É verdade que o avião da Azul não decolou devido a ‘asas congeladas’?

Embraer ERJ-195 semelhante ao envolvido na ocorrência

Com as temperaturas chegando aos dígitos negativos, em um frio histórico que atinge parte do Brasil, informações de que uma aeronave da Azul Linhas Aéreas não teria conseguido decolar, devido a congelamento de suas asas, começaram a circular pelo país.

O caso teria acontecido com um Embraer E195, registrado sob a matrícula PR-AXK, que iria realizar o voo do Aeroporto Internacional Afonso Pena, na grande Curitiba, para o Aeroporto Internacional de Porto Alegre, na manhã de ontem, dia 29 de julho.

O voo regular entre as duas cidades estava programado para sair às 07h00 da manhã, mas teria sido cancelado após não poder decolar porque suas asas estavam congeladas, devido às baixíssimas temperaturas registradas durante o início da quinta-feira.

Mas, afinal, é possível que um avião não consiga decolar por “asas congeladas”?

A resposta é sim. Embora este tipo evento seja pouco comum no Brasil, já que o país dificilmente apresenta ondas de frio dessa magnitude, é extremamente comum em países mais frios de todo o planeta. E acidentes aéreos até já aconteceram devido a pilotos decolarem sem dar importância ao congelamento das asas, conforme você verá nesta matéria.

Mas antes, voltando a Curitiba, conforme dados do Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar), a temperatura média na região ficou entre -1ºC e -2ºC, com sensações térmicas ainda menores em função de ventos, levando à condição de formação de gelo.

Após os passageiros serem acomodados em outro voo, a aeronave em questão permaneceu em solo até próximo das 11h da manhã, quando, segundo dados do RadarBox, pôde realizar um novo voo de Curitiba até Porto Alegre.

Então, isso significa que nos países frios, sempre que um avião enfrenta essa condição adversa, precisa ficar fora de operação por horas?

A resposta para isso é não! Como também veremos nesta matéria, existem procedimentos para resolver essa situação, mas que não existem no Brasil porque este frio é completamente raro por aqui.

Em nota ao AEROIN, a Azul Linha Aéreas confirmou o caso, dizendo:

“A Azul informa que os voos AD4730 (Curitiba-Porto Alegre) e AD4024 (Porto Alegre-Curitiba) foram cancelados na manhã de hoje devido à formação de gelo nas asas da aeronave que cumpriria as operações. Os Clientes receberam toda a assistência necessária, de acordo com a Resolução 400 da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), e foram reacomodados em outros voos da empresa. A companhia lamenta eventuais aborrecimentos ocorridos aos seus Clientes e ressalta que medidas como essas são necessárias para conferir a segurança de suas operações”.

Ainda, conforme informações do Correio do Povo, a Azul Linhas Aéreas irá criar um plano de contingências para minimizar os impactos de novas ondas de frio que possam voltar a acontecer:

“O plano será importantíssimo para mapearmos alternativas em aeroportos que eventualmente sofrerem impactos mais críticos, o que nos proporcionará uma antecipação maior e que permitirá decisões mais assertivas e que impactem o mínimo possível nos voos de nossos clientes”, explicou Bianca Penelas, Gerente do Centro de Controle Operacional da companhia.

O que o gelo nas asas pode causar?

Quando gelo e neve se acumulam no bordo de ataque ou na superfície superior de uma asa, o escoamento do ar pela asa muda, e a sustentação pode diminuir ou até deixar de existir, prejudicando o voo e podendo causar um acidente.

Para países onde o frio extremo e a neve são comuns, existem procedimentos para a retirada de gelo sobre as superfícies das aeronaves, nos quais são usados caminhões especiais que realizam a aplicação de um fluido especial de degelo, tornando possível a decolagem de um avião.

Por sinal, existe até um tempo limite para que o avião decole antes que o gelo ou neve volte a se acumular, de forma que em vários aeroportos a aérea desse procedimento de degelo fica próxima à pista, para que seja curto o tempo de deslocamento de solo entre o degelo e a decolagem.

No Brasil, não existem equipamentos para o degelo, já que isso não é comum no país. Dessa forma, quando acontecem ocorrências como essa, a única alternativa é cancelar o voo e aguardar até que a temperatura aumente e elimine o gelo ou neve.

Abaixo, é possível observar parte do procedimento citado acima, que é realizado pelos caminhões de degelo, ou ‘de-ice’, que esguicham um spray, retirando toda a neve ou gelo nas superfícies especificas da aeronave:

Um acidente recente devido a gelo nas asas

Se alguém achou ruim o cancelamento do voo da Azul em Curitiba, deveria repensar sua opinião e, ao contrário, agradecer aos pilotos e à companhia pela decisão tomada. Isso porque a opção de decolar o jato Embraer 195 com gelo nas asas poderia levar a um acidente parecido com o registrado pouco mais de um ano atrás.

Na ocasião, o piloto de um Fokker 100 da companhia aérea Bek Air, no Cazaquistão, prosseguiu com a decolagem do voo em condições de frio extremo e, sem efetuar o procedimento de degelo, não conseguiu subir mais do que alguns metros sobre o solo devido às asas congeladas.

O avião caiu logo à frente, arrastou-se pelo terreno e colidiu contra estruturas no solo, deixando diversos mortos. Uma câmera de segurança do aeroporto filmou a sequência do acidente, conforme você pode assistir clicando aqui.

Para mais informações sobre como as empresas aéreas trabalham para mitigar o risco do gelo para os aviões, leia nossa matéria clicando no título logo abaixo:

Juliano Gianotto
Juliano Gianotto
Ativo no Plane Spotting e aficionado pelo mundo aeronáutico, com ênfase em aviação militar, atualmente trabalha no ramo de fotografia profissional.

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