Um problema recente de entendimento entre um piloto brasileiro e um controlador de tráfego aéreo de Nova York, em uma frequência do aeroporto John F. Kennedy (JFK), foi parar em um grande canal especializado em reproduzir as comunicações de tráfego aéreo de eventos de acidentes, incidentes ou situações fora do comum.
Esta, por sinal, não é a primeira vez que uma situação entre um piloto brasileiro e um controlador nos Estados Unidos acaba publicada no famoso canal, como pode ser relembrado neste link (ou no título ao final desta matéria).
Desta vez, conforme pode ser acompanhado no player abaixo, o canal VASAviation no YouTube publicou um vídeo que começa com uma mensagem enviada a ele por um piloto estadunidense, que fala sobre a referida situação, registrada no dia 8 de março. O piloto diz o seguinte:
“Olá, eu sou um primeiro-oficial na Republic Airways e nesta manhã, enquanto esperando por nosso portão de desembarque no JFK, nós tivemos sorte o suficiente para estar ouvindo a um grande exemplo do Controle de Solo do Kennedy atormentando pilotos estrangeiros da LATAM tentando descobrir se o seu portão de desembarque estava aberto e se eles estavam liberados para acessar o pátio. São provavelmente cerca de 20 minutos de provação no geral. (Lembrou-me muito da clássica troca entre Air China e Controle de Solo do Kennedy). Eu, na verdade, tive que intervir no rádio para dizer ao controlador de solo que eu tinha ouvido de fato o pátio autorizar o LATAM para o portão de desembarque.”
Após a apresentação do texto acima, o vídeo passa a mostrar as mensagens, com as falas do controlador de tráfego aéreo em cor amarela na legenda, as falas do piloto da LATAM em verde e as falas do piloto da Republic Airways em azul. Acompanhe a seguir:
Como visto na gravação acima, o controlador iniciou perguntando se o voo TAM8180 sabia qual era seu portão e se estava autorizado a acessar o pátio, e o piloto brasileiro respondeu que estava esperando pela definição do portão.
O controlador então reforçou a pergunta sobre eles estarem autorizados a acessar o pátio, e o piloto respondeu “Negativo”.
Sem a definição para a entrada no pátio, o controlador instruiu os pilotos da LATAM a virarem à esquerda na taxiway G, depois virarem à esquerda na pista 4L e então pararem o Boeing 777-300ER antes do cruzamento com a taxiway F.
O piloto apenas confirmou sobre virar à esquerda na G, sem confirmar o restante da instrução.
O controlador logo iniciou as instruções para outro avião, mas o piloto da LATAM respondeu como se as instruções fossem para ele. O controlador avisou que as instruções não eram para ele.
Na sequência, o controlador voltou a questionar os pilotos brasileiros se eles estavam autorizados a entrar no pátio, e novamente a resposta foi “Negativo”. Ele então confirmou para seguirem a instrução de virar à esquerda na G, à esquerda na 4L e aguardar antes da F.
O piloto da LATAM dessa vez respondeu que a instrução seria virar à esquerda na G e à esquerda na B.
O controlador negou, dizendo que não foi isso que ele disse, e repetiu a sequência de instruções para taxiway G, pista 4L e taxiway F.
O piloto, no entanto, voltou a repetir sobre a taxiway G e a taxiway B.
Dessa vez, já claramente incomodado, o controlador afirmou “Você nem mesmo está me escutando, senhor. Se você está conversando com o pátio, para de conversar. Vire à esquerda na G, vire à esquerda na pista 4L, aguarde antes da F”.
O piloto brasileiro respondeu apenas “G e então aguardar antes da F”.
No momento em que o avião virou na taxiway G, o controlador reforçou a instrução: “Vire à esquerda na pista 4L, aguarde antes da F”. O piloto novamente respondeu apenas “aguardar antes da F”, e então o avião virou à esquerda na taxiway B, ao invés de seguir reto e entrar na pista 4L como instruído.
Diante disso, o controlador questionou o porquê de o avião estar na taxiway B se ele havia instruído a entrar na pista 4L. Sem receber resposta dos pilotos, ele chamou mais uma vez o voo TAM8180. Após alguns segundos, o piloto da LATAM respondeu, pedindo para confirmar a informação.
O controlador então respondeu apenas: “Aguarde antes da F, contate o pátio. E você não fez o que eu instruí”.
Após falar com o pátio, o piloto voltou atentar informar ao controlador sobre o portão de desembarque, porém, a resposta do controlador foi: “Eu não tenho ideia do que você está falando, senhor. Aguarde antes da F”. O piloto confirmou a instrução.
O controlador então voltou a solicitar que os pilotos da LATAM falassem com o pátio.
Diante disso, o piloto da Republic Airways entrou na comunicação dizendo “Eu acho que ele está dizendo que a ponte de desembarque não está disponível”, ao que o controlador respondeu “É isso que ele está dizendo? Ok, eu não entendo. Ok, obrigado”.
Após mais um contato com o pátio, o piloto brasileiro voltou a falar com o controlador do solo do JFK, dizendo que o pátio informou que a taxiway H estava liberada, mas não havia ponte de embarque disponível.
O controlador então voltou a questionar se ele estava autorizado a ingressar no pátio. O piloto respondeu como se estivesse recebendo autorização para ingressar no pátio, e o controlador então reforçou que estava lhe fazendo uma pergunta sobre estar liberado a ingressar no pátio:
Controlador: É uma pergunta. Você está autorizado a ingressar?
Piloto: Negativo, senhor. Negativo.
Controlador: Ok, então você não pode ir para o pátio então.
Piloto: Eu falei com o pátio, mas eles confirmaram apenas que a taxiway H está aberta. Isso é tudo.
Controlador: Eu preciso saber, no entanto, quando você chegar lá, você está autorizado a ingressar? Há uma aeronave bloqueando a passagem. Eu quero saber se seu pátio e tudo mais está aberto, senão eu não posso te levar até lá.
Nesse momento, o piloto da Republic Airways voltou a intervir para tentar ajudar, dizendo: “Nós estamos ouvindo e o pátio liberou o TAM pela H para entrar no pátio”.
Com a confirmação sobre a liberação para entrar no pátio, o controlador então instruiu os pilotos da LATAM a virarem à esquerda na taxiway F e à esquerda na taxiway A, e depois da confirmação deles, ele agradeceu ao piloto da Republic Airways.
