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De aviões apreendidos até o Embraer 175, conheça a história das asas da Polícia Federal

Nesta última quarta-feira, 8 de dezembro, estivemos no hangar do Comando de Aviação (CAV) da Polícia Federal (PF), a convite desta, no Aeroporto Internacional de Brasília, para a apresentação do primeiro avião Embraer 175 da PF, o maior avião da história de sua frota aérea.

Na ocasião, além da cerimônia de apresentação do jato a autoridades e imprensa, tivemos a oportunidade de um contato com diversas pessoas envolvidas na operação, de forma que pudemos conhecer a evolução da história da utilização de aviões pela Polícia Federal. Ela começou há muito tempo, quando apenas se fazia a incorporação de equipamentos apreendidos, e evoluiu para a efetiva aquisição de aeronaves, para atender com mais eficiência a demandas da corporação.

A seguir, você acompanha um pouco dessa interessante história e, ao final, também algumas imagens da cerimônia e do bonito jato Embraer 175, por dentro e por fora.

As asas da Polícia Federal

Primeiramente, vale ressaltar que a PF possui também alguns helicópteros, as chamadas “aeronaves de asas rotativas”, porém, o foco desta matéria serão as de asas fixas, ou seja, apenas os aviões, em função do importante momento da chegada do Embraer 175 à frota.

A história do uso de aviões pela Polícia Federal começou algumas décadas atrás, por volta dos anos 1980, quando exemplares apreendidos no país por variados motivos, como por uso no tráfico de drogas, eram repassados à PF para usos diversos, como transporte de tropas ou de presos.

Por muitos anos este foi o método de operação, utilizando-se de aviões de porte pequeno e capacidade limitada de transporte e alcance, como os bimotores Seneca ou Carajá, entre outros. Com o passar do tempo, dada a importância das missões da Polícia Federal com deslocamentos aéreos pelo país, houve uma evolução rumo ao início da escolha de aviões para serem efetivamente adquiridos, para atenderem às necessidades e demandas de forma mais específica.

Entram em ação os Grand Caravans

Cessna C208B Grand Caravan da Polícia Federal – Imagem: Guilherme Irber / CC BY-SA 3.0, via Wikimedia Commons

O primeiro modelo de avião a ser adquirido, representando uma importante evolução na capacidade de deslocamento aéreo da PF, foi o versátil turboélice Cessna 208 Grand Caravan. Hoje há dois exemplares, de matrículas PR-AAB e PR-AAC, integrando a frota, e um terceiro avião deste modelo deve se juntar aosoutros dois em breve, porém, neste caso, trata-se de um exemplar vindo de apreensão.

Estes aviões permitem operações em localidades restritas, como aeroportos com pistas em condições precárias, ou até mesmo em pistas não homologadas, até mesmo em missões humanitárias em que a PF disponibiliza seu apoio aéreo. É o caso, por exemplo, da Amazônia, em que muitas comunidades precisam ser atendidas, mas aviões particulares ou de táxi aéreo não podem pousar devido à não homologação das pistas.

O salto para a aviação a jato

Mas, embora os Caravans tenham representado uma evolução significativa, o grande salto operacional ocorreu quando a Polícia Federal se voltou aos jatos regionais. Em 2005, foi adquirido o primeiro Embraer ERJ-145. Antes operado pela companhia Rio Sul com a matrícula PT-SPN, o jato de fabricação brasileira foi adquirido para a frota da Polícia Federal em 2005, entrando em operação em 2006 sob a matrícula PR-DPF.

O modelo, com capacidade para 50 passageiros, passou a permitir grande eficiência no transporte do contingente de policiais para grandes centros nacionais durante missões, de forma bastante rápida, enquanto os turboélices são melhor utilizados para a distribuição regional entre estes centros e as localidades menores.

