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Engenheiro de voo é uma profissão quase extinta hoje em dia, mas “no início do seu fim”, uma empresa optou por continuar com eles em seu novo jato.
O Boeing 767 e seu “irmão menor”, o 757, foram desenvolvidos em conjunto com objetivo de atender a mercados distintos. No entanto, os cockpits de ambas as aeronaves são praticamente iguais e permitem uma transição rápida para os pilotos habilitados, conceito que depois foi ampliado pela Airbus em toda sua linha.
No entanto, a Boeing, no início dos anos 1980, estava com uma oportunidade de ouro: lançar o primeiro grande jato sem a posição de Engenheiro de Voo, algo inédito.
Quando o 767 começou a ser desenhado e os protótipos produzidos, a FAA, agência americana responsável pela aviação civil local, ainda não tinha dado o aval de exclusão do Engenheiro de Voo, algo que só foi possível com um nível maior de automação das aeronaves.
Here’s a closeup pic.twitter.com/y8v9Qjslln
— Steve Giordano🛫🛬🛫🛬 (@JTTsteve) February 5, 2021
Isso ocorreu só em julho de 1981, quando 30 jatos 767 já tinham sido construídos e faltavam 11 meses para a primeira entrega. Sem a certeza do fim da função do Engenheiro, a Boeing decidiu construir estas primeiras unidades com o equipamento do Engenheiro de Voo e depois iria retirá-los, caso as companhias desejassem. O painel padrão foi mantido em muitos aviões e pode ser visto na imagem acima.
E assim foi feito, visando reduzir custos e após fechar acordo com os sindicatos para a não-demissão imediata dos engenheiros (que seriam treinados para virarem pilotos), a United Airlines, TWA, Delta Airlines, Air Canada e outras, optaram por voar o 767 com apenas dois tripulantes.
Down Under
Acontece que a Ansett Australia acabou indo na contramão de todo o mundo. Segundo o portal TravelUpdate, a decisão foi tomada por Peter Abels, presidente da companhia. Nunca foi clara a decisão dele, mas ele teria garantido a todos os seus Engenheiros de Voo que eles não seriam demitidos.
A maioria das informações disponíveis apontam que a Ansett não queria desafiar os sindicatos, o que aconteceu nos EUA, onde as companhias aéreas ganharam a batalha após garantir o remanejamento para a posição de piloto. Então, assim foi feito, e a Ansett operou de 1983 até 1995 com os engenheiros de voo na cabine do Boeing 767, sendo a única no mundo a fazer isso.
Inclusive, boatos surgiram na época de que ela queria que os Airbus A320 tivessem a posição, mas que a Airbus nunca considerou isso já que não era parte da filosofia da empresa e nem do projeto original.
Em 1991, a revista Financial Review, da Austrália, estimou que o custo para manter esses engenheiros de voo na equipe, que eram apenas oito ao todo, dado o número reduzido de aviões 767 que a empresa tinha (apenas 5), era de $70 mil dólares australianos por ano na época.
O valor atual desta operação, corrigido à inflação, é de $137 mil dólares australianos, ou R$564 mil reais por ano. Isto fez com que, em 1995, a empresa pedisse para a Boeing desfazer a instalação da posição de Engenheiro de Voo, já que outros aviões 767 usados posteriormente adquiridos, já vinham com cabine para dois pilotos apenas e então houve a deixa para padronizar a frota, segundo matéria do FlightGlobal.
O histórico e raro vídeo abaixo mostra praticamente o voo completo entre Melbourne e Sydney, operado pela Ansett em 1987 num Boeing 767 com engenheiro de voo:
No Brasil, apenas uma companhia aérea opera hoje um avião que precise deste profissional, e nós tivemos a oportunidade de conhecer um destes engenheiros: