
As autoridades anticorrupção da França e da Suíça estão investigando um suposto esquema de lavagem de dinheiro que envolve a companhia aérea Plus Ultra, a qual foi resgatada pelo governo espanhol com um aporte de 53 milhões de euros durante a pandemia.
O Escritório do Procurador Nacional Financeiro da França e o Procurador de Genebra solicitaram a colaboração do Ministério Público Anticorrupção da Espanha para avançar com a investigação, segundo o noticiário espanhol.
Segundo documentos judiciais analisados, a rede suspeita opera na França, Suíça e Espanha, possivelmente ligada a fundos “ilícitos” resultantes de atos de desvio cometidos por funcionários públicos na Venezuela. Esses recursos estariam relacionados aos fundos públicos do Comitê Local de Abastecimento e Produção (CLAP) do governo de Nicolás Maduro, além das vendas de ouro do Banco da Venezuela.
A investigação inclui a análise de contratos de empréstimos supostamente firmados entre a Plus Ultra e empresas envolvidas em atividades criminosas ligadas à venda de ouro.
Documentos também fazem referência a um contrato de venda de ouro avaliado em cerca de 30 milhões de euros para uma empresa nos Emirados Árabes Unidos, além de movimentações financeiras para contas em um banco no Panamá. Parte desses contratos supostamente asseguraria os “retornos correspondentes” que a Plus Ultra deveria pagar a contas de empresas envolvidas após receber o auxílio do governo espanhol.
A Procuradoria Anticorrupção considera essas informações elementos indicativos de fraude contra o Estado, motivo pelo qual solicitou que o Tribunal Nacional examinasse a situação, dada a magnitude dos fatos em investigação.
O Tribunal Criminal Nacional destacou que a queixa da Procuradoria menciona apenas de forma “tangencial” a concessão de ajuda pública à Plus Ultra, a qual teria sido utilizada para “o pagamento de novos empréstimos concedidos à empresa por outras companhias na suposta rede criminosa”.
A Plus Ultra, que transporta executivos e diplomatas, também é alvo de uma disputa legal com a Comissão Australiana de Valores Mobiliários (ASIC), que anunciou que processará a companhia e quatro de seus diretores por declarações enganosas sobre a lucratividade da empresa. O tribunal irá decidir se o caso deve ser reaberto, após o arquivamento de um processo anterior no início de 2023.
A Plus Ultra, que recebeu um empréstimo participativo da Panacorp, um banco panamenho, no período anterior à pandemia, viu sua estrutura de posse mudar devido a transações financeiras complexas.
Em um movimento notável, a Panacorp transferiu os direitos de cobrança para a Snip Aviation, que está vinculada a empresários natos da Venezuela, Roberto Reyes e Raif El Arigie Harbie, os quais controlam a maior parte do capital da Plus Ultra.
As ligações do grupo empresarial com figuras influentes, como a vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, levantam questões sobre a conduta ética e as práticas comerciais da Plus Ultra.
O histórico de envolvimentos em polêmicas indica a necessidade de uma maior supervisão sobre as operações da companhia e uma análise mais profunda sobre sua conduta financeira. Novos desdobramentos devem ser revelados na medida em que a investigação avança.