Crise no setor aéreo está afundando tripulantes em dívidas

Um dos grupos mais afetados do mercado de trabalho mundial pela grande crise gerada pela pandemia do coronavírus são os tripulantes. O mercado de trabalho de comissários de bordo e de pilotos de avião sofreu um baque nunca antes visto no segmento, como resultado da redução que chegou, no pico da pandemia, a 90% da demanda de passageiros e das ofertas de voo.

Imagem: Domínio público / CC0 1.0

Com essa assustadora redução, as companhias aéreas não tiveram muita escolha a não ser reduzir seus custos para sobreviver. Com meses em que a arrecadação de receitas beirou o zero, um dos custos mais maleáveis para ser reduzido era da folha salarial.

Entre negociações de acordos com sindicatos para redução de jornada e de salário dos tripulantes e aeroviários, milhares de trabalhadores se viram desempregados, com o contrato de trabalho suspenso temporariamente ou com seu salário reduzido consideravelmente.

Mas, dentre esses profissionais, um subgrupo em especial foi muito afetado e está passando por dificuldades financeiras gravíssimas. É o grupo dos novos pilotos de avião.

Para que uma pessoa se torne um piloto de avião de uma grande empresa aérea é necessário um investimento astronômico, mas investimento esse considerado de rápido retorno assim que o emprego é consumado. Muitos desses profissionais buscam empréstimos para pagarem suas horas de voo e estarem aptos a galgar uma vaga em uma empresa aérea.

Esse caminho, devido ao crescimento registrado no setor aéreo em 2019, foi buscado por muitos profissionais, pois o mercado de emprego no segmento estava bem aquecido e gerando diversas oportunidades e perspectivas.

Agora, esses pilotos estão tendo que arcar, não só com a falta de receita para suprir as necessidades básicas de suas famílias, como também com as dívidas contraídas para chegar até a qualificação necessária para pilotar um jato comercial de uma companhia aérea.

Apoio

Uma nobre instituição britânica, chamada Pilots Together, tem a missão de ajudar esses profissionais a “continuar a pagar empréstimos e contas de treinamento, sem sofrer dificuldades econômicas”, diz o site da instituição, que continua a “certificar que eles não sofram por conta própria, que eles tenham alguém com quem possam conversar”

A instituição, além de prestar apoio financeiro, oferece um suporte de carreira, auxiliando os pilotos britânicos a enfrentar esse período de incertezas. Outro serviço oferecido é o suporte de saúde mental e bem-estar para os pilotos.

Segundo disse à BBC Ian Walker, co-fundador da instituição, os pilotos mais novos enfrentarão “um ‘tsunami’ de dívidas”. Walker ainda relatou, “tivemos mais de 200 pilotos registrados conosco. Mais de 100 desses pilotos podem passar por graves problemas financeiros muito, muito em breve.”

Um grande exemplo do problema revelado pela Pilots Together é a situação de James Atkins-Quilter, 35, um piloto de Gatwick enfrentando uma situação financeira grave causada pela pandemia.

James e sua esposa foram despejados de sua casa quando esperavam o primeiro filho. “Estamos lutando para encontrar dinheiro para o custo de vida, quanto mais para pagar o treinamento de voo.”

O piloto inglês relata também que muitos outros pilotos estão em uma situação semelhante.

Atkins-Quilter, hoje em dia, trabalha como motorista de entrega e acredita na recuperação do segmento para recuperar o emprego dos seus sonhos. “É de partir o coração, mas tivemos que chegar a um acordo e continuar tentando fazer o nosso melhor para superar (a crise)”, disse James.

Claudio Brito
Claudio Brito
Apaixonado por aviação desde o berço como filho de comissário de bordo, realizou o sonho de criança se tornando comissário em 2011 e leva a experiência de quase 10 anos no mercado da aviação. Formado Trainer em Programação Neurolinguística, conseguiu unir suas duas paixões, comunicação e aviação.

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