Um dos dois ERJ-145 que são usados atualmente pela Polícia Federal

Três anos depois, um segundo ERJ-145 foi adquirido. Dessa vez, a aeronave foi a que voou até 2009 para a United Express sob a matrícula N849HK nos Estados Unidos. Operando na Polícia Federal sob a matrícula PR-PFN.

Este segundo jato regional representou mais uma evolução. Apesar de ser do mesmo modelo do anterior, trata-se de uma versão com autonomia estendida, para 4,5 horas de voo ao invés das 3,5 horas do PR-DPF. Com isso, deslocamentos mais longos da PF dentro do Brasil, que antes não eram feitos em voo direto, passaram a ser possíveis.

Assim, o uso dos jatos foi se consolidando cada vez mais na Polícia Federal, já que enviar policiais em voos de empresas aéreas significa lidar com empecilhos significativos. Missões da PF muitas vezes precisam de sigilo até o momento da ação, portanto, reservar dezenas de assentos de última hora em um voo comercial representa um custo muito elevado, além da possível ausência de tantos lugares disponíveis em um mesmo voo e da dificuldade de se embarcar equipamentos, cargas e armas sem uma coordenação prévia de vários dias.

Necessidade de evolução

Mas, embora baratos e tendo um papel relevante na evolução do uso de aviões pela PF, os consagrados jatos regionais da Embraer começaram a apresentar suas limitações.

Uma delas é que o modelo precisa de longas pistas para decolar em sua capacidade máxima de peso, o que o restringe a cerca de apenas 15 aeroportos em nosso país. Até mesmo algumas grandes cidades não comportam uma decolagem do ERJ-145 em peso máximo. Assim, para determinadas localidades, é necessário voar com menos pessoas a bordo ou menos carga embarcada, aumentando o número de idas e vindas do avião.

Outro aspecto é que certas operações da Polícia Federal mobilizam efetivos maiores do que 50 policiais, o que também representa mais voos e o consequente maior custo.

O transporte de detentos representa outra limitação relevante. Mesmo com a autonomia de voo de 3,5 a 4,5 horas, não é possível cumprir as rotas diretas mais longas entre pontos distantes no enorme Brasil. Assim, paradas de reabastecimento representam um risco extra à operação, além de significar um custo adicional em relação a um voo direto.

Por fim, a idade dos ERJ-145 se faz presente, resultando em menor disponibilidade devido a paradas mais longas de manutenção. As revisões são cada vez mais complexas e custosas para as estruturas e componentes da aeronave, e vai se tornando cada vez mais difícil encontrar peças de reposição no mercado. Muitas vezes, um dos ERJ-145 precisa “emprestar” uma peça para o outro, ficando assim fora de operação até se conseguir outra peça para reposição.

A busca pela nova aeronave

Assim, em 2016 a Polícia Federal iniciou o estudo de um novo avião para suprir essas e outras limitações cada vez mais presentes em suas operações. Foram analisados desde o turboélice comercial ATR-72 e o militar Casa C-105 Amazonas até os jatos comerciais Embraer 175, Embraer 190, Boeing 737 e Airbus A320.

Entre os principais fatores de não escolha dos turboélices, destaca-se sua baixa velocidade, que não permite um deslocamento de longo alcance rápido e sem paradas intermediárias.

Como descrito acima, é de grande interesse levar policiais de forma rápida até o local da ação, ou levar detentos sem adicionar o risco de uma escala. Além disso, a Polícia Federal tem um número restrito de tripulantes, portanto, com o voo mais lento, nem sempre seria possível fazer uma missão completa em função do atingimento do limite de jornada.

Por sua vez, entre os jatos a escolha do E175 sobre os demais se deu principalmente devido à versatilidade operacional. O ERJ-145 tem a característica de não precisar de apoio de solo, pois tem um raio de giro bastante pequeno que o permite sair de um pátio limitado sem a necessidade de pushback (empurrar a aeronave para trás com um veículo de solo), além de ter escada própria embutida em sua porta para o embarque e desembarque.

