metodologia o efeito da tecnologia de aeronaves não tripuladas para prever as necessidades de mão de obra da indústria da aviação.

“O crescimento da aviação não tripulada tem sido amplamente desconsiderado nas projeções atuais do mercado de trabalho da aviação”, disse Shalopanova.

De acordo com a Grand View Research, o tamanho do mercado de entregas por drones atingirá US$ 57 bilhões até 2030. Essa capitalização de mercado é apenas para entregas por drones e não inclui outras plataformas potenciais. No entanto, olhando para o mercado de entregas por drones, podemos ver áreas onde esse segmento do mercado de UAS tirará espaço da aviação tradicional.

Por exemplo, a Dronamics, com sede na Bulgária, firmou acordos interline com a Qatar Airways Cargo e a empresa de logística Aramex, com sede nos Emirados Árabes Unidos, com aprovação regulatória para operar em toda a Europa, mantendo-se firme no lançamento de operações comerciais já em 2025.

O drone Black Swan da Dronamics é movido por um motor fabricado pela Rotax, que é o design mais popular para aeronaves de aviação geral leve. O drone Black Swan também é de decolagem e pouso convencionais, operando em aeroportos tradicionais, usando pessoal e equipamentos tradicionais para carregamento e descarregamento.

“Já na Europa, aeronaves não tripuladas estão exigindo serviços de mecânicos de aeronaves tradicionais, aumentando a competitividade na contratação de pessoal de manutenção qualificado”, disse Shalopanova.

À medida que as plataformas UAS têm sua utilização ampliada, elas provavelmente exigirão mais recursos usados pelo mercado de aeronaves tradicionais. Grandes fabricantes de sistemas de aeronaves não tripuladas, como a Natilus, com sede em San Diego, Califórnia, estão projetando plataformas não tripuladas como a Kona, com capacidade de carga de 3,8 toneladas, que utilizará o motor Pratt & Whitney PT6, de acordo com a empresa.

Outras empresas estão automatizando modelos de aeronaves atuais, como a Reliable Robotics e a Xwing, que são parceiras de transportadoras expressas como FedEx e UPS e automatizaram aeronaves Cessna 208 Caravan. Ambas as empresas disseram que esperam escalar sua plataforma de automação para modelos de aeronaves maiores, incluindo o ATR.

Isso pode causar um aumento na demanda por trabalhadores de manutenção, que já são necessários para aeronaves tradicionais dos mesmos modelos que não foram automatizados.

“As plataformas emergentes estão cada vez mais atraindo engenheiros aeroespaciais tradicionais em seu design e manutenção, é provável que isso continue e aumente a competitividade para atrair pessoal qualificado”, disse Shalopanova.

Ascensão da AAM

A competição potencial por recursos com a indústria de aeronaves existente também pode vir do mercado de AAM, que deve atingir mais de US$ 45 bilhões até 2030. Esses estudos originam-se de pesquisas da Precedent e levam em conta o crescimento atual de empresas que estão desenvolvendo aeronaves AAM, como Ehang, Airbus, Boeing, Joby Aviation, Hyundai Motor Company, Lilium e Matternet.

A previsão da Boeing já inclui um efeito das plataformas AAM, que podem substituir helicópteros em certos casos de uso, e podem transportar de 4 a 6 passageiros e carga, com capacidade de decolagem e pouso vertical e motorização elétrica.

Nos Estados Unidos, a United Airlines e a fabricante Archer anunciaram uma parceria para utilizar AAM como uma alternativa ao transporte terrestre para conectar passageiros do centro de Chicago ao aeroporto O’Hare. De acordo com uma recente postagem de emprego da Archer, a empresa está exigindo pilotos de transporte aéreo com licença FAA para seu recrutamento inicial.

“Quando as plataformas AAM exigem os mesmos requisitos de licenciamento que as companhias aéreas, isso significa que o mercado de trabalho para esses pilotos se tornará mais competitivo à medida que a indústria cresce”, disse Shalopanova.

Em novembro de 2023, a fabricante Job Aviation realizou um teste de voo em Manhattan, abrindo caminho para seu uso nesse espaço aéreo. Atualmente, helicópteros convencionais podem transportar passageiros do centro de Manhattan para o Aeroporto Internacional John F. Kennedy com um aumento de 30% na tarifa – com preços variando dependendo das condições de mercado em tempo real.

Para o caso de uso de Manhattan para JFK, a pesquisa da Deloitte descobriu que as plataformas AAM poderiam reduzir os custos em 14%, com economias futuras aumentando para 24%.

“A mobilidade aérea avançada oferece uma tremenda disrupção de economia de custos tanto para situações interurbanas quanto de cidade para áreas rurais”, disse Shalopanova. “Em todos os exemplos, a AAM aumentará as oportunidades de entrada dos clientes no mercado de aviação.”

Algumas plataformas, como a Alia 250 da Beta Technologies, já receberam pedidos da Uber, UPS, Blade e Air New Zealand, entre outros. A Alia, assim como outras plataformas AAM, como Joby e Lilium, está atualmente entre os projetos mais adiantados de plataformas AAM, que exigirão pilotos e, potencialmente, equipe de solo para operar.

Com os mercados de UAS e AAM à beira da maturidade, as empresas do mercado aeroespacial precisarão desenvolver novas estratégias para competir por pessoal qualificado. Em breve, as plataformas AAM e UAS atrairão potenciais profissionais da aviação, o que influenciará o mercado de trabalho da aviação.

As projeções atuais da indústria de UAS e AAM indicam que os mercados de drones e mobilidade avançada serão doze vezes o tamanho do grupo IAG. Se a capitalização de mercado for um indicador dos profissionais necessários, as empresas aeroespaciais precisarão abordar o recrutamento de forma diferente.

Informações da Aerviva, através do Avia Solutions Group

Murilo Basseto
Murilo Bassetohttp://aeroin.net
Formado em Engenharia Mecânica e com Pós-Graduação em Engenharia de Manutenção Aeronáutica, possui mais de 6 anos de experiência na área controle técnico de manutenção aeronáutica.

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