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Em incidente, aeronave da Viação Cometa atingiu capivara ao pousar no Aeroporto de Maricá

Imagem: Prefeitura de Maricá

Uma ocorrência de colisão com fauna foi registrada na última semana no Aeródromo Laélio Baptista, em Maricá, cidade no litoral do Rio de Janeiro, durante a operação de um avião bimotor privado.

Conforme apontam dados do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), a colisão, envolvendo uma capivara, foi registrada no final da noite da segunda-feira da semana passada, dia 29 de maio, às 22h59.

O histórico da ocorrência, classificada pelo CENIPA como “Incidente”, indica que o avião, registrado sob a matrícula PR-TLM, decolou do aeroporto Santos Dumont (SBRJ), na cidade do Rio de Janeiro, por volta das 22h25 do horário local, a fim de realizar um voo de translado com destino ao aeródromo de Maricá (SBMI).

O curto voo transcorreu normalmente até o destino, porém, durante o pouso na pista de Maricá, a aeronave colidiu uma hélice com uma capivara.

Segundo dados do Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB), o PR-TLM é um avião bimotor turboélice Beechcraft King Air C90GT de categoria privada, de propriedade e operação da Viação Cometa S.A. Em função do incidente, o RAB indica que o Certificado de Aeronavegabilidade da aeronave está suspenso por motivo de “Aeronave avariada por acidente ou incidente”.

O nível de danos à aeronave é classificado no CENIPA como “Leve”, e as únicas pessoas a bordo, os dois tripulantes, saíram ilesos.

Beechcraft King Air C90GT, semelhante ao envolvido no incidente – Imagem: Steve Lynes / CC BY 2.0, via Flickr

Manejo de fauna em Maricá

Em fevereiro deste ano, a Prefeitura de Maricá informou que a Companhia de Desenvolvimento de Maricá (Codemar) começou um trabalho específico de manejo de fauna para evitar riscos no aeroporto da cidade, em ação realizada diariamente por uma equipe especializada, atenta também à presença de capivaras, jacarés e cachorros domésticos.

“Diversas condições presentes no aeroporto e seu entorno podem favorecer a presença de fauna que, por sua vez, aumenta a probabilidade de sua interação com aeronaves. Para reduzir os riscos dessas colisões é necessário a execução de ações de manejo de fauna, implementação e monitoramento de medidas mitigadoras e preventivas com relação ao risco da fauna no aeroporto”, observou a diretora de operações do Aeroporto de Maricá, Marta Magge.

O serviço de manejo de fauna do aeroporto teve início em 2018, quando os biólogos Christiano Pinheiro e Edicarlos Pralon, membros do Instituto Senai de Tecnologia Química e Meio Ambiente, fizeram um estudo de fauna no local (Identificação do Perigo da Fauna – IPF). Nessa pesquisa, foram identificadas aproximadamente 135 espécies presentes no raio de 20 quilômetros do aeroporto, que abrange, além de Maricá, cidades vizinhas como Niterói, São Gonçalo, Saquarema e Itaboraí.

Segundo o coordenador de Sistema de Gerenciamento de Segurança Operacional (SGSO) do Aeroporto de Maricá, Frederico Ferreira, a partir desse estudo, finalizado em 2021, a equipe realizou ações para atenuar o aparecimento de certas espécies na área do aeroporto, enquanto não começava o trabalho diário dos biólogos no local.

“Aqui, temos uma dificuldade um pouco maior do que em outros aeroportos, devido às características do lugar, que é cercado por rios e lagoas que atraem a fauna. Os animais frequentam ambientes onde têm oferta de abrigo, comida e água. Se tiver as três coisas, estarão presentes. Por isso, antes da chegada da equipe especializada para realizar o trabalho diariamente, já estávamos efetuando algumas medidas como o corte de grama da área, a limpeza do córrego, retirada das carcaças de animais mortos e monitoramento. Quando necessário, afugentamos os animais, ou seja, a nossa equipe espantava os bichos com o veículo de Posto de Coordenação Móvel (PCM) para garantir a segurança dos voos no aeroporto”, pontuou Frederico, naquela ocasião.

Prevenção de acidentes e cuidado com os animais

De acordo com o biólogo Christiano Pinheiro, um dos responsáveis pelo estudo e que faz parte da equipe atual de manejo dessas espécies, o levantamento, de modo geral, foca muito nas aves, pois elas são as maiores responsáveis pelos acidentes.

“Cerca de 96% dos acidentes aéreos acontecem em função da colisão com aves, os outros 4% são devido a outros grupos faunísticos, que nós também temos no Aeroporto de Maricá. A capivara, presente aqui, pode causar um grande acidente aéreo se ela estiver na pista. Então, entre as medidas que estamos estudando propor para serem implementadas de forma mais rápida está a colocação de uma cerca que não atrapalha a aviação, mas que seja efetiva impedindo o acesso desses roedores – o maior roedor do mundo. Além disso, também temos no SBMI presença de jacarés e cachorros domésticos”, explicou Christiano.

O biólogo acrescentou que o trabalho de manejo de fauna realizado por especialistas e pesquisadores da área ajuda a garantir que o serviço seja feito da forma correta, pensando também na proteção e cuidado com as espécies. Para isso, o grupo trabalha técnicas de captura e manejo que são previstas nas normativas federais, estaduais, municipais e da Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinária (CNSPV).

“O manejo da fauna é, justamente, nós conseguirmos enxergar qual é o caminho correto que aquela espécie tem que ter. Em caso de captura, temos que conduzir o animal para que não haja estresse. Para isso, nos baseamos na literatura científica mais atual. Nós também somos cientistas, trabalhamos com publicação, com pesquisa. Além disso, o Inea tem normas que identificam potenciais áreas de soltura desses animais. Caso haja necessidade, os animais passam por avaliação de um médico veterinário”, finalizou o biólogo.

Primeira etapa é criar plano de trabalho

O biólogo especialista em gerenciamento do risco da fauna e membro da equipe de manejo de fauna do Aeroporto de Maricá, Edicarlos Pralon, explicou em fevereiro que, a partir daquele momento, o objetivo seria criar propostas de soluções e realizá-las.

“Nessa primeira etapa, analisamos como está o aeroporto neste momento, já que, mesmo tendo ações para amenizar os riscos, o local ficou um tempo sem gerenciamento de risco com um acompanhamento mais de perto. Então, estamos na fase de criação de um plano de manejo, apresentado para gestão aeroportuária, porque isso envolve custos, então, precisamos ver se é viável, antes de levar para o órgão ambiental. A partir desse momento de debate com a equipe de SGSO, nós construímos o documento mais denso a quatro mãos. Quando esta parte for finalizada, vamos apresentar a proposta ao Instituto Estadual do Ambiente (Inea), para também definirmos o que eles autorizam no momento ou não. Depois disso, vamos colocar as ações em prática”, descreveu Edicarlos.

O biólogo explicou que essa análise é importante, pois cada aeroporto tem uma realidade diferente. “Você pode passar 20 anos em um aeroporto gigante, a nível nacional, achar que sabe tudo e chegar aqui e ter que começar do zero. Por isso, propostas que servem para um, não vão servir, necessariamente, para outro. Dessa forma, é necessário fazer o estudo e, a partir daí, criar protocolos específicos”, finalizou Edicarlos.

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