E175 versus ERJ-145

O Embraer 175, mesmo sendo maior, poderá operar com capacidade total em aeroportos com pistas muito menores do que as que atendem ao Embraer 145, mantendo característica semelhante no aspecto de ser capaz de usar pátios sem infraestrutura, o que não seria possível com os outros três modelos maiores de aviões.

Em termos de custos, o novo jato oferece vantagem em relação ao ERJ-145. A previsão de elevação de custo operacional é de 30%, porém, os ganhos estimados são bastante superiores a este valor, cerca de 80%, quando se considera tanto o aumento para 88 assentos ofertados quanto a eficiência de voo. Portanto, a chegada do E175 representa significativo aumento de capacidade, mas com pequeno aumento de custos.

O novo avião também representará maior disponibilidade de voo, já que a previsão é de que suas paradas de manutenção programada durarão cerca de 10 dias, enquanto os ERJ-145 chegam a ficar até 30 dias parados em função de serviços mais demorados e da dificuldade de obtenção de peças citada acima.

O encontro de uma grande oportunidade

Assim, desde 2018 a Polícia Federal havia optado por levar adiante o projeto da nova aeronave, porém, diversas oportunidades analisadas no mercado foram descartadas por conta da inviabilidade financeira da aquisição.

Mas a situação teve uma mudança significativa no ano passado. A pandemia da Covid-19 chegou e afetou profundamente a aviação mundial. Centenas de aviões foram retirados de serviço por conta da falta de demanda por viagens aéreas, e com isso seus preços de mercado despencaram. Surgiu, assim, uma grande oportunidade.

A companhia aérea britânica Flybe fechou as portas e seus aviões foram retomados pelos lessores por falta de pagamento. Fabricados no Brasil e tendo sido financiados pelo BNDES, dois dos jatos E175 da empresa se tornaram uma atraente escolha para retornarem à posse do governo brasileiro para uso pela Polícia Federal.

A um custo de cerca de metade do que valeriam em uma condição normal de mercado, os E-Jets foram confirmados, e então levados para manutenção e pintura na OGMA, a subsidiária da Embraer em Portugal. Após os procedimentos, o primeiro jato finalmente partiu para o Brasil e chegou nesta semana ao hangar do CAV em Brasília. Conforme comentaram os tripulantes que trouxeram o jato, suas qualidades e características de voo são positivamente impressionantes.

O segundo E175 é esperado para o início de 2022. A entrada deles em serviço, porém, ainda depende de definição sobre a instalação da escada na porta das aeronaves. A Embraer produzirá e instalará tais equipamentos, porém, dado seu recesso de final de ano que se aproxima e seu processo de reintegração do negócio de Aviação Comercial ao grupo, haverá uma espera que pode se estender ao longo do primeiro trimestre e além, possivelmente até por volta de abril.

Contudo, na aquisição das aeronaves foi incluído apoio de handling de 6 meses, de forma a, inicialmente, receber apoio de pushback e escada, até que a instalação seja efetivada.

Quanto aos ERJ-145, eles ainda deverão permanecer em uso após a estreia dos Embraer 175, porém, agora sem a sobrecarga de serem o único vetor de transporte rápido de longo alcance da Polícia Federal.

Em termos gerais, além dos dois ERJ-145 e dos três Cessnas Grand Caravan citados acima, a Polícia Federal tem também um Beechcraft Super King Air 350i e seis helicópteros dos modelos Agusta Westland AW139 e Eurocopter AS350 B2 e AS355 N.

A apresentação do 1º Embraer 175 da PF

Como você já pôde conferir ontem aqui no AEROIN, em cerimônia realizada no hangar da Comando de Aviação (CAV), em Brasília, a Polícia Federal celebrou a chegada do primeiro E175.

Agora, trazemos a seguir para você uma galeria com algumas imagens da cerimônia de apresentação, bem como o próprio jato em detalhes, incluindo até a cabine de comando. Acompanhe a seguir:

Imagem: Embraer